Peru | Contra a Covid-19, o capitalismo e seu fracasso
Por Partido dos Trabalhadores – Uníos, seção da UIT-QI no Perú
Não levaram a sério a segunda onda da pandemia. O governo de Vizcarra jogou a crise sobre a classe trabalhadora e impulsionou, junto com a CONFIEP e entidades empresariais, uma criminosa reativação econômica neoliberal com o objetivo de “voltar à normalidade”. O governo de Sagasti continuou essa mesma política, mas a realidade o obrigou a retroceder e, diante do rápido crescimento de contágios e mortes pela Covid-19, não restou outra alternativa que voltar à uma quarentena capenga que não quer e nem pode se sustentar, e que usam somente para reprimir o povo enquanto os contágios seguem crescendo.
A medida para fazer frente à segunda onda não somente chegou tarde, mas também encontrou o sistema sanitário nas mesmas condições da primeira onda: fragmentado, privatizado e propositalmente debilitado. Como resultado, uma vintena de hospitais se comunicavam incapazes de atender mais pacientes por falta de leitos de UTI e oxigênio. A crise do oxigênio evidencia que uma economia “capitalista de mercado” é incompatível com o direito à saúde da população. No entanto, o governo destinou 60 bilhões de soles para reativar a decadente “economia de mercado”, enquanto que para o sistema público de saúde se destinou somente 1/3 desse valor.
As vacinas chegadas ao país são muito importantes, mas insuficientes, uma vez que os grandes laboratórios farmacêuticos as patenteiam e depois as produzem como mercadoria com o objetivo de obter lucros e não de salvar vidas. E todos os governos são cúmplices desses negócios imperialistas ao calar e fechar contratos milionários com corruptas “cláusulas de confidencialidade” e de impunidade a favor dessas transnacionais.
A frágil, parcial, e a conta gotas campanha de vacinação também se viu afetada por uma razoável desconfiança da população, em parte alimentada pela ineficiência e a falta de transparência do próprio governo, e pelas mentiras de Vizcarra que se vacinou às escondidas em um tenebroso acordo com os funcionários chineses, usando vacinas que deveriam ir para a linha de frente onde se encontram médicos e enfermeiras. Isso motivou a renúncia de Mazzetti do Ministério da Saúde, sendo substituído por Óscar Ugarte, o responsável por monopolizar o mercado de oxigênio como Ministro da Saúde no segundo governo aprista (2006-2011), sendo uma substituição para que nada mude.
Fica evidente que os responsáveis políticos pelo colapsado sistema sanitário são os diversos governos neoliberais, que a economia capitalista de mercado é incompatível com o direito à saúde e à vida da população e que as vacinas devem ser produzidas para salvar vidas e não como mercadoria para enriquecer algumas transnacionais. O capitalismo somente poderia frear a pandemia sacrificando milhões de vidas, sendo as dos mais pobres em primeiro lugar. Isso é o que estão provocando os governos com as duas pandemias, a da Covid-19 e a da barbárie capitalista.
Neste cenário brutal ocorre a hipócrita campanha eleitoral, onde os discursos de todos os candidatos e candidatas giram entorno de como salvar a putrefata economia capitalista em um contexto de pandemia e uma enorme crise do regime de representação burguesa. Assim nos demonstra as últimas pesquisas que colocam Forsyth em primeiro lugar com 11%, seguido por Lescano com 10%, Mendoza e a senhora “K” com 8%, Urresti com 7%, assim como Guzmán e De Soto com 4%. Ou seja, prevalece a desconfiança e o repúdio por toda a “classe política”.
A CONFIEP aposta por uma candidatura que não mude nada de fundo, mas seus candidatos não contam com respaldo popular. Os outsiders poderiam continuar o mesmo programa econômico neoliberal, mas nada lhes garante que as circunstâncias e as ruas não os obrigue a tomar medidas populistas. O fujimorismo ficou muito queimado e suas bases mais conservadoras vão com o ultraconservador Rafael López, o Bolsonaro peruano. A esquerda reformista de Mendoza, Arana ou Castillo, ao invés de radicalizarem com a situação, correm para o “centro”, e até Mendoza anuncia que seu governo seria “aliado dos empresários”.
Muitas candidaturas, mas nenhuma é opção para a classe trabalhadora. Por isso, chamamos o povo trabalhador a virar as costas para todos os candidatos, anulando o voto e aprofundando as lutas concretas para acabar, por exemplo, com a suspensão perfeita dos trabalhos. Também por isso continua aberta a tarefa de construir uma alternativa que verdadeiramente represente os interesses do povo trabalhador e suas justas aspirações de viver em uma sociedade que coloque em primeiro lugar a saúde, a educação e o emprego digno, sem exploração, com remuneração e pensões justas, que defenda o meio ambiente e ofereça justiça e segurança para nossos idosos e crianças, mulheres, povos andinos e amazônicos, assim como para as minorias étnicas e sexuais. Isso somente poderia ser conquistado a partir de um governo dos trabalhadores, que planifique democraticamente a nossa economia para colocá-la a serviço do país e das urgentes necessidades do povo.
Acreditamos que essa alternativa necessária é o Partido dos Trabalhadores – Uníos (PTU), que construímos ao calor das lutas da classe trabalhadora e aposta por uma mudança de fundo: com um programa anticapitalista que, no imediato, levante uma campanha internacional para democratizar a produção e distribuição de vacinas contra a Covid-19, suspendendo já as patentes médicas. Chega de fazer das vacinas mercadorias! E que lute por um sistema de saúde 100% público e gratuito. A saúde não é um negócio! Por um sistema público, gratuito e 100% estatal de educação. Educação não é mercadoria! Pela eliminação da terceirização do trabalho e os CAS. Abaixo a exploração do trabalhador! Pela anulação de todos os privilégios tributários e contratos lesivos para o país e que beneficiam as grandes empresas. Pelo não pagamento da fraudulenta dívida externa. Por uma assembleia constituinte livre e soberana que abarque estas e outras propostas, assim como por um governo dos trabalhadores que as coloque em prática até suas últimas consequências.