ARGENTINA | Basta de “renegociação”! Suspender imediatamente o pagamento da dívida
Escreve: José Castillo, do Izquierda Socialista, seção argentina da Unidade Internacional de trabalhadoras e trabalhadores – Quarta Internacional (UIT-QI). Traduzido por: Caio Sepúlveda
O governo continua a renegociação da dívida com os credores. Faz isso enquanto o país e o mundo colapsam em meio à crise do coronavírus. Entre os credores privados e o FMI estão em jogo 150 bilhões de dólares que vencem entre este ano e os próximos. O dilema é de ferro: O dinheiro vai aos credores ou para a emergência de saúde.
O presidente Alberto Fernández disse a poucos dias que “Não pagaremos a dívida com a fome do povo”. No entanto, quase ao mesmo tempo, seu ministro de Economia, Martín Guzmán, continua o “cronograma” de renegociação com os credores estrangeiros.
Agora se “reprogramou” até 2021 os vencimentos dos títulos da dívida submetidos a legislação local. Mas o coração da dívida são os títulos em dólares, com legislação estrangeira. E aí, se segue em infinitas consultas com os próprios parasitas privados internacionais, que deixaram claro que “não aceitam” os prazos que propõe o governo para correr os vencimentos (se fala de três anos) e exigem pagamentos maiores por juros. E, claro, segue uma briga pelo montante que vai ser retirado. Digamos claramente, ainda que se chegasse a negociar uma suposta retirada de 50%, os especuladores internacionais ainda ganhariam, já que atualmente os juros argentinos estão cotados a quase 30%, com os quais se levaria a um lucro, sem mover um peso, de 20%, hoje algo impossível de se alcançar em qualquer outra operação financeira do mundo.
Como se tudo isso fosse pouco, a partir do próprio Ministério da Economia se deixou saber que o governo Fernandez estaria disposto a “melhorar a oferta” por meio dos chamados “cupons PBI”. Algo que se inventou e está vigente para os juros que foram resgatados durante o kirchnerismo, em 2005 e 2010. Se trata de um “extra” que se oferece aos credores, cada vez que o país cresce 3% se gera automaticamente uma dívida extra com os credores, de pagamento imediato. Uma verdadeira fraude.
O incrível é que estejamos discutindo tudo isso em meio à crise do coronavírus.
Os próprios economistas do establishment reconhecem que todas as “cadeias de pagamento” do mundo estão se rompendo. Isto quer dizer que os próprios capitalistas estão deixando de pagar dívidas entre eles.
Tudo é tão rídiculo, que cada vez mais surgem economistas e jornalistas simpáticos ao governo que começam a fazer ouvir sua voz, propondo que não se deve seguir negociando e que é necessário suspender os pagamentos. Inclusive economistas do establishment local e estrangeiros reconhecem que, nestas condições, o melhor que a Argentina pode fazer é se deixar cair em default, pelo menos até que o pior da crise passe.
O mais grave de tudo é que não se trata somente de uma “negociação” que se estende no tempo na qual nosso país carrega tudo a perder. Enquanto isso, seguem pagando religiosamente os vencimentos com os credores estrangeiros. Assim que assumiu, Alberto Fernández mandou separar das muito escassas reservas internacionais, 4,5 bilhões de dólares para atender a esses vencimentos, que estão sendo utilizados desde então (De fato, o montante da dívida é tão elevado que em maio essa bolada terminará se esgotando). Na semana passada, já em meio à quarentena, o governo pagou em dinheiro 250 milhões de dólares. Há outro vencimento, dentro de dez dias, de 500 milhões.
Estamos repetindo há anos. Voltamos a dizer assim que assumiu Alberto Fernández. Agora, a exigência adquire uma urgência extrema, temos que deixar agora mesmo de pagar a imoral, ilegal e usurária dívida externa e destinar todos esses recursos a um fundo de emergência para financiar a crise de saúde, contratando e pagando salários dignos a todos os trabalhadores da saúde necessários, e também para resolver as consequências econômicas da crise que hoje pesam sobre o povo trabalhador, com comida, trabalho e salário para todos.