A heroica Greve Geral de 1917 no Brasil
Diego Vitello – Coordenação Nacional da CST-PSOL
“O comércio fechou, os transportes pararam e o governo impotente não conseguiu dominar o movimento pela força. Os grevistas tomaram conta da cidade por trinta dias. Leite e carne só eram distribuídos a hospitais e, mesmo assim, com autorização da comissão de greve. O governo abandonou a capital. (…).” (Linhares, Hermínio. Contribuição à história das lutas operárias no Brasil)
A história da classe operária é a prova viva de que o que temos hoje de direitos trabalhistas foi conquistado à ferro e fogo pela nossa luta. Para isso, o método da Greve Geral tem sido utilizado há muitos anos pela classe trabalhadora. Justamente neste ano de 2017, onde caminhamos para a segunda Greve Geral somente no primeiro semestre, estamos completando 100 anos da primeira Greve Geral no Brasil. Uma greve histórica, heroica, que marcou um dos primeiros grandes passos desse gigante que é o proletariado brasileiro.
A Greve Geral de 1917 começou na cidade de São Paulo, mas em seguida se espalhou para o Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Esse poderoso movimento foi o auge de um acúmulo de importantes greves que vinham se desenvolvendo desde o início do século XX. Os sindicatos começavam a dar seus primeiros passos e se fortaleciam a cada ano. Em 1906 é formada a Confederação Operária Brasileira (COB), que foi dirigida por sindicalistas de grande prestígio e de orientação política anarco-sindicalista. A situação mundial do proletariado também impactava no Brasil. A queda do Czar na Rússia se somava a onda de greves operárias nos países beligerantes da primeira grande guerra. Esse contexto internacional sem dúvidas contribuiu muito para o ânimo da classe trabalhadora brasileira.
A Primeira Guerra Mundial e o agravamento da situação da classe operária no Brasil
Em 1917 entramos no terceiro ano de Primeira Guerra Mundial, iniciada em 1914. A carnificina imperialista deixa suas marcas no nosso país. Em virtude da escassez de alimentos nos países em guerra, o Brasil passa a exportar uma quantidade cada vez maior de gêneros alimentícios, levando a escassez e aumento de preços no mercado interno. Isso levou a classe operária brasileira a uma condição cada vez pior de vida onde a fome e as péssimas condições de trabalho (que incluíam até castigos físicos dentro das fábricas) aumentavam dia após dia. O preço dos alugueis também disparava, tornando a situação cada vez mais insuportável.
O estopim
Na paralisação de 9 de julho do mesmo ano, na Fábrica Mariângela, a intervenção da polícia resultou na morte do sapateiro espanhol José Martinez, que tinha 21 anos e era membro da Confederação Operária Brasileira (COB). O assassinato do operário com um tiro no estômago foi o estopim para a greve geral que se seguiu a 10 de julho, data do cortejo fúnebre de José, contando com a adesão gradual de várias categorias de operários, a começar pelas trabalhadoras da tecelagem Cotonifício Crespi.
Greve, repressão e resistência
A Greve se espalhava pelas fábricas e as manifestações e passeatas aumentavam a cada dia. Nesse cenário, a mão dura da repressão não tardou. Os policiais irrompiam a tiros as manifestações operárias. O Governo e a patronal se negavam a negociar.
Porém o que não esperavam era a resposta da resistência operária que iam levar o governo e a polícia a perderem o controle da situação. Fernando Dannemann, em “1917 – Greves Operárias”, expõe a situação de resistência nos bairros operários de São Paulo: “Nos bairros fabris do Brás, Moóca, Barra Funda, Lapa, sucederam-se tiroteios com grupos de populares; em certas ruas já começaram fazer barricadas com pedras, madeiras velhas, carroças viradas. A polícia não se atreve a passar por lá, porque dos telhados e cantos partem tiros certeiros.” Essa resistência armada feita pelos operários contra a repressão brutal da polícia, fez com que o Prefeito Washington Luis (o mesmo que seria presidente alguns anos mais tarde) abandonasse a capital paulista durante longos dias da greve, que se estendeu durante todo o mês de Julho.
Fim da Greve: Aumento salarial e reconhecimento do movimento operário
Após quase um mês de intensas mobilizações, o governo e a patronal foram obrigados a negociar. Diversas reivindicações não foram atendidas, como a Jornada de oito horas e o adicional de 50% nas horas extras. Essas reivindicações com certeza deram um passo à frente naqueles dias intensos de greve. Porém, os operários conquistaram aumento salarial de 15% a 30% e o principal ganho foi político, de reconhecimento do movimento operário como instância legítima para negociação dos salários e das condições de trabalho.