Rebelião popular no Irã contra a desigualdade social

Nos últimos dias de 2017 estouraram mobilizações populares no Irã. Estas mobilizações, em todas as principais cidades do país, se mantem e crescem em número e combatividade, em que pese à repressão que, segundo a informação oficial, já causou 21 mortos e mais de mil presos. O regime suprimiu diversas redes sociais para evitar o “contágio” mas não conseguiu frear os protestos que colocam abertamente a luta contra a ditadura teocrática.

Escreve Miguel Lamas, dirigente da Unidade Internacional dos Trabalhadores-Quarta Internacional (UIT-QI) 4/1/ 2018

De acordo aos vídeos divulgados pela mídia iraniana e as redes sociais, os manifestantes atacaram e incendiaram edifícios públicos, centros religiosos, bancos e sedes do Bassidj (milícia islâmica do regime) assim como carros da polícia.

 “O que produz que os iranianos saiam para as ruas são os problemas econômicos quotidianos, a frustração frente a falta de trabalho, a incerteza sobre o futuro de seus filhos”, explica a AFP Esfandyar Batmanghelidj, fundador do europeu-Irã Business Fórum. De acordo com eles, os protestos surgiram pelas medidas de austeridade adotadas pelo presidente Hasan Rohani desde a sua chegada ao poder em 2013, como as reduções nos orçamentos sociais ou o aumento dos preços da gasolina, anunciado há poucas semanas.

O motivo que deslanchou as mobilizações foi o aumento de preços de produtos básicos, como alimentos, gasolina; o desemprego (entre 12,9% e 29% na juventude) e a enorme desigualdade social unido à corrupção. Rapidamente as palavras de ordem foram contra o governo “Morte ao ditador Rohani” e inclusive denúncias do apoio econômicos e militar à ditadura síria. Foram divulgadas informações dos altos salários de funcionários do governo de até 30 mil dólares mensais!

Foto: AP Photo/Arquivo

A diferença dos protestos democráticos de 2009, este não tem como centro a classe média urbana de Teerã, mas os bairros e povoados de população mais pobre e trabalhadora.

Nas últimas semanas, a agencia ILNA vinculada aos sindicatos, informou de protestos de trabalhadores petroleiros por atraso no pagamento, assim como de metalúrgicos fabricantes de tratores em Tabriz, contra o fechamento da fábrica. Nos últimos meses houve uma série de greves em fábricas de açúcar, têxteis e outras, que foram reprimidas. No Irã é ilegal organizar sindicatos independentes e organizar uma greve e penalizado com anos de prisão, e existem dezenas de dirigentes sindicais presos. A ira popular aumentou com a quebra de uma empresa de crédito que afetou milhões de pequenos poupadores. Estas “empresas” se multiplicaram sob a presidência de Mahmud Ahmadinejad e desabaram quando explodiu a bolha imobiliária.

Ditadura teocrática

Como resposta aos violentos protestos, o líder supremo iraniano, o aiatolá Ali Jamenei, culpou os “inimigos do Irã” de estar por detrás das manifestações, assim como de que querem prejudicar o país.

Irã funciona com um governo eleito e com um “líder supremo’ da teocracia islâmica, não eleito, que tem amplos poderes para vetar leis, o comando militar e também pode vetar candidatos as eleições.

O regime mantém uma retorica discursiva antiocidental e contra Israel.  Irã foi submetido a sanções econômica faz anos por parte do imperialismo. No entanto colaborou com os EUA em estabilizar o Iraque, após a retirada militar ianque, e o acordo “anti nuclear” conseguido durante a presidência do Obama em 2015 facilitou os investimentos estrangeiros e a exportação de petróleo. Irã apoia à ditadura síria e nos fatos, forma parte da frente que esmagou militarmente a revolução nesse país em colaboração com a Rússia, Turquia e o olhar cumplice dos EUA.

SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL COM A LUTA DO POVO IRANIANO!

Agora o presidente Trump tenta tirar proveito político da situação afirmando que apoiará os protestos.  Mas isso somente favorece, como no caso da Venezuela, a retórica nacionalista supostamente anti ianque do governo para atacar os que lutam. (Da mesma forma o faz o ditador sírio Al Assad ou Madura na Venezuela).

No entanto, é evidente que além das manobras de propaganda do imperialismo, as lutas e greves respondem a um legítimo descontentamento social, ainda que não possua uma direção unificada nem um programa comum. O imperialismo ianque, tanto como Israel ou Arábia Saudi, não trairá democracia nem liberdade para o povo. Pelo contrário, seu objetivo é submeter e destruir o Irá para lhe tirar suas riquezas naturais.

Por tudo isso, é necessária a solidariedade internacional da classe trabalhadora, da esquerda e de todos os setores anti imperialistas, com o povo trabalhadora iraniano e sua luta contra a ditadura teocrática, contra a repressão e exploração social do capitalismo iraniano, liberdade aos presos políticos e sindicais, pelo fim da intervenção do governo do Irão para sustentar a ditadura de Al Assad na Síria e também contra a intromissão dos EUA ou seus “peões” da Arábia Saudi e Israel.

 

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