As tarefas da CSP-Conlutas em meio à crise nacional

Contribuição da Combate Sindical à Coordenação Nacional de nossa Central

O Brasil chefiado por Bolsonaro está à beira do colapso. Vivemos uma profunda crise no país nos mais variados aspectos. A pandemia já ceifou mais de 260 mil vidas e voltamos a uma média diária de mais de mil mortes. A vacinação anda a passos de tartaruga enquanto Bolsonaro e Pazuello fazem de tudo para atrasá-la ainda mais. A crise social se aprofunda, com desemprego recorde. A fome bate à porta de milhões de brasileiros, sobretudo após o governo decretar o fim do auxílio emergencial. A inflação corrói os salários dos trabalhadores formais e precariza ainda mais a vida dos informais. O povo luta por sua sobrevivência.

As lutas ainda são moleculares, mas a indignação com o governo aumenta. As carreatas que se desenvolveram desde o final do ano passado foram importantes e devem continuar. Os operários da Ford resistem bravamente e lutam pelos seus empregos. A jornada de lutas no Banco do Brasil no dia 10 de fevereiro envolveu um setor importante da base, paralisando centenas de agências pelo país e, momentaneamente, garantiu a manutenção da gratificação dos caixas após decisão judicial. As educadoras enfrentam a política genocida dos governos estaduais e municipais e promovem greves sanitárias contra a abertura das escolas e, em alguns estados como o Rio de Janeiro, começam a reivindicar salários e batalhar junto a terceirizados em luta. Os garis retomam a campanha salarial. Os servidores federais realizaram plenárias virtuais para debater os impactos da PEC emergencial e administrativa.

Em meio ao caos instaurado pela classe dominante e pelo governo da extrema-direita, quais as tarefas da CSP-Conlutas? Como nos fortalecer enquanto alternativa de direção?

Faz falta um pólo de oposição no país

Infelizmente hoje não temos no país um forte pólo de oposição ao governo da extrema-direita. A política do PT e do PCdoB é responsável por essa situação. Vimos isso recentemente no parlamento, onde esses partidos votaram no neoliberal privatista Baleia Rossi para comandar a Câmara dos Deputados e fecharam com o candidato apoiado por Bolsonaro, Rodrigo Pacheco, para comandar o Senado.

Todo o foco desses partidos é se mostrarem “viáveis” e “bem adestrados” para procurar setores da burguesia para uma frente em 2022. O exemplo emblemático vem da declaração do PT e de Haddad sobre a possibilidade de uma unidade com Luíza Trajano, multimilionária dona da Magazine Luiza, para as próximas eleições. Há que se lembrar que essa representante da classe dominante é uma das principais interessadas na privatização dos Correios.

Qual o papel das maiores centrais sindicais na atual conjuntura?

A paralisia tem sido a marca das principais centrais sindicais em meio ao caos do país. Seu eixo é negociar com a patronal e os governos a retirada de direitos dos trabalhadores, com uma política de “redução de danos” que, na verdade, mascara que os direitos estão sendo entregues sem luta. A CUT e a CTB, vinculadas ao PT e PCdoB respectivamente, vem cumprindo esse papel. O exemplo da Ford é bastante emblemático, onde as principais centrais não fazem absolutamente nada para tirar a luta operária do isolamento. Também na luta contra a PEC Emergencial, a Reforma Administrativa e as privatizações não vemos um empenho efetivo para barrar esses projetos.

No que diz respeito às lutas nas ruas, argumentam que a pandemia impede de fazer atos presenciais e se limitam a lives e tuítes criticando a política dos governos. O máximo que ocorreu foram as carreatas. Sem dúvidas essas medidas são importantes, mas completamente insuficientes para barrar os ataques de Bolsonaro e dos governadores.

No 8 de março, que nos últimos anos cumpriu um papel fundamental de acelerar a conjuntura das lutas e de enfrentamento às políticas de ajuste e machistas dos governos, as maiores centrais e os maiores partidos de oposição impõe uma política restrita à virtualidade que, como dissemos, está muito aquém do necessário para defender nossos direitos. Uma contradição para parlamentares da oposição que para se elegerem fizeram intensa campanha eleitoral nas ruas, todos os dias, e até mesmo comícios presenciais.

Temos visto ao redor do mundo que o contrário dessa política é o que dá certo. Nos EUA o levante negro após o assassinato de George Floyd mostrou um caminho diferente. A luta no Chile pela libertação dos presos políticos do governo também. Recentemente na Catalunha a juventude está há mais de uma semana massivamente nas ruas contra a prisão do rapper Pablo Hasél. Obviamente não é nem um pouco fácil lutar nas ruas em meio à pandemia. Preferíamos estar todos em casa, com salários garantidos, estabilidade no emprego, esperando o caos passar. Porém a realidade é muito distante dessa. A luta deve ser desenvolvida, apesar dessa difícil situação. Para defender nossa vida teremos de tentar organizar nossa classe unificadamente para buscar construir atos, greves e paralisações. E nisso nossa central pode batalhar com mais intensidade.

Por exemplo, em setores como o serviço público federal, devido representatividade do ANDES-SN e o peso de grupos da Central nas direções majoritárias do SINASEFE e FASUBRA, seria possível construir uma luta efetiva contra a PEC Emergencial e da Reformar Administrativa e por vacina, salário, emprego, por lockdown de verdade com auxílio emergencial e licença remunerada. Organizar paralisações do trabalho remoto, atos simbólicos presenciais tomando todos os cuidados sanitários, distribuindo máscaras e álcool gel para a população.

Alguns problemas de nossa Central que precisamos avaliar

Em algumas categorias, agrupamentos vão por um caminho que em nossa visão não é mais adequado para construir uma direção classista e combativa. Um exemplo é a recente divisão de chapas da central no sindicato dos operários da construção civil do Ceará, onde existem duas chapas da CSP-CONLUTAS, uma encabeçada pela Resistência e outra pelo PSTU. Os agrupamentos conseguem se unir a correntes que não são da Central (o PCB/Unidade Classista no caso da chapa 1 e a DS/PT – CUT no caso da chapa 2), mas são incapazes de fazer uma convenção de base da CSP-CONLUTAS ou uma chapa unitária. Outro exemplo é do SEPE-RJ, onde a central não consegue atuar de forma unificada contra a política da direção majoritária de não apostar nas mobilizações e calendários mais ofensivos por vacina e salário.

No setor de bancários, já há um certo tempo, os militantes da Resistência/PSOL realizam uma tática de chapas comuns com a direção majoritária da Contraf, a Articulação/CNB-PT o que, em nossa visão, não é adequado. Infelizmente, os companheiros bancários do PSTU acabam de fechar uma chapa com a Articulação em Bancários do Rio. Uma burocracia que há anos entrega direitos e trai a luta dessa categoria. O manifesto assinado pelos militantes da CSP-Conlutas nessa categoria coloca explicitamente que “Essa UNIDADE sirva de inspiração para toda a militância em todos os cantos do país”. Não nos parece que a política da central deve ser transformar essa tática em um exemplo. Nada na atual política da direção majoritária da Contraf (Articulação/CNB-PT) justifica essa tática nesse momento e nada indica que hoje essa unidade serve para nossa central se postular como alternativa de direção, o que é a grande necessidade da nossa classe. Ao mesmo tempo, o argumento de que isso tem que ocorrer por conta dos ataques e necessidade de unidade de ação não é correto.

A unidade na luta é fundamental e nossa central batalha por ela corretamente. O problema aqui é outro: se batalhamos para construir uma direção alternativa para nossa classe ou não. E nesses três exemplos entendemos que não vamos por esse caminho. E dizemos isso porque é fundamental que nos fóruns da Contraf-CUT, nos sindicatos da educação e nos fóruns da CNTE-CUT, nos fóruns unitários dos operários da construção civil, exista uma forte corrente sindical da CSP-CONLUTAS como oposição intransigente aos pelegos e aos burocratas imobilistas da Articulação/CNB-PT, assim como está sendo feito na chapa da CSP-Conlutas nos Correios do Rio de Janeiro.

A tática é unidade e enfrentamento com a burocracia sindical postulando a CSP-Conlutas como alternativa

Estamos em um momento em que a unidade com outras centrais é fundamental para organizar a luta da nossa classe. Porém, devido a política que tem tido as centrais majoritárias, temos que discutir qual política deve ter nossa central perante essa paralisia. Na nossa opinião, é fundamental exigir que rompam sua paralisia e coloquem a classe em movimento. “Que a CUT e a CTB organizem uma jornada nacional de lutas”. “Que as centrais sindicais organizem um dia de atos nos estados em apoio aos operários da Ford”. As palavras de ordem podem ser as mais variadas. Mas sem pressionar igualmente por cima e por baixo, essas centrais não vão se mover ou vão lançar calendários dispersos para descomprimir a pressão das bases e tentar justificar a linha imobilista. Sua estratégia é esperar 2022. Por isso temos de combinar as propostas e ações unitárias com as exigências e denúncias dos pelegos. Lembremos que mal passamos da metade do governo Bolsonaro e uma série de ataques virão ainda contra nossa classe.

Combinar isso com a ampla agitação em defesa da vacina para todos, da exigência da quebra das patentes para que o país possa produzir mais vacinas e que possamos superar a pandemia o mais rápido possível. Além disso, defender os salários, a estabilidade no emprego, a estatização sob controle dos trabalhadores das fábricas que estão fechando é uma importante necessidade. Sem dúvida alguma ganha peso enquanto redigimos esse texto a luta por um efetivo lockdown com auxílio emergencial e licença remunerada, bem como batalhas por escalas alternativas, afastamento de companheiros de grupo de risco e reivindicações por medidas sanitárias adequadas nas categorias.

03/03/21

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *