Resposta ao editorial da Folha de São Paulo | Violento é o corte de salário, a repressão e a destruição da Universidade pública
Por Priscila Guedes, grevista, estudante de Letras e diretora do DCE da USP
O absurdo editorial da Folha de São Paulo intitulado “Coerção na USP” e publicado no dia de hoje, 26/06, expressa uma posição anti-greve e anti-mobilização. Buscam desqualificar o movimento grevista, e merecem todo o nosso repúdio. Tal editorial chega ao ponto de comparar os piquetes realizados para garantir a paralisação das atividades e a atitude de professores e alunos fura-greves de buscarem outros prédio para terem suas aulas, com a clandestinidade do período da Ditadura Militar (!). Sim, os mesmos canalhas que chamaram a ditadura brasileira de “Ditabranda” agora querem comparar os métodos legítimos das greves e das lutas (como os piquetes e as ocupações), deliberados democraticamente nos fóruns do movimento, com a repressão e o autoritarismo do regime militar é desonesto e desrespeitoso com todos aqueles que lutaram contra esse regime e foram presos, torturados ou mortos pela sangrenta ditadura comandada pelos militares e que contou com o intenso apoio da imprensa brasileira e da própria Folha de São Paulo.
O editorial ainda afirma que a nossa greve é violenta e chega a citar o diretor da FFLCH, Sérgio Adorno, de que o clima é de “medo e tensão”. O que não se diz é que o diretor Sérgio Adorno, até o final da semana passada, tinha a posição do corte do salário dos funcionários, seguindo a orientação de Reitoria pra tentar acabar com a greve. Ou seja, deixar diversas mães e pais de família sem sustento apenas por lutarem para terem salário e condições de trabalho dignas é legítimo para a Folha. Digo mais, violenta foi a repressão da PM ocorrida no dia 16/06, com o aval do reitor Zago, que jogou bombas na moradia universitária, onde moram mães e crianças, e levou detidos 5 estudantes, um deles desacordado.
Para além disso, o jornal omite deliberadamente algumas verdades sobre a greve. Não é sério que um jornal como a Folha de São Paulo trate da greve da USP e não cite que o reitor Zago não compareceu a nenhuma reunião de negociação do Conselho de Reitores com o Fórum das Seis (que reúne as entidades do movimento das 3 estaduais paulistas). Além disso, ele não recebeu os grevistas também dentro da USP, apesar de atos realizados em frente ao prédio da Reitoria para entregar as pautas da greve.
Estamos em greve e paralisando as atividades e aulas hoje para garantirmos que elas possam continuar ocorrendo no futuro numa Universidade ainda pública, gratuita e de qualidade. A situação da USP hoje é de desmonte e crescente precarização: estamos sem contratação de professores e funcionários há cerca de 3 anos, estão sendo fechadas as vagas nas creches, os bandejões sendo terceirizados, há cortes de bolsas e auxílios, além da proposta de desvinculação do Hospital Universitário que acaba com o tripé ensino-pesquisa-extensão. Por isso estamos em greve, para lutar pela existência da Universidade e seu caráter público. Estamos lutanto também pela implementação das cotas étnico-raciais, numa das Universidades mais elitizadas do país e uma das poucas que não adotou as cotas ainda, para garantir que muito mais pobres, pretos e indígenas possam entrar e ocupar o que é seu: A Universidade Pública. E nem as cotas, que não mexe diretamente no orçamento da USP, a Reitoria aceita debater.
Portanto, deixamos desde já nosso imenso repúdio a esse editorial, que visa manipular a opinião pública contra a greve em curso na USP. O objetivo a Folha não se dá nem ao trabalho de esconder. Durante a última greve, em 2014, defendeu publicamente que é preciso que a USP cobre mensalidade de seus alunos. Ou seja, a deslegitimação do movimento grevista tem por parte do jornal um objetivo escuso por trás, privatizar a maior universidade brasileira.