50 anos da Revolta de Stonewall
Hoje é dia do Orgulho LGBT e comemoramos 50 anos da Revolta de Stonewall, um dos maiores e mais conhecidos episódios da luta LGBT. Nos dias atuais, é cada vez mais importante retomarmos nossa organização em defesa dos nossos direitos e contra todo tipo de preconceito. Diante de um governo machista e LGBTfóbico que retira direitos as LGBTs devem estar lado a lado com os trabalhadores nesta luta.
Em 28 de junho de 1969, após mais uma cotidiana ação repressiva da polícia no bar Stonewall, em Nova York, grupos LGBTs iniciaram uma onda de protestos que durou três dias. Naquela época, ser LGBT era ilegal nos EUA e em boa parte do mundo e, assim, bares LGBTs eram, em sua maioria, clandestinos e sofriam com batidas policiais que sempre os fechavam e prendiam seus frequentadores. Esses bares eram o principal local de refúgio de pessoas que eram obrigadas a esconder suas orientações sexuais e identidades de gênero para se manterem vivas, não perderem seus empregou ou serem expulsas de suas famílias.
Até que na noite de 28 de junho, um grupo resolver reagir às constantes violências e violações, iniciando protestos em defesa dos direitos e da vida das pessoas LGBTs. Esse foi uma importante luta que ajudou a organizar o movimento LGBT de uma maneira mais firme a seguir reivindicando seus direitos em todo o mundo. No ano seguinte, foi organizada a 1º Parada do Orgulho LGBT e desde então a data é lembrada em todo o mundo.
Hoje, 50 anos depois, temos diversas conquistas a comemorar. A homossexualidade e a lesbianidade não são mais vistas como crime em grande parte do mundo. Além disso, orientações sexuais não heteronormativas não são mais consideradas doenças nem desvios sexuais e, seguindo os manuais psiquiátricos, a Organização Mundial de Saúde decidiu retirar as identidades trans da categoria de transtornos psiquiátricos.
Aqui no Brasil, conquistamos também o direito ao casamento civil, a adoção homoparental e o uso do nome social nas escolas, universidades e no SUS. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal decidiu que a LGBTfobia – preconceito e discriminação contra pessoas LGBTs – é crime. Este foi um importante passo para a garantia dos direitos das pessoas LGBTs e para o combate a violência, sendo preciso vir acompanhada de ações de educação e sensibilização da população quanto a uma cultura antimachista.
Mas também ainda há muito em que avançar. Em 38 países da África, a homossexualdiade ainda é criminalizada e diversos governos reacionários reforçam a violência e a marginalização da população LGBT. Os números da violência, mesmo que subnotificados, mostram uma dura realidade. O Brasil amarga o título de país que mais mata travestis e pessoas trans em todo o mundo e, a cada 19 horas, um LGBT é morto. Além disso, apenas 10% das pessoas trans e travestis ocupam postos formais de trabalho e 41% dos LGBTs afirmam já ter sofrido discriminação nos seus empregos (dados GGB, IBGE e ANTRA).
Essa é uma realidade que se aprofunda diante de um governo ultraliberal, machista e LGBTfóbico. LGBTs sofrem ainda mais duramente com o ajuste fiscal, por conta da dupla opressão-exploração. São, ao lado das mulheres e negros, os que recebem menores salários e os primeiros a perderem seus empregos em tempos de crise. Medidas como a Reforma Trabalhista, que flexibiliza direitos, fazem como que a relação de trabalho seja ainda mais precarizada para essa população. Assim como, a Reforma da Previdência que impossibilita que possamos nos aposentar, sobretudo quando temos pouquíssimas oportunidades de trabalho formal e quando nossa expectativa de vida não chega nem aos 50 anos.
Além disso, Bolsonaro não tem nenhuma vergonha em mostrar seu discurso de ódio contra LGBTs. É conhecido por declarações como “Não vou combater, nem discriminar, mas se ver dois homens se beijando, eu vou bater” e “o filho começa a ficar assim, meio gayzinho, leva um coro e muda o comportamento dele”, e segue a mesma linha a Ministra Damares Alves, que já afirmou que mulheres lésbicas são uma aberração, discursos que reforçam ainda mais a discriminação e a violência contra LGBTs.
Por isso, precisamos fazer com que a memória de Stonewall esteja presente sempre! Que a luta LGBT se fortaleça para garantirmos os nossos direitos. Fizemos história ocupando as ruas nos gigantescos atos do Ele Não, em 2018. Esse ano, conseguimos reunir mais de 2 milhões nas ruas de São Paulo na maior Parada LGBT do mundo! Que sigamos nas ruas, afirmando que não toleraremos mais ódio e violência. Lado a lado às mulheres, contra o machismo e a misoginia, aos negros e negras, contra o racismo e o genocídio, e aos trabalhadores, contra toda retirada de direitos. Somos LGBTs na luta por nossas vidas, contra Bolsonaro e a Reforma da Previdência!
Rio, 28 de junho de 2019.
Por Ivana Fortinato – Comissão LGBT da CST/PSOL