O sindicalismo combativo deve defender assembleias presenciais para decidir greves

Caio Dorsa e Daniela Possebon – Metroviários e cipistas da Linha Verde, militantes da CST 


Os metroviários de São Paulo viveram uma das primeiras experiências de campanha salarial em meio à pandemia, o que colocou restrições nas atividades presenciais e levantou o debate sobre qual o melhor e mais democrático método de organização das lutas dos trabalhadores. Utilizando a necessidade de distanciamento social, a maioria da direção do sindicato (CTB/CUT) implantou o método de enquetes on-line com perguntas pré-definidas pela diretoria do sindicato.

Entendemos que as enquetes ou assembleias virtuais podem cumprir o papel de realizar consultas à categoria durante a pandemia. Porém, numa greve que está diretamente associada à mobilização, acreditamos que o espaço de decisão presencial é insubstituível. E em qualquer caso, nas propostas centrais, deve haver democracia para as posições divergentes se expressarem, sem que os grupos majoritários das diretorias dos sindicatos pré-determinem as propostas a serem submetidas à base.

As enquetes on-line foram usadas para desmobilizar

O Governo Doria e a direção do Metrô desde o começo tiveram uma postura intransigente nas reuniões de negociação para arrancar os direitos conquistados pela categoria. Não consideravam nenhuma proposta a não ser a deles e romperam definitivamente as negociações no dia 30/06, quando cortaram os salários dos metroviários, brutalidade nunca vista. Por isso, nós do Combate Sindical defendemos a necessidade da greve desde o dia 01/07 para enfrentar a destruição do acordo coletivo. A maioria da direção do sindicato (CTB/CUT) defendia esticar uma negociação que não existia mais, jogando expectativas na MP 936 e na “boa vontade” do judiciário, dizendo que uma greve seria “suicídio”. As enquetes on-line ajudaram as seguidas tentativas de desmonte da greve.

Por exemplo, na enquete do dia 30/06, a direção majoritária (CTB/CUT) junto com o Chega de Sufoco (Resistência, Povo Sem Medo) e, infelizmente, a direção do PSTU defenderam adiar a greve do dia 01/07. Na diretoria do sindicato, votou-se como seria a formulação da proposta da minoria, que dizia que não existia mais negociação e por isso tínhamos que ir para a greve no dia 1°. Entretanto, a nossa proposta sofreu uma alteração para dar a entender que ainda estávamos negociando e adiar a greve para o dia 8. Um método extremamente antidemocrático.

No dia 07/07, quando a proposta de suspender a greve e votar apenas “estado de greve” feita pela CTB/CUT era minoria na diretoria do sindicato, eles puderam formular sua proposta e jogaram confusão em parte da base que achava que estava votando um novo adiamento e não a suspensão. No dia 14/07, o enunciado deu a entender que tinha sido reaberta a negociação para levar a votar na proposta da CTB/CUT, Chega de Sufoco e UP, que falava em “Concluir as negociações” e adiar a greve do dia 21 para o dia 28. Por fim, na madrugada do dia 28/07, foi uma enquete surpresa, com boa parte dos trabalhadores do turno da manhã dormindo, que possibilitou o desmonte relâmpago de uma greve fortíssima que tinha sido votada no final da tarde.

As enquetes on-line foram um instrumento privilegiado da política de desmonte e desmobilização. Por isso, nós do Combate (CST e independentes) fizemos o debate de que era preciso organizar assembleias presenciais para decisões de greves, com todos os cuidados de prevenção à COVID-19 e cadastro do pessoal de grupo de risco, que está afastado, para votar e participar virtualmente, podendo manter consultas on-line para outras decisões.

Defender as assembleias presenciais para as deliberações sobre os temas mais importantes

Apesar de estarmos praticamente sozinhos na diretoria, fizemos 20% dos votos na base quando colocamos em votação que as assembleias decisivas deveriam ser presenciais, com possibilidade de votação on-line exclusiva para os grupos de risco. Infelizmente, os companheiros da maioria do PSTU, MRT e UP chamaram voto na proposta de manutenção das enquetes virtuais para deflagrar ou não greves, o que diminuiu nossa votação.

Defendemos assembleias presenciais para organizar greves porque são um forte instrumento de mobilização e luta coletiva, ao contrário das enquetes on-line que favorecem a desmobilização e o individualismo, tudo o que as burocracias sindicais precisam para desmontar as lutas. Mesmo assim, a vontade de luta da categoria era forte e se manteve. Apesar dos constantes adiamentos, o anúncio do corte de mais 10% do salário, que é fruto das vacilações da direção do sindicato, explodiu e obrigou o conjunto da diretoria a defender a greve para o dia 28. Mas o debate sobre os métodos de organizar as lutas segue em curso e o que aconteceu no Metrô foi um importante aprendizado para aqueles que defendem um sindicalismo combativo, que apostam na mobilização como principal método de obter conquistas para a classe trabalhadora.

*Artigo originalmente publicado no jornal combate socialista, versão digital n°5

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