A heroica Alepo cai nas mãos do genocida Al-Assad
Mas não termina a luta na Síria
Por Miguel Lamas, publicado no jornal “El Socialista”, Argentina, 13/12/2016
Depois de anos de heroica resistência, suportando os criminosos bombardeios dos genocidas Al Assad e Putin, cai a gloriosa Alepo. Ao fechamento desta edição, se anunciava o acordo que permitiria a evacuação dos combatentes rebeldes dos últimos focos de resistência. Já sem suprimentos e munições, não havia outra alternativa. Segundo o acordo, poderiam sair com suas armas leves até à província de Idlib, sob controle rebelde, depois que fosse retirada a população civil e os enfermos. Não podemos assegurar que Assad e Putin respeitem o acordo. Ainda mais quando aumentam as denúncias sobre as atrocidades e matanças que as milícias pró-Assad iraquianas e libanesas estariam promovendo, executando civis supostamente colaboradores dos rebeldes.
A cumplicidade dos EUA, Venezuela e Cuba
As tropas de Assad puderam tomar a parte oriental de Alepo (rebelde) com o apoio de milhares de iranianos, libaneses do Hezbollah e xiitas iraquianos (ambos armados pelo Irã), o com os criminosos bombardeios da aviação russa.
Mas também, contaram com a hipócrita cumplicidade tanto dos Estados Unidos, como da União Européia, Turquia e Arábia Saudita, supostos “defensores” dos rebeldes, mas que bloquearam a entrada de armas aos combatentes de Alepo e deram sinal verde aos bombardeios russos.
Ainda que a muitos lutadores pareça inacreditável, também devemos denunciar a cumplicidade direta dos governos pseudo-esquerdistas da Venezuela, Cuba e Nicarágua que votaram na ONU (09/12/2016), junto à China e Rússia, contrários a uma resolução contra os terríveis abusos genocidas de Assad na Síria. Lamentavelmente, a esquerda reformista mundial traiu a causa da liberdade do povo sírio e esteve junto dos genocidas Al Assad e Putin.
Por isso, o heroísmo dos combatentes de Alepo ficará para a história das rebeliões. Assim como do povo que os apoiou. Vale lembrar que desde julho, na parte rebelde, viviam cerca de 300 mil pessoas sob um bombardeio criminoso sistemático.
As semanas prévias à derrota de Alepo
Os dias prévios a esse duro desenlace foram bem narrados em uma nota publicada pela Luta Internacionalista (UIT-QI/ Espanha), que afirma: “Depois de semanas de intensos bombardeios e de meses de um bloqueio total que impede a entrada de alimentos e equipes médicas, a ofensiva do regime de Bashar Al-Assad e seus aliados (principalmente a Rússia de Putin e o Irã de Rouhani), se concentra em dividir os bairros rebeldes do leste da cidade.
Em 26 de novembro, começa o deslocamento interno da população civil que foge horrorizada do avanço terrestre das tropas leais ao regime, buscando refúgio em outras zonas liberadas, onde a situação também é desesperadora. Há famílias que optaram por fazer com que suas filhas fugissem, conscientes de que desde os anos 80 as forças de segurança sírias tem usado sistematicamente a violação de mulheres e crianças como arma de guerra contra a oposição. Diante da cumplicidade dos Estados Unidos e das potências europeias, e também das regionais, a Alepo rebelde sangra. Os ativistas que há seis anos informam sobre o local dizem que já não podem mais fazer balanço de vítimas, pois as pessoas estão cansadas de contar os mortos. Hospitais e escolas têm ficado fora de serviço. As imagens que chegam demonstram que a aviação russa utiliza Alepo como campo de experimentação de novos armamentos”.
“O que entendi do silêncio da comunidade internacional é o que mais lhes aterroriza é a liberdade pela qual o povo da Síria tem lutado tanto e sido massacrado. Estão tentando dar uma lição ao restante dos povos oprimidos do mundo todo para que não reivindiquem também a liberdade”, disse Abdulkhafi Alhamdo, professor de Alepo.
A associação “Médicos em defesa dos Direitos Humanos” apontou que nos últimos três anos, em Alepo, se registraram 45 ataques contra centros de saúde, que obrigaram a fechar dois de cada três hospitais. Cerca de 95% dos médicos também fugiram, foram detidos ou assassinados, o que piorou a crise humanitária na zona.
A luta na Síria não terminou
A luta não terminou, ainda que Assad e Putin tenham tomado a Alepo rebelde. Fizeram isso a um terrível custo, e já são responsáveis por um dos maiores genocídios, crimes pelos quais, cedo ou tarde, a ditadura deverá pagar.
A derrota de Alepo é um golpe na revolução Síria iniciada em março de 2011. O processo está numa encruzilhada*. Mas a revolta popular contra a ditadura não terminou, como o próprio ditador adverte em um comunicado. Continua em outras parte da Síria. Setores importantes do país seguem nas mãos dos rebeldes, que resistem ao ditador, como a província de Idlib e outras. Como parte da solidariedade internacional, é necessário repudiar tanto os bombardeios sistemáticos contra a população civil, como os massacres e crimes das tropas de Assad e seus aliados sobre o povo de Alepo.
Reiteramos as seguintes consignas da UIT-QI: Abaixo Al-Assad. Fora Rússia e seus bombardeios. Não à intervenção dos Estados Unidos e a União Européia. Não ao Estado Islâmico. Que os governos rompam relações com o governo de Assad. Por tudo isso, é preciso redobrar a solidariedade internacional ao povo rebelde sírio, contra os massacres sobre civis e contra o genocídio da ditadura.
* Ver nota “A revolução Síria numa encruzilhada”. Correspondência Internacional, n. 39.