É preciso combater a direção pelega da CUT, CTB, Força e UGT: Um debate com os camaradas do PSTU
Babá e Michel Tunes, dirigentes da CST
Estamos em meio a uma pandemia que cresce e uma crise econômica e social que se aprofunda. A novidade é que começam a surgir protestos que buscam enfrentar essa situação. Nesses processos, fica explícito o papel pelego das cúpulas da CUT, CTB, Força Sindical e sua política que tenta bloquear a ação direta das massas. Por isso, é importante a ação unificada das organizações revolucionárias e do sindicalismo combativo da CSP-Conlutas. Nesse sentido gostaríamos de debater com os camaradas do PSTU, com quem estamos ombro a ombro em inúmeras lutas, a necessidade de lutar contra a cúpula pelega das centrais sindicais oficiais.
É necessário lutar contra os pelegos da cúpula da CUT, CTB, Força Sindical e UGT
No jornal Opinião Socialista, n°594, os camaradas da direção do PSTU afirmam a importância das lutas em defesa do emprego, pela redução da jornada sem redução dos salários, além da defesa das estatais e pela quarentena de verdade. Ao mesmo tempo, insistem na batalha contra a conciliação de classes do PT e a proposta de Frente Ampla (https://www.pstu.org.br/editorial-organizar-a-bronca/). Concordamos completamente. Mas para batalhar por esses objetivos é preciso enfrentar um forte inimigo: a burocracia sindical. Os pelegos que controlam as cúpulas da CUT, CTB, Força Sindical e UGT são obstáculos para esse enfrentamento, já que não convocaram o Breque dos Apps e nem unificaram as campanhas salariais de correios, petroleiro e bancários, além de terem buscado de todas as formas atrasar a greve do Metrô em SP.
A política de frente ampla eleitoral se manifesta nas lutas e não apenas no terreno político-eleitoral. Por isso, não basta denunciar apenas os partidos e sua linha política sem baixar à terra o combate a essas direções quando elas estão à frente dos Sindicatos, Federações e Centrais. É preciso denunciar os pelegos, dando “nomes aos bois”, pois eles são cúmplices na aplicação do ajuste e na flexibilização do isolamento social.
Nesse ponto, acreditamos que os camaradas do PSTU têm um déficit, não fazem uma campanha sistemática de exigências e denúncias concretas às cúpulas da CUT, CTB, Força e UGT. Em nossas batalhas comuns com os camaradas do PSTU, ombro a ombro em inúmeros lugares, e no marco comum da CSP-Conlutas, estamos sempre fazendo esse debate, enfatizando a necessidade de uma batalha frontal contra os pelegos das cúpulas das Centrais. Porém, a ausência de combate às direções pelegas da CUT, CTB, Força Sindical e UGT é marcante no Opinião Socialista, tanto na edição atual quanto nas anteriores. Trata-se da política do PSTU expressa em seu órgão oficial.
A batalha contra as direções pelegas da cúpula da CUT, CTB, Força, UGT é fundamental para tentar desenvolver as lutas e buscar fortalecer os ativistas que estão à frente das manifestações, integrando CIPAS e comissões de base, batalhando para construir nossa combativa Central, a CSP-Conlutas, visando uma nova direção para a classe trabalhadora.
O calendário do dia 10/07 das Centrais é um exemplo do que falamos
No Opinião Socialista n° 593, antes do dia 10/07, afirma-se que “É tarefa de todo ativista construir um forte dia 10 de julho, com mobilização de norte a sul do país, com assembleias nos locais de trabalho, atraso de entrada e paralisação onde for possível […] Vamos colocar a imaginação para funcionar e organizar também nossos protestos nas ocupações, na periferia, e terminar o dia com um megapanelaço” (https://www.pstu.org.br/editorial-vamos-a-luta/). Não houve nenhuma exigência às cúpulas das centrais para que efetivassem a data em suas categorias. É como se a data existisse e bastasse “colocar a imaginação pra funcionar”. Porém, as direções da CUT, CTB, Força Sindical, UGT vinham se negando a organizar dias de luta unificados, como por exemplo os atos antifascistas e antirracistas. E vêm impulsionando acordos com os patrões para retirar os direitos dos trabalhadores, como a MP 936. Na mesma semana, estava fazendo de tudo para boicotar a luta dos metroviários de São Paulo.
No Opinião Socialista n° 594, após o dia 10, os camaradas afirmam que “O PSTU valorizou a unidade em torno da campanha pelo “Fora Bolsonaro”, que definiu a jornada de 10, 11 e 12 de julho. Seus militantes estiveram, junto com a CSP-Conlutas, à frente das mobilizações que existiram de norte a sul. Atividades vitoriosas, mas que poderiam ter sido bem mais fortes se os demais setores tivessem se jogado para construí-las”. Sem dúvida, a unidade das centrais para lutar é uma necessidade e devemos insistir nisso. Por isso, toda a militância da CSP-Conlutas construiu o dia 10, mas o fato é que ele não foi construído pelas maiores centrais e sindicatos do país. Eles marcaram um “dia nacional de lutas” e não fizeram praticamente nada. Por isso não caberia apenas uma leve diferenciação formal com a frase “poderia ter sido bem mais forte”. E mesmo assim nem sequer se menciona quem seriam esses “demais setores”. Como afirmamos em nossa contribuição à reunião da CSP-Conlutas “Nem CUT, nem CTB, nem Força Sindical convocaram uma ação digna de nota para esse dia. Eles marcam a data, não convocam nada, para depois mentir dizendo que “os trabalhadores não querem se mobilizar”. E em seguida fazem discursos sobre a onda conservadora para justificar sua política eleitoreira de “frente ampla” com uma política burguesa” (https://www.cstuit.com/home/index.php/ 2020/07/24/contribuicao-da-corrente-sindical-combate-a-coordenacao-nacional-da-csp-conlutas/).
Por fim, os camaradas do PSTU afirmam que “Foi definido um novo dia nacional de luta: 7 de agosto. Vamos nos empenhar na sua construção e devemos cobrar que as demais entidades e movimentos também se empenhem” (https://www.pstu.org.br/editorial-organizar-a-bronca/). Logicamente, temos de nos jogar ofensivamente na construção do dia 7 e combinar com uma forte exigência de que as grandes Centrais concretizem as ações que elas prometem fazer. Ou seja. Não é apenas uma frase protocolar de que “as demais entidades e movimentos se empenhem”. Devemos construir ofensivamente o dia 7 ao mesmo tempo que exigimos plano concretos dos atrasos de 100 minutos e efetivação da convocação de assembleias, plenárias e os atos, exigindo que ponham em prática seu próprio calendário.
A tática para a burocracia sindical é unidade-enfrentamento
Desejamos aprofundar esse debate com os camaradas do PSTU, uma organização revolucionária que reivindica o legado da IV internacional e provém da corrente trotskista encabeçada por Nahuel Moreno. Devemos continuar defendendo a mais ampla unidade de ação com todas as centrais, sindicatos, todos os movimentos, todos os partidos. Unidade na luta, passeatas, greves e manifestações sem abandonar nossas críticas e denúncias. Porém, nesses casos, nos armamos com a tática de unidade-enfrentamento (ampla unidade de ação para mobilizar as massas ao mesmo tempo que denunciamos e fazemos exigências aos pelegos visando desmascará-los). Precisamos utilizar essa munição do arsenal do trotskismo ortodoxo.
A antiga Convergência Socialista, na época da LIT-QI dos anos 1980, popularizou em seus cadernos de formação, o documento “Conceitos Políticos Básicos”. Nele os autores, Nahuel Moreno e Mercedes Petit, explicam essa tática: “Nosso ponto de partida para definir qualquer tática unitária é o interesse da luta, da mobilização pelas necessidades mais prementes dos trabalhadores […] No mesmo sentido, é bom esclarecer que nós nunca apoiamos uma direção burguesa, pequeno-burguesa ou operária traidora, reformista ou burocrática, mesmo quando estivermos taticamente unidos numa luta. Nós somente apoiamos as lutas, as mobilizações, sejam dirigidas por quem quer que seja. A essas direções […] as denunciamos sempre e, dialética e contraditoriamente, o momento que mais as denunciamos é quando estamos unidos taticamente a elas, porque é o momento da mobilização. Isso é assim porque a mobilização é a única forma de derrotar essas direções burocráticas e abrir caminho para uma nova direção […] Por um lado, para ajudar a ação e a mobilização, fazemos todo tipo de acordos e nos parece extraordinário que intervenham todas as forças operárias, mesmo que sejam organizações stalinistas ou burocráticas […] Porém, esses acordos têm que estar sempre combinados, têm que ser parte de uma estratégia de delimitação de classe e de enfrentamento com essas direções”.
Essa é uma forma correta de tentar penetrar nas bases dos pelegos, batalhando para que eles convoquem as lutas e ao mesmo tempo nos diferenciando. Batalhamos para fortalecer o polo revolucionário para que na mobilização se comprove a política contrarrevolucionária das direções pelegas.
Não podemos ignorar as direções pelegas
O problema que identificamos é mais grave porque no Opinião Socialista é como se as Centrais Sindicais não existissem. No jornal Opinião Socialista n° 592, afirma-se que “Precisamos organizar um dia nacional de luta, com atos, assembleias nos locais de trabalho (paralisando onde for possível), “dia do luto”, panelaços, enfim, tudo o que for possível fazer, massificando os protestos ao máximo. Um dia de luta que aponte para uma greve geral contra o governo, em defesa dos empregos, dos salários e da renda” (https://www.pstu.org.br/editorial-deboche-e-hipocrisia/). As edições n° 591 e 590 do Opinião Socialista vão no mesmo sentido. Antes da pandemia, consultando as edições impressas do Opinião Socialista chegamos aos mesmos resultados (edições de 578 a 585). É como se a luta dependesse de cada ativista ou como se os organismos tradicionais do movimento operário não fossem importantes.
Existem fortes pressões oriundas do aparelho sindical, que pressionam todos os partidos revolucionários a abrandar suas posições e a funcionar por “consensos” dentro dos sindicatos. A corrente trotskista ortodoxa sempre batalhou contra as direções burocráticas e nela estão as armas para combater essas pressões que nos afetam. Como nos lembra Nahuel Moreno “nossos partidos não podem traçar uma política para a classe operária e para ganhar a vanguarda sem traçar uma política para os sindicatos, os partidos comunistas, os socialdemocratas, os comitês de fábrica. Não dizendo somente que não se pode ignorar as organizações reformistas e burocráticas, como também que temos de destruí-las […] um dos nossos principais objetivos, senão o principal, é varrer as direções e partidos oportunistas da direção do movimento operário” (Partido e a Revolução; pág. 256, Editora Sundermann). Não podemos ignorar as direções que dirigem as entidades do movimento operário e popular. Devemos manter uma batalha contra todas elas, sempre.
(Artigo originalmente publicado no jornal Combate Socialista, edição digital, n°5)