Em defesa do PSOL de esquerda, democrático, militante e longe do PT.
Estamos em meio às plenárias municipais do partido, que reúnem a militância e inúmeros filiados, rumo ao VI Congresso Nacional que ocorrerá em dezembro. Essas plenárias deveriam preparar a militância do PSOL para atuar na conjuntura de ataques do governo Temer, buscando construir e fortalecer uma alternativa, diante da traição histórica do PT. No entanto, isso não vem ocorrendo devido à política da direção majoritária do partido, a Unidade Socialista (US), que tem o objetivo de utilizar o congresso para “legitimar” sua política de construção de um campo orgânico com o PT. As plenárias municipais vão ocorrer até o final de setembro e cabe a militância do Partido seguir o combate contra essa política.
Chamamos a militância a derrotar as manobras antidemocráticas da US no Amapá
No dia 01 de setembro ocorreu a primeira plenária municipal de Macapá que reuniu mais de 1000 filiados, sendo que votaram 847 pessoas. Mas, essas centenas de pessoas que se reuniram não são o resultado de um crescimento verdadeiro e sadio do PSOL do Amapá, e sim de um processo de filiação em massa promovido pela US, absolutamente incompatível com o questionável crescimento do PSOL amapaense. Filiações parecidas com os partidos burgueses, sem critérios políticos programáticos. As pessoas não foram porque veem o PSOL como alternativa, foram a custa de um forte aparato e da máquina da prefeitura de Clécio e Randolfe da REDE, quem foram os principais oradores da plenária. As imagens e os depoimentos dos companheiros/as que fiscalizaram falam por si só: pessoas sendo transportadas por carros garantidos pela prefeitura e parlamentares, e diretores de escolas enviando mensagens padrão para seus funcionários participarem da plenária. Uma verdadeira manobra, totalmente incompatível com a tradição da esquerda socialista!
O PSOL do Amapá tem uma história de oportunismos. Foi nessa cidade onde o PSOL elegeu o primeiro prefeito de uma capital. Uma eleição a custa de uma aliança fisiológica, incluindo o DEM, partido do Rodrigo Maia, o grande articulador da Reforma Trabalhista. Nesta época, o prefeito ainda do PSOL entrou com interdito proibitório contra a greve dos professores municipais, atuando como qualquer gestor burguês. O Prefeito Clécio e o Senador Randolfe Rodriguez condizentes com sua atuação foram para a REDE, partido financiado pelo Banco Itaú, cuja a principal figura pública, Marina Silva, defende as contrarreformas neoliberais do governo Temer. No entanto, o PSOL do Amapá seguiu sendo uma espécie de sublegenda da REDE. Essa política da Unidade Socialista está a serviço de transformar o PSOL em roda auxiliar do PT, de fazer acordos espúrios com outros partidos da ordem, como o DEM, PCdoB, PSDB, PTB, etc., todos eles inimigos de classe. A US precisa controlar o aparato do partido, para impor sua política e continuar priorizando a atuação na institucionalidade, como assistimos no último programa eleitoral do PSOL na TV, onde o eixo do programa era mostrar que os problemas do povo seriam resolvidos com a atuação dos deputados no Congresso Nacional.
O que está ocorrendo em Macapá cria uma grande distorção política, pois no Congresso Nacional do partido, o estado do Amapá terá mais delegados/as, do que São Paulo ou o Rio de Janeiro, onde o PSOL, com o companheiro Marcelo Freixo, disputou na capital o segundo turno da última eleição municipal.
Mais do que nunca é necessário que a militância se mobilize para barrar essas manobras fraudulentas e outras que virão. É fundamental que todas as correntes do Bloco de Esquerda, assim como os companheiros/as da Insurgência e da tese dos parlamentares rechacem o que vem ocorrendo. É necessário que todos esses setores continuem batalhando por um partido democrático e sadio, cujas diferenças políticas sejam debatidas democraticamente e não a custa de manobras e de acordos espúrios com os partidos da ordem.
A US defende o ditador Maduro!
Contudo, como todo método está a servido de uma política, os métodos espúrios da US estão ao serviço de vincular o PSOL ao PT. Defendem uma frente orgânica com o PT e Lula, argumentando uma suposta correlação de formas desfavoráveis das massas e um avanço da direita conservadora no país e no mundo, para apoiar governos pseudo-progressistas. Se nos primeiros anos esses governos da América Latina geraram expectativas ante as massas, terminaram aplicando um plano de ajuste brutal contra o povo.
Na Venezuela, a US apoia o presidente Nicolas Maduro responsável por um ajuste avassalador que vem causando profunda miséria ao povo. A US reproduz nesse país a velha política stalinista da “teoria dos campos”, cuja orientação era fortalecer o campo democrático “antifascista”, o que incluía setores da burguesia “democrática”. Na Venezuela, frente a um suposto fortalecimento da MUD (Mesa de Unidade Democrática) apoiam o ditador Maduro. Assim, justificam sua política no Brasil, frente a um suposto fortalecimento dos Bolsonaro’s e Doria’s, capitulam a Lula e ao PT. Da mesma forma a US, em plena primavera Árabe, apoiou ditadores sanguinários, como Bashar al-Assad da Síria e Kadaff da Líbia, contra os povos que se rebelavam.
Infelizmente os companheiros/as da direção do MAIS se somam a US na defesa do Maduro, e esquecem que para uma análise marxista e leninista séria, é necessário definir o caráter de classe de um estado. No caso da Venezuela trata-se de um estado burguês, cujas forças armadas repressivas atuam para manter o estado capitalista, assim, reprimem com força o povo. Os trabalhadores e o povo têm todo o direito de ir às ruas para derrubar seus algozes, mesmo que ainda não consigam construir uma alternativa de classe. Esta política equivocada na Venezuela é traduzida no Brasil. Desta forma, são parte da construção do Vamos junto com o PT e partem da mesma tese petista de que Palocci, ao denunciar os esquemas do Lula em que participou, seria um traidor.
Não Vamos com o PT
Nesse processo está inserido o Vamos. Uma política construída desde o MTST com Guilherme Boullos, que busca diluir o PSOL numa frente orgânica com o PT, junto a Gleisse Hofman, Lindberg Farias, Wagner Freitas e tantos outros traidores. O objetivo do Vamos é construir um programa para a crise brasileira, sem apontar os principais responsáveis pela crise. Lula e Dilma no governo, atacaram direitos e conquistas democráticas da classe trabalhadora e do povo e privilegiaram relações com o agronegócio, banqueiros, empreiteiras e com os partidos corruptos, fisiológicos e reacionários. O ex-ministro do Temer, Geddel Vieira Lima, preso com malas contendo mais de 50 milhões de reais, foi ministro de Lula e participou do governo Dilma. O maior símbolo de discriminação racial hoje, a prisão do Rafael Braga, é da época do governo Dilma. O PT no governo deu as costas às reivindicações feministas e LGBT, e no Rio de Janeiro durante anos sustentaram a política do corrupto Sergio Cabral.
O PT está em plena campanha eleitoral, por isso Lula viajou pelo Nordeste abraçado a Renan Calheiros e Jackson Barreto, governador do Sergipe do PMDB, que subiu no palanque do petista, causando um grande incomodo nos dirigentes da CUT sergipana, que desceram do palco em protesto.
O Vamos, da mesma forma que a política das Diretas, não consegue se impor na conjuntura, pois não responde aos ataques perpetrados pelo governo Temer, se propondo a debater com os petistas corruptos. O MTST e os dirigentes do PSOL devem romper com a frente petista e chamar à construção de uma Frente de Esquerda e Socialista, sem Lula e o PT.
Fortalecer o bloco de esquerda.
As mobilizações que ocorreram no primeiro semestre e a Greve Geral do dia 28 de abril mostraram que os trabalhadores e o povo têm disposição de luta. E oxigenado por essas lutas, o Bloco de Esquerda deve ajudar na construção de um terceiro campo que supere o lulismo. Neste sentido, é necessário derrotar a política da US para reorientar a política do partido a serviço de um terceiro campo, e de uma luta implacável contra o PT e seus “submarinos” que tentam se reciclar, para mais uma vez enganar o povo trabalhador e a esquerda.
O PSOL não nasceu para ser linha auxiliar do PT, nasceu em 2003, no auge do lulismo, para que no momento da decadência do PT, pudesse se postular como alternativa de esquerda e programática.
As mobilizações e as lutas em curso dos trabalhadores, da juventude e das mulheres são o terreno fértil para construir essa alternativa e derrotar a política da US e seus satélites. Nesse processo devemos reafirmar um programa de esquerda, anticapitalista, socialista, que defenda a revogação das contrarreformas, a auditoria e suspensão do pagamento da dívida pública, canalizando esses recursos para saúde e educação públicas. Um programa que siga defendendo as pautas feministas, dos negros/as e LGBT, enfrentando os conservadores!
Do ponto de vista democrático é necessário organizar um grande campo com todas as correntes que não aceitam nenhum tipo de manobras, como vem ocorrendo no Amapá e no interior da Bahia com denúncias de plenárias organizadas pelo Rosa Zumbi junto com o PT, que teriam até mesmo promessas de ingresso no programa “Minha Casa, Minha Vida”. A US não pode utilizar um aparato burocrático comandado pela REDE para criar uma maioria partidária que não considera a organização real das lutas sociais.
A CST/PSOL chama a toda a militância do PSOL para unificar fileiras e lutar por democracia interna. Um chamado especial aos companheiros/as da Insurgência que dirigem o PSOL do Rio de Janeiro para se colocarem a serviço da luta contra as manobras , junto ao Bloco de Esquerda. Os companheiros/as da Tese dos parlamentares devem se unificar nesse campo numa forte luta por democracia interna, tal como fizeram nos congressos anteriores. As diferenças políticas não podem ser empecilhos para lutarmos juntos na defesa de um partido democrático e militante!
Rosi Messias (Executiva Estadual PSOL/RJ)