Que conclusões tirar das eleições no Congresso Nacional?

 

Babá – dirigente nacional da CST

Denis Melo – Executiva Municipal do PSOL Rio

 

Nessa última semana, a Câmara dos Deputados e o Senado Federal elegeram seus presidentes. Os candidatos de Bolsonaro venceram nas duas casas, mostrando o enorme descompasso que existe entre o estado de ânimo da população em geral e os parlamentares. Bolsonaro ganha maioria no Congresso num dos momentos de mais baixa popularidade de seu governo e em meio a uma crise que afeta sua imagem envolvendo o enfrentamento à pandemia, o auxílio emergencial e a falta de vacina.

A vitória folgada que Bolsonaro teve na Câmara mostra também o quão deslocalizada da realidade estava quase a metade da bancada do PSOL, encabeçada pelos parlamentares do MES e por Marcelo Freixo. Não só não existia um “bloco democrático” com setores da burguesia tradicional contra o “fascismo”, como nem as supostas manobras para que o governo Bolsonaro não ficasse com a presidência das comissões mais importantes se demonstrou correto.

O lançamento da candidatura de Erundina, centrando na anulação da Reforma da Previdência, da Reforma Trabalhista e suspensão da Reforma Administrativa e contra as Privatizações, foi uma correta posição, ainda que discordássemos da votação do PSOL e sua bancada de um possível voto em Baleia Rossi (DEM), candidato indicado por Rodrigo Maia, caso houvesse um segundo turno.

Com nuances na bancada do PSOL entre voto no primeiro ou no segundo turno, ou mesmo a decisão de PT e PCdoB de embarcar no “campo democrático” com a burguesia tradicional brasileira, resultava de um enorme erro político, que diluía as principais reivindicações da classe trabalhadora, em troca de migalhas que “mudavam pouca coisa, para não mudar nada”.

 

Mesmo assim, por que fracassou o bloco encabeçado por Rodrigo Maia?

Nos textos de polêmica, em que dirigentes do MES justificavam sua posição de compor o bloco com a direita clássica, diminuíam a importância e centralidade do ajuste fiscal, da Reforma Administrativa e das Privatizações. Porém, a movimentação dos parlamentares do DEM e de outros Partidos da direita em direção ao candidato bolsonarista, demonstra que o fator mais importante para a burguesia nesse momento é terminar de aplicar um profundo ataque econômico. Enquanto Bolsonaro conseguir aplicar esse plano, terá apoio da burguesia nacional e internacional, seja ela tradicional ou de extrema direita.

A maior prova do erro na análise dos camaradas do MES e de Marcelo Freixo foi que nem mesmo o DEM, partido do Rodrigo Maia, votou em Baleia Rossi. Tampouco havia ilusões ou expectativas em setores avançados no movimento de massas, que justificasse tamanha adaptação às regras mais sujas desse regime político podre.

 

O que fazer?

Nesse momento, a vacinação geral, a defesa dos empregos, da renda e dos direitos da classe trabalhadora são os temas mais sentidos e os que devemos centrar nossa atenção.

Naturalmente, o “andar de cima” do regime político: o parlamento e o judiciário, não cumprirão papel progressivo, ao contrário, serão mais um obstáculo.

Para organizar a resistência nas ruas é preciso utilizar o prestígio eleitoral dos parlamentares do PSOL, dos sindicatos combativos e da CONLUTAS, para fortalecer as lutas que vão se desenvolvendo, exigindo das centrais que unifiquem as mobilizações e os calendários, ao mesmo tempo batalhando por um polo de independência de classe, denunciando fortemente o Congresso e o STF pela cooperação que fazem com a extrema direita e com a direita que governam o país.

 

Qual a tradição dos socialistas no Parlamento?

O socialismo revolucionário tem uma longa tradição sobre como intervir no parlamento burguês. Essa tradição está consolidada desde o Congresso da III Internacional Comunista.

Aproveitar o espaço parlamentar para fazer denúncia permanente dessa falsa democracia e seus mecanismos de reciclagem; apostar na mobilização de rua e vincular a atividade parlamentar a essa estratégia permanente de mobilização; não se diluir em campos burgueses no parlamento.

Chama atenção a posição dos camaradas do MES. Seu principal dirigente político chegou a afirmar que, não fosse a presidência de Rodrigo Maia, não haveria auxílio emergencial de R$ 600, superestimando o papel da oposição de direita ao governo Bolsonaro. Além do que, omite o fato de que foi Rodrigo Maia o comandante no congresso, da aprovação da Reforma da Previdência que tantos males está causando para a classe trabalhadora.

Infelizmente, a classe trabalhadora é induzida por seus representantes políticos e sindicais, que estão sempre dispostos a fazer acordos com a burguesia, com promessa de facilidades. Porém, na tradição dos socialistas revolucionários, nossa classe faz unidade com a única condição de que sirva para fortalecer a mobilização independente dos trabalhadores. Nada fora disso nos serve e, sem combater as pressões parlamentares, até outrora ditos marxistas convictos como Kautsky da socialdemocracia alemã se degeneraram. Nossa estratégia é pôr abaixo esse regime político e não servir como a ala de uma falsa esquerda dele.

(originalmente publicado no jornal Combate Socialista 122)

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