México: Acordo Trump/López Obrador – A classe trabalhadora não tem nada a comemorar
A vitória de Andrés Manuel López Obrador (AMLO) no México foi carregada de expectativas entre tralhadores e setores populares em função de seu perfil de centro-esquerda. As primeiras medidas revelaram um governo contrariando seu discurso através de projetos contra a classe trabalhadora e da aproximação com Donald Trump, o atual chefe do imperialismo norte-americano.
Recentemente, inúmeros sites da esquerda latina, repercutiram o recente acordo entre AMLO – Trump, algo ainda pouco comentado na esquerda brasileira. Para contribuir nos debates sobre esse tema, divulgamos a posição do MAS, seção da UIT-QI no México.
Boa leitura!
Declaração do Comitê Executivo do Movimento ao Socialismo (MAS), seção da UIT – QI no México
O acordo assinado entre os representantes do governo Andrés Manuel López Obrador (AMLO) e Donald Trump, cujo propósito é evitar o pagamento unilateral de taxas a todos os produtos mexicanos importados pelos Estados Unidos, é uma confirmação da subordinação humilhante e da grave dependência de nosso país perante o principal país imperialista.
Na tarde do dia 08 de junho, AMLO havia convocado um evento em Tijuana, para expressar a “unidade nacional” em torno de sua posição diante da intenção de Trump para impor taxas. O evento tornou-se num ato para comemorar. Mas é ridículo! A classe trabalhadora e o povo pobre não têm nada para celebrar! Essa unidade convocada pelo AMLO se voltará contra os migrantes, favorecendo apenas os poderosos, os capitalistas e seus partidos, as igrejas, os militares.
De fato, o governo mexicano prometeu se tornar uma extensão da patrulha de fronteira dos gringos, com o deslocamento na fronteira com a Guatemala de 6 mil membros da recém inaugurada Guarda Nacional; além de receber todos os imigrantes que hoje esperam nos Estados Unidos o resultado dos pedidos de asilo, como resultado da recente onda de imigração, solicitações que podem ser resolvidas em até 3 anos de espera.
A ação da Guarda Nacional, que representa a militarização da fronteira sul, anuncia maiores violações dos direitos humanos, não só das pessoas que tentam migrar, mas também dos habitantes mexicanos e dos estados fronteiriços.
Além do mais, ainda não foram conhecidos os detalhes do acordo, devido à persistência da prática repudiável de “diplomacia secreta”, que oculta informação importante dos termos dos compromissos assumidos pelo governo mexicano. Por enquanto, o próprio Trump tem informado através de suas redes sociais que, como resultado do acordo, o México vai comprar uma grande quantidade de produtos agrícolas dos estadunidenses.
Por ora, contando apenas com o que hoje é público desse acordo, a classe trabalhadora pode lamentar a confirmação de nossa dependência e subordinação à vontade do imperialista e racista Trump. Isso é decorrente do fato de não termos uma economia independente com a capacidade de gerar conhecimento científico, tecnológico e industrial para o desenvolvimento de um mercado interno forte, em que na maior parte são trabalhadores e trabalhadoras, tanto quanto o povo em geral, que se beneficiam da produção de bens e serviços gerados em nosso próprio país.
Com certeza, é absolutamente repudiável a intenção do Donald Trump de usar essa dependência para submeter ainda mais nosso país aos interesses dos capitalistas gringos. É clara sua intenção de ser reeleito como presidente dos EUA.
Agora, se torna mais clara a necessidade de que a classe trabalhadora e o povo pobre lutem por um projeto de país independente, que não dependa do livre comércio internacional, mas que tenha a capacidade de ser autossuficiente na geração de alimentos, e na produção de bens e serviços fundamentais.
É evidente que essa tarefa não é do interesse dos grandes capitalistas, pois eles estão se beneficiando com o comércio livre. Foram eles que estavam profundamente preocupados com as tarifas sobre as importações aos EUA. Um eventual encarecimento dos produtos fabricados no México e logo vendidos no Norte, poderia diminuir a quantidade devido a essas taxas.
A tarefa de construir um país independente é da classe trabalhadora, que deve governar para promover esse modelo de país, no qual o Estado seja controlado pelos próprios trabalhadores, e invista os recursos necessários para gerar indústria, ciência e tecnologia, cuja meta seja conseguir o desenvolvimento para benefício das grandes maiorias e não dos capitalistas, como está acontecendo atualmente e que foi confirmado por completo na assinatura do acordo.
Cidade do México, 08 de junho de 2019.-
Comitê Executivo do MAS