BOLÍVIA | O FMI “recomenda” desvalorizar a moeda boliviana
por Alternativa Revolucionária do Povo Trabalhador (ARPT), no Partido dos Trabalhadores
A atual mandatária boliviana Jeanine Añez e candidata à presidência pela aliança Juntos, o candidato pela aliança Creemos Luis Fernando Camacho, o candidato Carlos Mesa pela Comunidad Ciudadana (CC) e Luis Arce Catacora pelo MAS concordam todos com essa política do FMI em favor do agronegócio e de empresas transnacionais, acatando a desvalorização da moeda e realizando um desastre econômico contra o povo trabalhador.
Lutar por um plano operário, camponês e popular para reativar a produção e recuperar os recursos naturais, para que sejam a oligarquia e as empresas transnacionais as que paguem pela crise.
Em 30 de maio, diversos jornais informaram que o FMI e o governo boliviano concordaram em uma “mudança gradual no câmbio” após a pandemia. No dia seguinte, o Banco Central da Bolívia garantiu que não será mudado o câmbio e que “há um erro de tradução”. Tudo isso por um empréstimo de 327 milhões de dólares que o FMI concedeu à Bolívia… Mas a verdade é que eles estão discutindo como descarregar a crise nas costas do povo trabalhador boliviano.
Luis Arce, ex-ministro da Economia do Evo Morales e agora candidato à presidência do MAS, alertou neste sábado que, através do empréstimo de 327 milhões de dólares feito pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o governo de Jeanine Áñez se comprometeu com esta entidade à redução do déficit fiscal e flexibilizar a taxa de câmbio logo após a pandemia de coronavírus diminuir.
Para além da acusação feita pelo MAS e da pouco clara desmentida do governo, a verdade é que, no comunicado de imprensa divulgado em inglês pelo FMI, há uma “recomendação” para “equilibrar” a economia boliviana. A recomendação nada mais é do que tirar dos trabalhadores uma boa parte de sua renda, a fim de pagar a dívida pública (não apenas os 327 milhões de dólares que o FMI empresta, mas os 12 a 18 bilhões que a Bolívia deve) e garantir ao mesmo tempo os lucros dos grandes capitalistas, especialmente as empresas transnacionais de petróleo e mineração e o lucro das oligarquias do agronegócio, em grande parte de origem estrangeira. A desvalorização da moeda é um procedimento veloz para conseguir isso e não é questionado pelo governo, nem por Luis Arce, nem por Mesa nem por Camacho.
Por esse motivo, enquanto estão tomando esse crédito nem Arce, nem o governo, nem nenhum dos candidatos mencionados nesta matéria dizem que o país tem compromissos de pagamento para este ano por 822 milhões de dólares (ou seja, quase o triplo do valor deste novo empréstimo). A informação sobre a dívida pública, a maior parte contraída sob os 14 anos do governo do MAS, segue bastante oculta e todos sabemos que grande parte foi gasta em preços supervalorizados em obras públicas e, em alguns casos, também em obras inúteis (campos de futebol, estádios em lugares quase despovoados, o Palácio do Governo, o prédio da Unasur, o Museu da Revolução Democrática e Cultural na cidade de Orinoca, etc.) Esses créditos foram fornecidos pelos mesmos bancos imperialistas como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), do Banco Mundial e de bancos chineses.
A desvalorização da moeda é um golpe contra o povo
Os efeitos da desvalorização dependem das outras medidas complementares a ser tomadas, embora qualquer desvalorização atinja primeiro o poder de compra dos salários, porque implica o aumento imediato de todos os produtos importados. Somente se a desvalorização for acompanhada de um aumento proporcional nos salários, seu efeito não seria descarregado nas costas do povo trabalhador, porque ainda conservaria o seu poder de compra.
Como é sabido na Bolívia, estamos importando grande parte dos produtos de consumo como celulares e eletrônicos, roupas, automóveis e todas suas autopeças, máquinas e peças industriais e parte dos alimentos, também gasolina e diesel (subsidiados pelo Estado, quer dizer que hoje é pago a um preço inferior ao seu valor no exterior, embora esse valor agora tenha diminuído no mercado mundial).
Isso significa que todos aqueles que vivem de um salário ou aqueles que vendem os seus produtos aos trabalhadores assalariados como é o caso dos pequenos produtores camponeses, verão seu poder de compra diminuir. Quer dizer, com a mesma quantidade de dinheiro poderão ser compradas muito menos coisas.
Em vez disso, os exportadores mantêm sua renda em dólares com queda nos custos internos em salários e aumento do lucro devido à exportação da grande mineração, o agronegócio e o narcotráfico. Em outras palavras, será um golpe muito maior do que o aumento no preço da gasolina, promovido pelo MAS no final de 2010 e derrotado pelo povo trabalhador.
O MAS defende a estabilidade econômica?
Essa é outra mentira de Luis Arce Catacora. Foi ele, como ministro da Economia do governo de Evo Morales, quem endividou o país sem conseguir uma industrialização real, nem fortalecer a produção camponesa. Grande parte dessa dívida foi fraudulenta, contraída com base em enormes valores superfaturados para obras públicas e, em alguns casos, em obras inúteis. Quer dizer, preparou o terreno para uma crise que está chegando agora e que viria mesmo sem o grande desastre do coronavírus.
O MAS não propõe uma solução definitiva, de fundo, nem propõe acabar com o domínio da oligarquia, nem com os saques das empresas transnacionais, nem mesmo agora que poderia fazê-lo através de leis, já que ele tem o controle do Congresso Nacional, nem como um plano do governo. É por isso também que, se o MAS continua a respaldar os lucros capitalistas para governar, deverá aprovar uma desvalorização quase inevitável da moeda boliviana, como aconselha o FMI.
Por um plano operário, popular e camponês para reativar a produção e recuperar os recursos naturais, tendo como meta que oligarquias e empresas transnacionais sejam as que paguem pela crise.
As medidas não devem castigar o povo, portanto devem ser suprimidas as importações de luxo como carros particulares novos e produtos que produzimos ou podemos produzir na Bolívia como alimentos, roupas, materiais de construção, etc.
Isso é inteiramente possível com um plano de revitalização econômica, implantando indústrias de necessidades básicas controladas pelos trabalhadores e implementar a REVOLUÇÃO AGRÁRIA, expropriando as terras do latifúndio e apoiando a produção camponesa de alimentos saudáveis. Também é preciso entregar à produção coletiva a elaboração de alimentos e produtos de necessidades básicas para o povo com apoio do Estado.
Além do mais, é preciso NACIONALIZAR E EXPROPRIAR SEM PAGAMENTOS ÀS EMPRESAS TRANSNACIONAIS PETROLÍFERAS como Repsol, Petrobrás, Total e as grandes mineradoras como a Sumitomo, para alocar sua produção de acordo com um plano para necessidades internas, industrializando minerais e hidrocarbonetos, e exportação do excedente.