O Exército Vermelho toma Berlim: 75 anos do fim da segunda guerra mundial
Escrito por Francisco Moreira
militante de Izquierda Socialista
seção da UIT-QI na Argentina
Tradução Lucas Schlabendorff
No dia 2 de maio de 1945 os nazistas se renderam na capital alemã. A derrota nazista representou o triunfo revolucionário e democrático mais colossal da história da humanidade. Se abriu uma nova etapa de ascenso revolucionário onde ainda segue vigente a tarefa de construir uma direção revolucionária.
Em março de 1939 os exércitos de Hitler invadiram a Checoslováquia. Em setembro adentraram a Polônia. Uma semana antes, a condução burocrática da União Soviética, com Stálin à cabeça, havia facilitado o avanço nazista ao firmar um aberrante e escandaloso pacto de “paz e ajuda mútua” com Hitler, com quem se repartiu a Polônia.
Trotsky, que vinha denunciando desde a ascensão do nazismo na Alemanha em 1933 a perspectiva de uma nova guerra imperialista, qualificou o pacto germano-soviético como “uma capitulação de Stálin ao imperialismo fascista com o fim de resguardar a oligarquia soviética”. Denunciava que o fascismo e o nazismo tinham por objetivo impor regimes de superexploração nos países conquistados e apagar do mapa a União Soviética onde, apesar da ditadura burocrática, se mantinham as bases socialistas do grande triunfo revolucionário de 1917.
Em junho de 1941, efetivamente, começou a Operação Barbarossa, a invasão nazista à União Soviética. A confiança de Stálin no seu pacto com Hitler e a desorganização do Exército Vermelho, com suas principais lideranças expurgadas pela burocracia estalinista em sua intenção de varrer toda a oposição “trotskista”, não permitiram a resistência à máquina de guerra nazista. Em dezembro já haviam ocupado a Lituânia, Bielorrússia, Ucrânia e chegado até às portas de Moscou, ocupando Stalingrado e sitiando Leningrado. Em 1942 grande parte da Europa e um terço da União Soviética haviam caído nas garras do nazismo e do fascismo.
A batalha de Stalingrado, rumo à derrota do nazismo
Apesar das terríveis penúrias vividas, o povo soviético conseguiu recuperar-se e colocar novamente de pé o Exército Vermelho. Após o desastre inicial, se colocaram à frente do exército os generais soviéticos mais capacitados, como Zukhov, Rokossovski e Chuikov. Stálin se autointitulou “chefe de defesa”. Assim começava a “Grande Guerra Patriótica” dos povos soviéticos.
Em combates ferozes e, apesar dos contínuos desastres provocados pela burocracia, o Exército Vermelho foi recuperando terreno e fazendo os nazistas retrocederem. Em fevereiro de 1943 aconteceu a primeira grande vitória soviética, a rendição dos nazistas que ocupavam Stalingrado, o que mudou o curso da guerra. Foi o princípio do fim do nazismo.
O triunfo em Stalingrado devolveu aos povos ocupados a esperança de que era possível derrotar os nazistas. Os movimentos da resistência se fortaleceram em todas as partes. Na Polônia se levantou o Gueto de Varsóvia em abril de 1943 e toda a cidade em agosto de 1944, apesar de ter sido abandonada por ordem de Stálin. Os maquis franceses, os partisanos italianos (cujo hino de resistência era a famosa Bella Ciao) e as guerrilhas iugoslavas e gregas foram se fortalecendo. Em junho de 1944 ingleses e estadunidenses desembarcaram na Normandia, na França ainda ocupada pelos nazistas. Em agosto a resistência libertou Paris.
A batalha de Berlim
Em 12 de janeiro de 1945 o Exército Vermelho entrou no território alemão. Com um avanço esmagador, no dia 14 de abril chegou aos arredores de Berlim. Dois dias depois começaria a batalha final da guerra na Europa.
Os nazistas organizaram duas linhas de defesa para defender a cidade sitiada. Prepararam barricadas e centenas de búnqueres. Com lança-granadas enfrentaram o avanço dos tanques do Exército Vermelho. O custo para os soviéticos foi altíssimo. Só nessa batalha tiveram quase 80 mil mortos e mais de 270 mil feridos.
A ação final se deu pelo controle do Reichstag (Parlamento), que era o edifício mais alto do centro da cidade e cuja captura tinha um valor simbólico. Na tarde do dia 30 de abril soldados soviéticos conseguiram tomar o edifício e fizeram tremular a bandeira vermelha. Nessas horas Hitler, que havia tentado seguir dando ordens do seu búnquer, se suicidou. Dois dias antes, na Itália, o fascista Mussolini havia sido capturado e fuzilado pelos partisanos.
No dia 2 de maio o comandante encarregado da defesa de Berlim assinou a rendição diante dos generais soviéticos. No dia 8 de maio se realizou uma cerimônia com a presença de generais ingleses, franceses e estadunidenses que, junto com Zhukov, fizeram uma ata com a definitiva rendição do alto escalão alemão. A guerra havia terminado, deixando para trás mais de cinquenta milhões de mortos, dos quais vinte e dois milhões eram soviéticos.
Uma nova etapa revolucionária
O triunfo dos povos soviéticos e europeus, iniciado na batalha de Stalingrado e consolidado com a tomada de Berlim, abriu uma nova etapa de enorme ascenso das massas à nível mundial. O dirigente trotskista argentino Nahuel Moreno insistiu nas suas elaborações de que a derrota do nazismo havia iniciado uma nova etapa revolucionária mundial. Desde o fim da guerra “o proletariado e as massas do mundo inteiro obtém uma série de triunfos espetaculares. O primeiro é a derrota do exército nazista, ou seja, da contrarrevolução imperialista, por parte do Exército Vermelho, ainda que isso fortaleça conjunturalmente o estalinismo, que é quem dirige a URSS”.
Efetivamente, desde então, as massas populares protagonizaram numerosas revoluções triunfantes conquistando a independência de dezenas de colônias e até a expropriação da burguesia em um terço do planeta, em países como Iugoslávia, China, Cuba e Vietnã.
Mas durante essa etapa também saíram fortalecidas direções burocráticas do movimento operário e de massas. Stálin, por exemplo, utilizou sua renovada autoridade para rechaçar a extensão da revolução socialista e impor pactos com governos imperialistas para a reconstrução capitalista da Europa. O Partido Comunista soviético impôs o desarmamento dos maquis franceses e partisanos italianos para construir governos de unidade com os partidos burgueses desses países. Também permitiram o esmagamento da guerrilha grega nas mãos dos britânicos. Depois da morte de Stálin, outros aparatos e dirigentes estalinistas ou nacionalistas burgueses continuaram com essa política.
Essas experiências deixam um duplo ensinamento para o século 21. Em primeiro lugar que, como demonstra o triunfo sobre o nazismo, os povos podem conquistar enormes triunfos ainda que com dirigentes burocráticos e traidores, cujo maior expoente foi Stálin. Mas também que a tarefa mais difícil e necessária segue sendo a de construir uma nova direção revolucionária para acabar definitivamente com a contrarrevolução imperialista, em qualquer uma de suas variantes, e com todo o domínio capitalista mundial.
Pesquisa fotográfica
Lucas Schlabendorff, Randy Lobato
Leia também:
28 de abril de 1945: há 75 anos, Mussolini era fuzilado pelos partisanos