Queremos todos os corruptos presos!
Caio Barros (CST/PSOL – Niterói)
Hoje na esquerda brasileira existe um debate sobre a correlação de forças da classe trabalhadora. Em seu mais recente artigo no Esquerda Online, o companheiro Valério Arcary, dirigente do MAIS, volta a dizer que a classe trabalhadora Brasileira não teria capacidade de fazer uma greve geral e relativiza o papel fundamental das direções nesse processo.
Para os companheiros do MAIS, o problema seria que os trabalhadores não querem lutar. E rejeitam a ideia de que as cúpulas das centrais sindicais servem como freio das lutas. Arcary falava a mesma coisa em fevereiro de 2017, em um debate da CSP-CONLUTAS. Ele dizia que era impossível ter uma greve geral no Brasil. “Exige compreender o momento no qual está hoje a classe. Hoje a classe não está preparada para a greve geral, vamos dizer as coisas com toda a verdade”, dizia. E completava dizendo categoricamente que a reforma da previdência passaria, com a apatia do povo.
A história provou o contrário. Por pressões das bases, vieram mobilizações dos metalúrgicos do ABC contra a reforma da previdência. Em seguida, jornadas de luta em Março, iniciadas pelo processo da greve internacional de mulheres no dia 8. No dia 28 de Abril de 2017 a classe trabalhadora brasileira protagonizou a maior greve geral de sua história.
E, em maio, mais de 100 mil pessoas ocuparam Brasília, em uma marcha radicalizada que enfrentou a PM e ateou fogo em ministérios. Luta que se seguisse poderia ter derrubado Temer de vez, mas não seguiu porque a CUT/CTB/Força Sindical /UGT etc desmontaram a greve geral de junho, boicotaram atos de rua e desmontaram outra greve em novembro.
Quando a classe trabalhadora foi chamada a lutar o fez, de forma massiva e radicalizada. Como que não é um problema na direção? Os companheiros do MAIS vivem engrandecendo o papel das direções, principalmente da CUT, em qualquer processo de mobilização, tanto que defendem frente única com esses setores. Porém, quando as cúpulas traem e desmontam as lutas, colocam a culpa de não ter mobilização na base.
Essas novas teorias que os companheiros desenvolvem os levam a políticas muito erradas, faz com que rejeitem qualquer linha de enfrentamento com as direções burocráticas por exemplo, como se não fosse possível fazer nada sem o aval dos burocratas. Essa política de alastrar o terror e o derrotismo levou o MAIS a desmontar a forte greve da Fasubra no ano passado, apesar das assembleias de base da categoria expressarem majoritariamente disposição de lutar contra os ataques de Temer. Infelizmente hoje os companheiros do MAIS não ajudam na urgente tarefa de construir uma alternativa de esquerda, que não hesite em mobilizar os trabalhadores e que enfrente as direções traidoras.
As pressões sobre o MAIS faz com que os companheiros coloquem como o centro da conjuntura a defesa de Lula junto ao PT e o PCdoB. Inclusive, para justificar essa defesa, fazem verdadeiros malabarismo teóricos, revisando a história dos 13 anos de governo Lula e Dilma. Arcary chega a colocar no mesmo patamar a defesa de Lula com a defesa de Trotsky nos anos 30. Ele diz: “Se argumenta que estamos em campanha pela defesa de Lula e esquecemos centenas de milhares de presos que não têm advogados. É mesmo? E defender Trotsky nos anos trinta era, também, esquecer as centenas de milhares de presos nos julgamentos de Moscou?” Um ultraje! Compara a perseguição do Stalinismo a um dos principais dirigentes da revolução russa com a prisão de um agente da burguesia.
Trotsky era um lutador incansável, combateu a conciliação de classe dos mencheviques, dirigiu a revolução bolchevique e lutou até o fim contra o projeto de degeneração e burocratização stalinista, por isso que era perseguido. É um desrespeito sem tamanho compará-lo a Lula, que se tornou um lobista das empreiteiras, se vendeu pro grande capital e mudou de lado. Lula não é preso por dirigir uma greve dos metalúrgicos do ABC, ou liderar um levante contra o governo Temer. Se fosse isso pode ter certeza que estaríamos em sua defesa.
Mas não, Lula está preso porque entrou no jogo sujo da corrupção, com acordos junto aos setores mais reacionários da política nacional. Se rendeu ao financiamento empresarial de campanha e se envolveu em esquemas de enriquecimento ilícito. Ou é comum que um torneiro mecânico aposentado tenha mais de 9 milhões de reais em fundos de pensão?
Óbvio que a justiça, a Lava Jato e Sérgio Moro são parciais, que livram a cara de Temer(PMDB), Aécio, Serra, Alckimin(PSDB) por exemplo. É escancarado como se protegem os tucanos corruptos, tanto que a lava-jato até hoje não prendeu nenhum político do PSDB. Temer e Aécio foram flagrados em meio a escândalos de corrupção, deveriam estar atrás das grades e não governando o país. Os grupos como MBL, Vem Pra Rua ou o próprio Bolsonaro, não passam de hipócritas, dizem defender a punição mas não se mobilizam quando o corrupto é do PSDB ou PMDB. A verdade é que não podemos ter nenhuma confiança no judiciário, em Sérgio Moro ou no STF. Esses sempre defenderam os grandes poderosos, enquanto encarceram em massa a população trabalhadora, principalmente os negros, pobres e da periferia. São parte de uma instituição reacionária, a serviço da burguesia.
Mas isso não torna Lula um preso político, muito menos apaga os 13 anos de governo do PT marcados pelos ataques ao povo: reforma da previdência, privatizações, lei antiterrorismo, repressão, encarceramento em massa da população negra e pobre.
Não temos seletividade, queremos a prisão e confisco dos bens de todos os corruptos e corruptores, seja do PT, PSDB ou PMDB. Queremos estatização das empresas envolvidas na lava jato. Queremos derrubar o Temer e reverter todas as medidas de ajuste fiscal. Queremos justiça para Marielle e Anderson e o fim da intervenção federal no Rio de Janeiro. Mas não temos confiança na justiça burguesa e sabemos, tudo isso só é possível com os métodos históricos da classe trabalhadora, com mobilizações nas ruas, greves e paralisações. A esquerda deve se unificar por essas pautas e exigir que as centrais sindicias, da UNE e da UBES chamem jornadas de luta para a próxima terça-feira, dia 17, dia em que o STF vai avaliar o caso de Aécio Neves.