“Infelizmente, existe esse movimento feminista”, diz Robinho condenado por estupro
Mulheres da CST/PSOL
As recentes transcrições de interceptações telefônicas do jogador Robinho, chocaram o país. As gravações, realizadas com autorização da justiça Italiana, mostraram que o jogador participou do estupro coletivo de uma jovem de origem albanesa, em janeiro de 2013, quando ele jogava no Milan.
Em novembro de 2017, o Tribunal de Milão condenou Robinho a 9 anos de prisão por participar, com outros cinco homens, de violência sexual. No interrogatório ele havia declarado que manteve relação consensual com a jovem.
Para a Justiça italiana, as conversas são “auto acusatório”. As escutas exibem um diálogo entre o jogador e o músico Ricardo Falco, que tocou naquela noite na boate.
Robinho: A polícia não pode dizer nada, eu direi que estava com você e depois fui para casa.
Jairo: – Mas você também transou com a mulher?
Robinho: – Não, eu tentei. (NOME DE AMIGO 1), (NOME DE AMIGO 2), (NOME DE AMIGO 3)…
Jairo: – Eu te vi quando colocava o pênis dentro da boca dela.
Robinho: – Isso não significa transar.
Governo Bolsonaro: ímã de agressores de mulheres
Diante da repercussão, Robinho deu uma entrevista ao UOL Esporte em que declarou que seu “único erro foi ter traído” a esposa, e seguiu: “infelizmente, existe esse movimento feminista”. Como se não fosse suficiente o jogador atacou as mulheres trans e travestis dizendo que “muitas mulheres às vezes não são nem mulheres”.
Para amigos, ele enviou mensagens via whatsapp em que se dizia perseguido pela Rede Globo e se comparou a Jair Bolsonaro nas eleições. Após muita pressão de patrocinadores (Philco, Brahma e Orthopride romperam com o time) e torcedores, o Santos anunciou que o acordo fechado com Robinho foi suspenso em comum acordo, no dia 16.
Não é de hoje que esse Governo atrai machistas e agressores de mulheres. Antes das intensas crises atingirem o Governo, Bolsonaro recebeu o apoio de Alexandre Frota, que declarou em cadeia nacional que violentou uma mãe de santo e Marco Feliciano, que assediou a jornalista Patrícia Lélis.
Ainda quando era Deputado, ele chegou a ofender a Deputada Maria do Rosário, declarando que não a estuprava porque ela “não merece”. Além de reivindicar o Coronel Brilhante Ustra, famoso por torturar mulheres, inclusive na frente de seus filhos durante a ditadura militar.
Apesar do aumento do feminicídio e dos altos índices de violência contra mulheres durante a pandemia, o que coloca o Brasil em 5º lugar entre os países que mais matam mulheres, o governo de Jair Bolsonaro zerou os repasses ao programa Casa da Mulher Brasileira, que presta atendimento humanizado e assistência integral às mulheres em situação de violência. Ele também declarou que enquanto for Presidente o aborto não será legalizado.
A Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos (MDH) Damares Alves, atacou sistematicamente as trabalhadoras, apoiando todas medidas de Bolsonaro como a Reforma da Previdência.
Ela tentou ainda sancionar o dito projeto “Bolsa Estupro”, valor pago à mulheres vítimas de violência sexual que engravidaram. Recentemente, uma representação foi apresentada à PGR para que apurassem a ligação de Damares com os vazamentos dos dados da menina de 10 anos que engravidou após anos de abuso sexual, no Espírito Santo. Damares chegou a defender que a educação sexual nas escolas inclua a abstinência sexual como política.
Bolsonaro tenta dar uma resposta aos casos de violência sexual, com a castração química. Essa política, está longe de conseguir resolver o problema que tem sua origem no sistema patriarcal, e na cultura do estupro.
Prisão para estupradores e educação sexual nas escolas já!
O caso do jogador Robinho desnuda toda violência que nós mulheres somos vítimas. Não é a primeira vez que acontecem aberrações como essas no mundo do futebol . Lembremos os casos de Jean, goleiro do SP, que agrediu a esposa com socos. Na época ela postou um vídeo no Instagram com o rosto deformado, pedindo ajuda e exigindo justiça. Com a repercussão o São Paulo o demitiu, mas ele foi logo contratado pelo Atlético Go.
Também é impossível esquecer o brutal caso do assassinato de Eliza Samúdio cometido pelo goleiro Bruno que, mesmo condenado a 20 anos de prisão, conseguiu contrato com o Poços de Caldas Futebol Clube, do sul de Minas, e posteriormente com o Rio Branco Football Club, do Acre.
Em todos os casos se tentou livrar a cara dos jogadores, revelando o profundo machismo internalizado no futebol. Da mesma forma, Robinho já recebeu solidariedade por parte de outros jogadores. Nenhum clube deveria contratá-lo!
Robinho deveria estar preso na Itália cumprindo sua pena. Ele tenta escapar da situação ficando no Brasil, adulando o presidente e se aproveitando que com dinheiro, pode recorrer em liberdade. Em casos como esse não podemos titubear: é necessário prisão para Robinho e todos estupradores! As declarações gravadas deixam explícitas a hipocrisia do jogador, e a violência que cometeu contra a jovem.Porém a prisão não é suficiente para revertermos a situação brutal que vivemos.
É necessário que seja aprovado urgentemente uma política de educação sexual nas escolas, para além de combater a violência e os abusos sexuais contra crianças, se combata também o machismo e a objetificação das mulheres. A mídia deve atuar como parte ativa desse processo, com propagandas e programas que combatam a cultura do estupro e a violência machista.
Para isso, é fundamental liberarmos as verbas públicas para o combate a violência contra mulheres, e a única forma disso ocorrer é derrubando a EC95 (Teto de gastos) e com a suspensão e auditoria da Dívida Pública.
As mulheres somente conseguiremos nossos direitos organizadas, com luta e mobilização. Neste sentido é necessário que os movimentos feministas organizem, desde agora, uma jornada de luta e mobilização unitária com atos nas ruas para o dia 25 de novembro, dia de combate à violência de gênero.
Lugar de estuprador é na cadeia, não como ídolo do futebol.