ARGENTINA | aonde vai a renegociação da dívida?
Escreve José Castillo, economista e militante do Izquierda Socialista, seção argentina da Unidade Internacional de Trabalhadoras e Trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI). Traduzido por: Caio Sepúlveda e Ivana Furtado
O governo acaba de apresentar oficialmente, em Nova York, a oferta de negociação. Dos 66 bilhões de dólares em debate com os abutres privados se reduziram, no máximo, 30 bilhões e isso ainda está em discussão. Inclusive a data de “fechamento” da negociação, 8 de maio, também não está totalmente decidida.
Independente de como terminar esse capítulo, não é verdade que com isso “se resolveu o tema da dívida externa”. Porque o que supostamente “devemos” chega a 400 bilhões de dólares. E além dessa dívida “em dólares, sob legislação estrangeira” permanece um outro tanto “sob legislação local”. Tirando os detalhes técnicos, há algo claro. Os credores são praticamente os mesmos: especuladores internacionais, consórcios de agiotas que são o pior do capital financeiro internacional. E, como se tudo isso fosse pouco, permanece também a dívida com o FMI: os 49 bilhões (entre capital e juros) tomados durante os dois últimos anos da era Macri e utilizados em sua totalidade para financiar a fuga de capitais dos amigos do ex-presidente.
Temos que contar ainda as dívidas das províncias e a dívida do Banco Central, que é um ótimo negócio para o super lucro dos bancos que operam no nosso país – os mesmos que cobram taxas ambiciosas, se negam a dar crédito popular e utilizam o próprio dinheiro que foi dado pelo banco Central para especular com o dólar, fazendo-o subir. E podemos continuar: temos a dívida com o Clube de Paris, com o banco Mundial e um longo etc. Trata-se de uma bola de neve que aumenta ao infinito. Uma dívida que, nunca nos esqueçamos, é ilegítima, já que sua origem está na ditadura genocida. É ilegal, como demonstrou há quase vinte anos o juiz Ballesteros em uma decisão brilhante. E é absolutamente imoral, porque prioriza os exploradores parasitas mais do que a vida do povo trabalhador.
O concreto é que cada vencimento da dívida é menos dinheiro para respiradores, hospitais, salários de trabalhadores da saúde, equipamentos de proteção, alimentação ou verba para os que ficaram sem renda. Assim, somente desde que o atual governo assumiu, já foram 4,5 bilhões de dólares.
Alberto Fernández, quando apresentou a proposta de renegociação, afirmou que a Argentina “não pode pagar nada” no momento. Se é assim, deve-se passar das palavras para as ações. Caso contrário, é puro discurso duplo. Agir de verdade é parar imediatamente de pagar toda a dívida externa e romper com o FMI. Aí está o dinheiro, juntamente a um imposto sobre grandes fortunas e empresas, para financiar um fundo de emergência que resolva as necessidades populares mais urgentes.