Editorial: Uma batalha entre dois projetos
O triunfo eleitoral do capitão reformado, Jair Bolsonaro, configura um novo cenário político. Os três partidos mais influentes desde a instauração da República surgida em 1988, PMDB, PSDB e PT, sofreram uma estrondosa derrota eleitoral, sendo que os dois primeiros praticamente sumiram da disputa nacional, com pequenas votações.
A maioria da população pobre e trabalhadora votou contra o modelo de governo desses partidos, que sempre estiveram a serviço dos ricos, das multinacionais, do agronegócio, do sistema financeiro e de uma profunda corrupção sistêmica enquanto desatendiam as principais áreas sociais como saúde, educação, transporte, moradia e segurança pública. Nesse cenário, o exército de desempregados e subempregados superava os 27 milhões de brasileiros segundo dados do IBGE de maio deste ano.
Foi um voto de protesto contra os que não fizeram nada para resolver as pautas exigidas nas jornadas de junho de 2013 e nas inúmeras lutas posteriores. Porém, esses amplos setores de massa que votaram em Bolsonaro erram profundamente na alternativa escolhida. Além de não resolver os graves problemas assinalados, ele tem um projeto que coloca em risco as liberdades democráticas e que tentará aprofundar as contrarreformas que retiram direitos. Esse voto equivocado significou um giro eleitoral à direita, que representa um retrocesso na consciência, ainda que as eleições expressem apenas uma forma distorcida das relações entre as classes. Mas, a julgar pelas intensas mobilizações do primeiro turno, há muita disposição de luta.
O resultado eleitoral coloca um novo cenário em que se digladiarão dois projetos. O primeiro deles, encabeçado por Bolsonaro e seu governo conservador e reacionário, está disposto a atacar direitos e conquistas para aplicar os planos de ajuste que exige o mercado, começando pela Reforma da Previdência, menina dos olhos do sistema financeiro representado pelo superministro Paulo Guedes. Porém, a classe trabalhadora não está derrotada nem disposta a entregar seus direitos. Em 2017, fez a maior greve geral dos últimos 40 anos, além de várias greves e mobilizações que impediram a votação da Reforma da Previdência e intimidaram os patrões a aplicar a Reforma Trabalhista tal como foi votada. Essa resistência poderá contar com dois aliados que vêm demonstrando uma grande disposição de luta e mobilização contra as políticas reacionárias e conservadoras do novo governo: o movimento das mulheres e a juventude.
Entre esses dois projetos, haverá uma batalha e o mais provável é que os enfrentamentos sejam inevitáveis. Estaremos do lado dos trabalhadores e dos movimentos que se disponham a lutar de forma unificada para impedir a aprovação das “contrarreformas”, para evitar que cerceiem as liberdades democráticas e que avancem com a pauta conservadora que ataca as mulheres, a população LGBT e comunidades oprimidas em geral. Será necessária a maior unidade na ação para fortalecer as lutas e mobilizações que virão. Para tanto, as direções das principais centrais sindicais, movimentos sociais e partidos de esquerda devem se colocar a serviço desse processo. Cabe ao PSOL e à CSP-CONLUTAS serem agentes ativos dessa luta, organizando e debatendo com as bases do movimento os melhores caminhos para derrotar o projeto do novo governo.
05/11/2018
Coordenação Nacional da CST/PSOL