Greve no coração do Império – em homenagem aos Mártires de Chicago
por Makaíba Soares, do Mandato do Vereador Babá
A pandemia do coronavírus é uma prova inquestionável de que a classe capitalista é incapaz de governar para o bem da humanidade. A preocupação que os capitalistas têm em controlar rapidamente a pandemia, não tem nada a ver com evitar a morte de milhões de pessoas, mas em manter os trabalhadores nos seus postos de serviços para que os patrões possam continuar sugando os lucros da força de trabalho. Por isso, é preciso derrubar as políticas de austeridade que reduzem os gastos com saúde, os salários, acabam com os empregos e condições de vida aqui no Brasil e no mundo. É necessário que os trabalhadores brasileiros, para sobreviverem aos ataques dos patrões e a pandemia, sigam o exemplo de luta que fizeram seus irmãos de classe na Itália e Espanha no mês de março e que estão para fazer agora no início de maio nos EUA.
Enquanto o número de mortos em março passado aumentava na Itália em decorrência da pandemia global do coronavírus, greves radicalizadas estouraram em toda a península, lutando para deter a propagação da doença mortal. Eram os trabalhadores das fábricas exigindo que o contágio fosse contido através do fechamento das plantas industriais cujas operações não fossem essenciais para o combate ao vírus. Eles desafiaram a burocracia sindical corrupta da Itália, que estavam de mãos dadas com os bancos e o governo para exigir que os trabalhadores da produção permanecessem em suas empresas e continuassem trabalhando – apesar da doença ameaçar acabar com milhões de vidas.
Na Espanha, não tão radical como fizeram os italianos, mas também igualmente oportuna, foi uma greve de pagamento de aluguéis, organizada pelos sindicatos de inquilinos da Catalunha e de Madri. O movimento tinha como foco ajudar famílias, pequenos comerciantes e trabalhadores autônomos afetados pela pandemia do novo corona-vírus. Segundo informações da agência de notícias EFE, a greve foi marcada para pressionar o governo para que ele assegurasse que a falta de pagamentos dos aluguéis não venha resultar em ações punitivas.
Nesta sexta-feira, 1° de maio, trabalhadores de algumas das maiores empresas dos Estados Unidos entrarão em greve. São eles funcionários da Amazon, Instacart, Whole Foods, Walmart, Target e FedEx que irão cruzar os braços ao mesmo tempo, alegando que as companhias estão tendo lucro recorde às custas da saúde e da segurança de seus empregados durante a crise do novo coronavírus. Segundo o The Intercept, a greve de 1º de maio é a mais recente de uma onda de ações lideradas por trabalhadores da linha de frente sindical e não sindical nos EUA. E como disse Daniel Steinbrook, empregado da Whole Foods e organizador da greve: “Estamos agindo em conjunto com os funcionários de Amazon, Target, Instacart e outras empresas no Dia Internacional do Trabalhador para mostrar solidariedade com outros trabalhadores essenciais em nossa luta por melhores condições na pandemia”.
É importante ressaltar que essa greve dos trabalhadores estadunidense vai acontecer em uma data emblemática da luta de classes mundial. Essa é uma data em memória dos Mártires de Chicago, para lembrar das reivindicações operárias que nesta cidade se desenvolveram em 1886 e por tudo o que esse dia significou na luta dos trabalhadores pelos seus direitos, servindo de exemplo para o mundo todo. Daí que o 1º de Maio foi instituído como o Dia Mundial dos Trabalhadores.
Naquele finalzinho do século XIX, Chicago não era apenas o centro da máfia e do crime organizado era também o centro do anarquismo na América do Norte. As organizações, sindicatos e associações que surgiam eram formadas principalmente por trabalhadores de tendências políticas socialistas, anarquistas e socialdemocratas. Duas importantes organizações lideravam os trabalhadores e dirigiam as manifestações em todo o país: a AFL (Federação Americana de Trabalho) e a Knights of Labor (Cavaleiros do Trabalho).
Eram os primórdios do Modo de Produção Capitalista, quando o grau de exploração do trabalho era bem maior do que hoje – e pelo andar da carruagem desse sistema, é para onde estamos retrocedendo atualmente. Salários baixos associadas a longas e extenuantes jornadas eram a regra nas fábricas. A saúde física e mental dos trabalhadores estava comprometida por jornadas que se estendiam até 17 horas diárias, prática comum nas indústrias da Europa e dos Estados Unidos no final do século XVIII e durante o século XIX. Férias, descanso semanal e aposentadoria não existiam. Foi então, por causa dessas condições, que em 1886, Chicago foi palco de uma intensa greve operária.
Com a continuidade da greve e a radicalização dos trabalhadores, a repressão foi aumentando num crescendo sem fim. Diante da fábrica McCormick Harvester, a policia disparou contra um grupo de operários, matando seis, deixando 50 feridos e centenas presos, um dos líderes do movimento, August Spies, convocou os trabalhadores para uma concentração na tarde do dia seguinte. Nesse outro dia os oradores pediram a união e a continuidade do movimento. No final da manifestação a policia atacou os manifestantes, espancando-os e pisoteando-os. Uma bomba estourou no meio dos guardas, uns 60 foram feridos e vários morreram. Reforços chegaram e começaram a atirar em todas as direções. Centenas de pessoas de todas as idades morreram.
Foi decretado o “Estado de Sítio” e a proibição de sair às ruas. Milhares de trabalhadores foram presos, muitas sedes de sindicatos incendiadas, criminosos e gângsters pagos pelos patrões invadiram casas de trabalhadores, espancando-os e destruindo seus pertences. A justiça revelou seu caráter de classe, burguesa e anti-operária, quando levou a julgamento os líderes do movimento, August Spies, Sam Fieldem, Oscar Neeb, Adolph Fischer, Michel Shwab, Louis Lingg e Georg Engel. O simulacro de julgamento começou dia 21 de junho e desenrolou-se rapidamente. Provas e testemunhas foram inventadas. A sentença foi lida dia 9 de outubro, no qual Parsons, Engel, Fischer, Lingg, Spies foram condenados à morte na forca; Fieldem e Schwab, à prisão perpétua e Neeb a quinze anos de prisão. No dia 11 de novembro, Spies, Engel, Fischer e Parsons foram levados para o pátio da prisão e executados. Lingg não estava entre eles, pois suicidou-se. Seis anos depois, o governo de Illinois, pressionado pelas ondas de protesto contra a injustiça do processo, anulou a sentença e libertou os três sobreviventes.
Assim como em 1886, a luta atual dos trabalhadores não é só por salários, mas pela própria vida. No Brasil, em nome da austeridade, bilhões foram cortados nos últimos anos dos serviços sociais. Esses bilhões agora estão fazendo falta para o combate ao coronavírus. E como se não bastasse o banqueiro Paulo Guedes, se valendo de seu cargo de ministro da economia, quer doar mais R$ 2 trilhões de reais aos bancos, enquanto o povo trabalhador se humilha e se arrisca a contaminação em filas aglomeradas para receber a esmola de R$ 600 reais.
Nosso desafio é manter nossa luta de forma independente dos patrões e dos governos. Seguir o exemplo dos profissionais de saúde e com a luta, abrir caminho para um mundo novo. Sem exploradores e nem explorados.
Um mundo socialista!