Em defesa de Hugo Blanco
Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI)
Tradução: Lucas Schlabendorff
Em defesa de Hugo Blanco, sua luta e trajetória, contra a censura do documentário “Hugo Blanco, Rio Profundo”
Em junho de 2020 estreou o documentário “Hugo Blanco, Rio Profundo”, onde se relata a luta dos camponeses de Cusco, marcada na vida de Hugo Blanco Galdos, um líder socialista que foi dirigente do trotskismo peruano. Na década de 60 foi parte da organização e da resistência dos camponeses contra o abuso dos latifundiários, o servilismo da polícia e o desprezo da aristocracia contra os indígenas e camponeses.
Durante a década de 60, Hugo Blanco, ou Hugucha, se transformou rapidamente em dirigente dos novos e pujantes sindicatos camponeses que eram o motor de uma tremenda rebelião camponesa em luta pela reforma agrária e outros direitos básicos. O levante camponês e popular não recuou quando um latifundiário da fazenda de Qayara, ao não encontrar um dirigente camponês, usou a arma do policial que o acompanhava e atirou em um menino de 12 anos que se negava a dar a localização do dirigente. Esse fato inaceitável se somou à repressão sistemática dos Gamonales e da polícia em toda La Convención e Lares que já ocorria, e a assembleia de vários sindicatos camponeses aprovou encarregar Hugo Blanco de ir à delegacia junto a outros camponeses para apresentar a denúncia, ação que terminaria em um enfrentamento com a polícia e a consequente rebelião camponesa que – de fato – iniciou o processo de reforma agrária, uma reivindicação pelo direito à terra e para deixar para trás a opressão latifundiária.
O significado desse fato histórico, caluniado pela direita reacionária e ocultado pela esquerda estalinista, foi pouco estudado em nosso país. O documentário, ainda que com várias limitações políticas, nos convida a fazer uma reflexão nacional que, os setores da direita mais retrógrada, o alto escalão militar, representantes do pior autoritarismo que atormentou o país e antigos representantes do Opus Dei, negam ao povo peruano, atacando o dito documentário, acusando falsamente Hugo Blanco de terrorista e assassino.
Repudiamos veementemente essas acusações que já foram descartadas pela história e pelas lutas do povo peruano. Repudiamos esse novo ataque da mesma maneira que em 1963 repudiamos a sentença de um Tribunal Militar que condenou com a pena de morte o Hugo Blanco. Sentença que foi derrotada depois de uma enorme campanha de solidariedade internacional que obrigou o Estado burguês a mudar a pena para 25 anos de prisão, e após isso, na década de 70, foi conquistada sua anistia definitiva, mas ao se negar a apoiar a ditadura militar, foi expulso do país.
Com o declínio da ditadura militar, Hugo Blanco volta ao Peru como a figura da esquerda socialista mais importante do país, sendo o mais votado na Assembleia Constituinte de 1979 e ocupando uma cadeira como deputado no Congresso da República (1980-1985) e representante dos trabalhadores, camponeses e indígenas junto ao nosso companheiro Enrique Fernández Chacón.
As experiência de luta, a criação dos sindicatos camponeses, a enorme rebelião camponesa e a trajetória de Hugo Blanco deixou um grande ensinamento para as presentes e as futuras gerações, e servem de inspiração para as organizações sindicais, sociais e políticas na luta por um mundo melhor, sem opressão e nem exploração. Defendemos esse legado histórico por considerá-lo parte da inapagável identidade da luta do povo peruano por seus direitos e que nós também reivindicamos.
Nós do UNIOS, na Frente Ampla (Peru), e da Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI) chamamos as organizações democráticas, sociais e políticas do Peru e do mundo para repudiar toda censura contra o documentário que estreou recentemente, para garantir a livre expressão democrática de suas autoras e autores, assim como também condenar como falsas, maliciosas e absurdas as acusações feitas contra o líder do movimento camponês, e prestar a maior solidariedade e respaldo a Hugo Blanco e à luta camponesa.
Assinam:
Jorge Corzo e Taylor Rojas, pelo UNIOS na Frente Ampla – Peru
Miguel Sorans e Silvia Santos, dirigentes da Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI)
Miguel Lamas e Simón Rodríguez Porras, do conselho de redação da Revista Correspondência Internacional
Argentina: Juan Carlos Giordano, deputado nacional eleito do Izquierda Socialista (IS) na Frente de Izquierda y los Trabajadores – Unidad (FIT-U) da Província de Buenos Aires; Mônica Schlotthauer, delegada ferroviária da linha Sarmiento e deputada nacional eleita do IS/FIT; Liliana Olivero, ex-deputada por Córdoba do IS/FIT; Laura Marrone, ex-legisladora de Buenos Aires, IS-FIT
Bolívia: Humberto Balderrama, membro da ARTP e da Direção Nacional do Partido dos Trabalhadores
Brasil: João Batista Araújo “Babá, vereador do Rio de Janeiro pela CST – PSOL; Michel Tunes, dirigente da Corrente Socialista de Trabalhadoras e Trabalhadores (CST), tendência do PSOL.
Chile: Rainier Rios e Jonathan Rios, dirigentes do MST (Movimento Socialista dos Trabalhadores)
Estado espanhol: Josep Lluis del Alcázar, delegado sindical da educação pública e dirigente do Luta Internacionalista (LI) e M. Esther del Alcázar, delegada sindical da educação pública, dirigente do LI
Panamá: Priscilla Vásquez, dirigente nacional dos trabalhadores do Seguro Social do Panamá; Virgilio Arauz, dirigente do Proposta Socialista
México: Enrique Gómez e Francisco Retama, dirigentes do Movimento ao Socialismo (MAS)
Turquia: Oktay Çelik, presidente do Partido da Democracia Operária (IDP); Atakan Çiftçi, delegado do Sindicato dos Trabalhadores de Educação e de Ciência; Gorkem Duru, dirigente do IDP
Venezuela: Orlando Chirino e Miguel Ángel Hernández, dirigentes do Partido Socialismo e Liberdade (PSL); José Bodas, Secretário Geral da Federação de Trabalhadores Petroleiros (FUTPV)
República Dominicana: Henry Morel, jornalista e militante do Movimento Socialista dos Trabalhadores (MST)