Para proteger a floresta e seu povo é preciso derrotar o governo!
Começar a organizar o movimento contra a catástrofe ambiental de Bolsonaro
“Cadê a flor que estava ali?
Poluição comeu.
E o peixe que é do mar?
Poluição comeu
E o verde onde que está?
Poluição comeu
Nem o Chico Mendes sobreviveu”
Luiz Gonzaga – Xote Ecológico
Luiz Gonzaga, que partiu há 30 anos, nos deixou um xote bem conhecido, que com certeza já deve ter mexido com você. Uma letra que se encaixa na situação ambiental alarmante no Brasil: seis meses do crime de Brumadinho, liberação total dos agrotóxicos para obter votos da bancada ruralistas e agradar o agronegócio, ameaças contra a Estação ecológica de Tamoios (projeto “Cancun Brasileira”) novos dados de recorde de desmatamento, o assassinato e ameaças aos wajãpi e agressões aos demais povos da floresta. Nos últimos dias Bolsonaro exonerou o presidente do INPE e propôs garimpagem em terras indígenas.
#SosWajãpi – nenhuma gota de sangue a mais
Emyra Wajãpi, de 68 anos, foi encontrado morto na última quarta-feira com facadas e marcas de crueldade. Na coletiva de imprensa de 01/08, em Macapá, lideranças indígenas leram a carta do conselho dos povos wajãpi (Spina), onde relatam que tiveram contato com homem branco e não indígenas em suas terras, afirmando que estavam armados e temem ameaça de invasão. As investigações sobre esse crime precisam avançar. Não é possível deixar esse crime sem resposta e não aprofundar as buscas na região. O governo do Estado e as entidades federais devem seguir e dar essa resposta. É preciso que a OAB, Sindicatos e entidades do movimento social acompanhem o andamento das investigações.
As terras Wajãpi são cobiçadas por garimpeiros e multinacionais por avaliarem que ali pode ter um novo “Eldorado” maior que serra pelada, por isso os conflitos nessa região.Essa violência só tem aumentado com o governo Bolsonaro que afirma querer liberar garimpo em terras indígenas, política que 81,8% são contra, diz o Atlas político divulgado no dia 01. Os objetivos de lucro das empresas de mineração e os impactos dos garimpos são devastadores para as florestas, rios, solos e a população das regiões onde eles se encontram. Mas para favorecer essas empresas, Bolsonaro ataca indígenas, ribeirinhos, camponeses e os órgãos ambientais como o IBAMA, IcmBio, INCRA e a SESAI, além de tentar impor perseguição e censura aos servidores. Nesse contexto, o presidente tenta acabar com a FUNAI ou retirar parte de suas funções relacionadas à demarcação das terras indígenas (algo tão absurdo que até o congresso e o STF, no momento, não concordaram).
O desmatamento bate dados alarmantes
O Terra Brasilis/Deter, criado pelo INPE em 2015 como sistema para acompanhar dados em tempo real do desmatamento na região, registrou um aumento de 88% do desmatamento em Junho em relação ao mesmo mês de 2018, alcançando 920,4 Km² da Amazônia Legal, e 97% do desmatamento se concentra em 4 Estados, cujo campeão, com 48,54%, é o Pará, sendo o mesmo estado onde os conflitos no campo mais derrama sangue no Brasil. Em julho dobrou os registros chegando a 212%, alcançando 1.864km².
Em três décadas a Amazônia já perdeu 18% da sua área de floresta, mas para os ministros de Bolsonaro “tudo é um complô comunista e das ONGs” e, como disse Augusto Heleno, “os dados são manipulados” e “ferem o Brasil e deveria ser internos”. Agora, Ricardo Sales quer apresentar um novo sistema. Bolsonaro e sua equipe contestam os dados e tentam impor uma censura aos dados, pois seriam os dados que prejudicam o Brasil. Mas o que prejudica o país é ter o desmatamento crescente sem nenhuma política para reduzir, o que na verdade existe é uma ação para aprofundar essa situação.
A revista The Economist estampou na sua capa “O velório para a Amazônia: a ameaça do desmatamento descontrolado”, e chama um Boicote a produtos brasileiros produzidos na Amazônia, pois Bolsonaro seria o responsável em acelerar essa situação, dando o discurso de impunidade aos madeireiros, segundo a revista.
Esse discurso de Bolsonaro e seus ministros é um projeto de destruição fortalece ações de grupos como o de madeireiros que incendiaram um caminhão tanque que abasteceria Helicópteros do IBAMA, que ajudavam uma operação em Espigão do Oeste, Rondônia. Ao mesmo tempo que transforma esse discurso em ação governamental, quando Bolsonaro em uma reunião com ruralistas rebate críticas e afirma como equivocado e um atraso, para o desenvolvimento do Brasil, demarcar terras indígenas e quilombolas, além de afirmar que o decreto de armas é pra ajudar os fazendeiros a defender suas terras atirando em indígenas e militantes do movimento sem terra, colaborando com posseiros e grileiros. O ministro do meio ambiente, Ricardo Sales (Novo), pretende organizar um plano de investimentos para explorar os “potenciais” da região, um discurso que só agrada madeireiros e o agronegócio e destrói a vida dos povos tradicionais da floresta.
Organizar a luta contra a catástrofe ambiental do governo Bolsonaro
A articulação dos povos indígenas tem se mobilizado organizando ações que desde o final do ano de 2018, como o Dezembro vermelho contra o genocídio indígena e o Acampamento Terra Livre em Abril, que reuniu mais de 4 mil indígenas de diversas etnias. Essas ações exemplos a serem seguidos e cercar de solidariedade, enfrentando inclusive a criminalização e repressão do governo de extrema direita de Bolsonaro que durante o ATL chamou o exército para ocupar a Esplanada dos ministérios.
Precisamos cobrir de solidariedade e ajudar a massificar essa luta, unificando a luta ambiental em suas mais variadas formas e meios, coordenando ações do movimento indígena, dos sem-terra, dos ribeirinhos, as populações impactadas pelos projetos de mineração, barragens, enchentes, secas, unificando iniciativas dos ambientalistas, sindicatos rurais, universidades, organizações anticapitalistas e partidos de esquerda (PSOL, PCB, PSTU e UP) e organizações democráticas, artistas e intelectuais e servidores públicos, apoiando-se em entidades como a APIB. É necessário defender a demarcação das terras indígenas e combater o extermínio dessa população, enfrentar os projetos que destroem o meio ambiente como a liberação dos agrotóxicos e o ataque a estação ecológica de Tamoios. É fundamental garantir que órgãos públicos como o INPE, IBAMA, ICmbio, FUNAI e seus servidores possam fazer seu trabalho com qualidade e sem ingerência autoritária do Planalto. Devemos defender a reforma agrária e o fim da pistolagem de camponeses. Batalhar contra as empresas do agro e hidronegócio, acabar com os transgênicos, lutando para expropriar as multinacionais e empresas poluidoras ou criminosas como a Vale, exigir que os recursos que hoje são destinados aos banqueiros por meio do pagamento da divida externa e interna sejam canalizados para projetos socioambientais, para a agricultura familiar, para programas alternativos de energia que obedeçam critérios ecológicos racionais, para transporte coletivo estatal de qualidade, etc.
Uma oportunidade para começar a organizar um movimento de protesto nas ruas seria aproveitar a semana de 20 a 27 de setembro, quando uma serie de protestos em mais de 100 países vai ocorrer por conta de uma nova “greve mundial do clima”, com manifestações com muito peso na Europa. No Brasil já há um movimento, “a Coalização pelo Clima”, convocando uma manifestação para o dia 20 em São Paulo, o que poderia ser um exemplo para coordenar ações em outras capitais.
Eziel Duarte – Coordenação Nacional da CST/PSOL