2020 – Nas ruas contra Bolsonaro
Coordenação da CST (Corrente Socialista de Trabalhadoras e Trabalhadores)
O ano de 2020 está começando, mas é visível que a promessa de melhora da economia era fake news. Após um ano de Bolsonaro estamos em uma situação pior. Aumentou o preço da carne e o reajuste de tarifas do transporte começou por SP e DF. Basta olhar ao redor para ver o crescimento da precarização e da informalidade. Em dezembro, num supermercado do RJ, uma trabalhadora dizia que 2019 foi o “natal do arroz com ovo”. Num expressivo setor da população há uma forte insatisfação social.
A crise social aumentou e a mamata continua
De acordo como IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aumenta a pobreza, o desemprego e subemprego. A ONU (Organização das Nações Unidas) constatou maior concentração de renda e queda na qualidade da educação. Esse é o capitalismo selvagem que o presidente e seus ministros defendem.
Ao mesmo tempo, a mamata segue em Brasília. O esquema de Queiroz e Flávio Bolsonaro, o Laranjal do PSL (partido pelo qual o presidente se elegeu), as maracutaias no DPVAT, são exemplos. De acordo com o jornal Folha de SP o chefe da comunicação da presidência da república é sócio de uma firma (a FW) que presta serviços para empresas como a Record e Band, que recebem recursos do governo.
Apesar da crise política, a burguesia está unificada sobre o ajuste fiscal
Num contexto de crise econômica continua a instabilidade política, como o demonstrado em MPs (Medidas Provisórias) e Decretos presidenciais que foram derrubados ou modificados pelo congresso e STF (Supremo Tribunal Federal). Outros exemplos são o racha no PSL, atritos com os governadores Witzel e Dória e as polêmicas sobre a Lava-jato. Além das dissidências do MBL, Janaina Paschoal e Joice Hasselmann. A crise da semana em que escrevemos essa edição foi a demissão de Roberto Alvin, secretário de cultura do governo, por imitar o discurso de um assessor de Adolf Hitler. Projetos da extrema direita como o de “abstinência sexual” para os jovens, declarações contra os livros didáticos e propostas ditatoriais não unificam hoje o conjunto dos patrões e empresários.
Um exemplo clássico do que falamos é a Rede Globo que critica em sua programação todas as propostas autoritárias do governo e quase sempre está aberta à defesa de pautas relacionadas aos direitos civis ao mesmo tempo em que defende com entusiasmos todo o programa econômico de Paulo Guedes, muitas vezes até exigindo sua aplicação de forma mais acelerada. Ou seja, apesar das divergências na pauta dos costumes e em temas democráticos, predomina um acordo entre todos os empresários sobre o ajuste fiscal, as medidas que aprofundam a exploração da classe trabalhadores e retiram direitos, garantindo o pagamento da dívida interna e externa. Existe, portanto, uma necessidade real de construir uma forte oposição nas ruas, para nos defender dos ataques econômicos e sociais e lutar contra o autoritarismo e defender as pautas do trabalhadores e da juventude.
A melhor estratégia para a oposição é a ação direta nas ruas
Ao longo de 2019, no jornal Combate Socialista, nos pronunciamentos do vereador Babá (PSOL RJ), junto aos camaradas Plínio de Arruda Sampaio Jr e o vereador Renato Cinco da plataforma Contrapoder insistimos na mesma proposta: construir uma oposição intransigente, baseada na ação direta nas ruas, utilizando as passeatas unitárias, greves unificadas, ocupações e a greve geral, pois é impossível qualquer pacto com a extrema direita de Bolsonaro. Nossa proposta se fundamenta na experiência do #EleNão em outubro de 2018, nos atos do 8 de março, no tsunami da educação e na greve geral do primeiro semestre de 2019, além de tentar nos conectar com a onda de lutas internacionais que segueno Chile e na França.
Ao mesmo tempo em que batalhamos por uma ampla unidade de ação apresentamos a ideia de uma Frente de Esquerda e Socialista ou Anticapitalista, seguindo o exemplo da FIT-Unidad (Frente de Esquerda dos Trabalhadores-Unidade) da Argentina. Batalhamos por essa estratégia no congresso da UNE, eleições de DCE’s, e assembleias estudantis através da Juventude Vamos à Luta. O mesmo fizemos em inúmeras categorias, como as assembleias do CPERS e SEPE, fóruns da FASUBRA e CONDSEF, na linha verde do Metro de SP, através da corrente sindical Combate. Por isso fortalecemos a CSP-CONLUTAS, central que agrupa o sindicalismo combativo. Essa estratégia é que defendemos junto aos camaradas do Bloco Radical do PSOL. Infelizmente essa não é a estratégia do PT e do ex-presidente Lula e nem dos demais partidos que compõem as oposições ao governo Bolsonaro.
Qual é a estratégia do PT e de Lula?
Desde o ato da educação em agosto, a CUT e o PT não convocaram nenhuma data nacional de mobilização unificada. E a direção da UNE, UBES e ANPG trataram de pulverizar os calendários estudantis para dispersar as forças do tsunami. São 5 meses sem atos unificados, nem nos dias das votações da reforma da previdência no senado ou quando o litoral foi consumido por um vazamento de óleo. A direções sindicais majoritárias desmontaram as greves dos trabalhadores dos Correios e petroleiros, isolaram a greve estudantil da UFSC e desaproveitaram greves estaduais como a dos professores do RS. As centrais barganharam com Rodrigo Maia os recursos das mensalidades sindicais.
Nos discursos de Lula, desde que conseguiu sua liberdade, apesar das críticas a vários projetos de Bolsonaro, fica explícito que o PT não aposta na luta nas ruas e que sua estratégia é reeditar o projeto de conciliação de classes nas eleições. Ou seja, não apostar em atos massivos e unificados nas ruas e buscar canalizar a insatisfação para as eleições de 2020 e 2022 por meio de coligações com partidos patronais. Para os lutadores honestos que podem ter alguma dúvida sugerimos que reflitam sobre os atuais governadores do Nordeste. O PT e demais partidos da oposição no Nordeste apoiaram a reforma da previdência de Bolsonaro e Guedes e no final do ano os governos das oposições aplicaram reformas da previdência estaduais contra os trabalhadores. O governador Flávio Dino do Maranhão, do PCdoB, entregou a base de Alcântara aos EUA e o governador Rui Costa, do PT da Bahia reprimiu as greves das universidades. E no Ceará o governo aderiu ao programa bolsonarista de construção de escolas militarizadas. No Nordeste o PT mantém coligações com partidos conservadores: PMDB, PP, PSD, DEM, PTB, PRB e PPS. Essa estratégia desarma os ativistas da oposição e dá fôlego ao governo, bem como ajuda a construir projetos de direita como Rodrigo Maia.
Botar o bloco na rua e protestar no 8 de março
Estão ocorrendo pequenos protestos do MPL contra o aumento das passagens em SP, enfrentando forte repressão da PM. A campanha salarial de servidores federais ainda está sendo organizada. A CNTE vinha indicando março como data para protestar. De fato, uma importante data nacional centralizada, que pode agrupar um setor massivo nas ruas é o protesto de 8 de março, no mês que completam 2 anos de impunidade sobre o assassinato da companheira Marielle. Ele será depois do carnaval, festa que tem tudo para ser politizada como em 2019. O 8M poderia agrupar o conjunto das oposições através das pautas feministas, do movimento negro, ambiental, da juventude estudantil. Também poderia ser utilizada pelos sindicatos para fortalecer as campanhas salariais nesse segundo semestre, ajudando a dar forças ao indicativo de manifestações da área da educação e setores do serviço público no dia 18/03.
Temos que batalhar para coordenar e unificar os protestos, massificar os movimentos atuais, visando uma segunda onda de manifestações massivas e unitárias contra o governo Bolsonaro/Mourão, seu plano de ajuste e seu autoritarismo, bem como os ataques aplicados pelo congresso nacional corrupto de Rodrigo Maia e Alcolumbre do DEM. Para isso será fundamental fortalecer as reuniões de construção do 8 de março, realizar assembleias de base e plenárias estaduais dos sindicatos para preparar o dia 18 de março como dia nacional de lutas e paralisações. É urgente que a CUT, UNE e demais movimentos convoquem uma Assembleia da Classe Trabalhadora para organizar um calendário de lutas. A direção da UNE, UBES, ANPG precisam garantir calouradas com eixo no 8 de março e organizar um ENE visando um novo tsunami. O FONASEFE, ANDES, FASUBRA, SINASEFE poderiam organizar um forte lançamento da campanha salarial 2020 e garantir uma paralisação nacional no dia 18/03 contra a reforma administrativa e o Mais Brasil. Propomos ainda que a Frente Povo Sem Medo e Frente Brasil Popular convoquem um Encontro Nacional dos Movimentos Sociais para organizar a luta unificada nesse primeiro semestre.