Deputados Federais do PSOL e a disputa do segundo turno

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Escreve Adolfo Santos – da Coordenação da CST, PSOL-RJ

No mesmo momento em que a candidata Dilma Rousseff participava de atos em Alagoas no palanque de Renan Filho, o filho de Renan Calheiros; que o “arrependido” Paulo Roberto Costa fazia seu depoimento contando em detalhes a roubalheira na Petrobrás protagonizada pelo PT, PMDB e PP e a poucas horas de ser interceptado um jatinho, onde assessores do governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel do PT, transportavam mais de 100 mil reais em dinheiro vivo, sem explicar a sua origem, os deputados federais do PSOL declaravam o voto em Dilma.

Em uma curta nota, quatro dos cinco deputados federais eleitos, ignorando estes repudiáveis fatos, vieram a público explicar porque irão votar em Dilma.Para tanto partem de uma caraterização que eles elaboram e adjudicam ao PSOL: “o avanço conservador no Congresso Nacional, com a votação expressiva de representantes da ultradireita, do fundamentalismo, do corporativismo empresarial e latifundiário, do ruralismo antirreforma agrária e violador dos direitos indígenas, do patrimonialismo, do discurso de ódio à diversidade e aos direitos humanos e do clientelismo dos currais eleitorais”. Algo do tipo: “preparem-se: está chegando o fascismo! o que é completamente irreal.

Em primeiro lugar, o resultado eleitoral não reflete fielmente a relação entre as classes,pois nas eleições participam elementos alheios à luta quotidiana e à vontade de mudança expressada nas ruas, o que distorce o seu resultado. Salvo em determinados momentos de grande ascenso revolucionário, as eleições são sempre dominadas pelas máquinas eleitorais, pelos aparatos dos governos, pelos rios de dinheiro provenientes da corrupção, pelo uso abusivo da TV, pela manipulação das pesquisas e pelas alianças estapafúrdias para obter mais espaço na mídia. Esses são os “grandes eleitores” que definem tendências e elegem os candidatos que responderão às estruturas do modelo e aos interesses dos poderosos.Por isso não podemos estranhar que o Congresso seja essencialmente conservador e esteja constituído majoritariamente pelos inimigos da classe trabalhadora e do povo pobre.

Porém, é necessário dizermos que o Congresso eleito agora, pouco ou nada difere dos anteriores. É preciso ir mais além: o Congresso, atual e futuro, foi sendo moldado e esculpido à imagem e semelhança do que Lula queria e necessitava para governar durante 12 anos, sem contrariar o modelo do poder econômico. Os 300 picaretas de FHC transformaram-se nos 300 picaretas de Lula. Foi o lulopetismo que ressuscitou Collor, que não casualmente em Alagoas foi aliado do PT contra Heloísa Helena. Foi o petismo lulista, junto com Dilma, que salvou Renan Calheiros dividindo palanques e acordos, dentre eles o que permitiu a permanência do Sarney na presidência do Senado, a recomposição da família Barbalho no Pará, a eleição e permanência na Comissão de Direitos Humanos pelo pastor Marcos Feliciano (PSC) e seu “ódio à diversidade e aos direitos humanos”. O lulupetismo e sua possível “progressividade” em relação à Aécio, também engavetou e impediu a demarcação das terras indígenas por exigências dos ruralistas, favoreceu o agronegócio e negligenciou a Reforma Agraria. Quanto aos banqueiros, “nunca na historia deste país lucraram tanto”, e os cofres das empreiteiras ficaram cheios em detrimento da saúde, da educação e do transporte público, como foi denunciado durante a Copa.

Não se sustenta o argumento que os setores que apoiam Aécio seriam mais de direita e conservadores e por isso temos que votar em Dilma. Ninguém do PSOL duvida que os tucanos representam a entrega, a privatização do patrimônio público, a corrupção.Que foram os precursores do mensalão, que expressam uma política contra os interesses do povo pobre e trabalhador e que por isso nunca cogitaríamos votar neles. Mas e Dilma, o PT e seus aliados? Não da para ocultar. Do lado de Dilma também estão os podres, corruptos e fisiológicos PMDB, PP, PR, PSD, PROS e PRB, entre outros. Com que alquimia chegam à conclusão de que estes partidos seriam mais progressistas? Quem determina a política do governo do PT é o agronegócio, o sistema financeiro, os ruralistas. É o PMDB, o PP e os fundamentalistas evangélicos que também estão nessa aliança. Quem influencia é Renan Calheiros, Sarney, ou o evangélico e ultra direitista Eduardo Cunha. No dia 12 de agosto a senadora Kátia Abreu, líder dos ruralistas, do latifúndio e da antirreforma agrária que assusta nossos deputados, postou em seu facebook: “… meu apoio incondicional para presidente do Brasil é para Dilma, a mulher que seguiu mudando o Brasil e agora também vai nos ajudar a transformar o nosso querido Tocantins.”. Sem palavras.

Não há nem em Dilma, nem em Aécio uma leve lembrança sequer do novo modo de fazer campanha política como propõe o PSOL: “sem os aparatos enganosos das candidaturas milionárias, prisioneiras de empreiteiras, bancos, frigoríficos e mineradoras que as financiam”. Se isto é assim, e acreditamos que temos concordância nisso, o que leva os deputados federais eleitos pelo PSOL a querer “superar” a centrista nota pública de sua DN sobre o tema e insistir e destacar o voto em Dilma? A nota dos deputados federais do PSOL é errada e lamentável porque deseduca. Ninguém do PSOL está propondo o voto em Aécio, por isso é desnecessário fazer essa falsa polarização. Os deputados do PSOL infelizmente não tomaram tempo para ouvir as bases do partido, como os companheiros psolistas do Comitê dos Trabalhadores da Saúde do RS que deliberaram: Nem Aécio nem Dilma, voto nulo! Tampouco houve coerência na construção de “mandatos coletivos”, como muito se fala.

Companheiros Edmílson Rodrigues, Chico Alencar, Jean Wyllys e Ivan Valente, não é verdade que avança a ultra direita, o conservadorismo e o fundamentalismo no Brasil. A sociedade está mais polarizada, mas os elementos conservadores, ultradireitistas e fundamentalistas que pululam pelo Congresso não são o determinante na situação política brasileira. As jornadas de Junho de 2013, que não foram derrotadas, desmentem essa tese. A expressiva votação da Luciana Genro, dobrando a votação do saudoso Plínio de Arruda Sampaio, depois de vários solavancos em nossa candidatura a presidente e o crescimento nas bancadas federal e estaduais são outro dado importante. A derrota histórica dos Sarney e dos Lobão depois de meio século governando o Maranhão, a fuga de Cabral, o fato do filho de Jáder Barbalho ter que esconder o pai, a diminuição dos votos da coligação Dilma, o avanço no índice de votos brancos, nulos e abstenções e até a votação de Marina, ainda que de forma distorcida, são uma clara mensagem da vontade de mudança para furar a polarização PT-PSDB.

Desde que chegou ao poder o lulopetismo tem servido para fazer retroceder a consciência de classe dos trabalhadores, para cooptar e degenerar lideranças dos movimentos, para se aliar com o mais podre da política brasileira, para ressuscitar cadáveres da política que ganharam sobrevida graças ao PT. A continuidade do PT no governo não significa nenhum fato progressista, nenhuma ajuda para o avanço dos trabalhadores e da juventude que queremos representar, como também não será com um governo tucano. Por isso é errado procurar atalhos. Não temos outro caminho que continuar pacientemente a luta quotidiana até vencer. Amplos setores de massa estão demonstrando nas ruas e nas urnas que querem uma nova direção à altura para superar o câncer PT/PSDB e seu modelo econômico e social. Não é apoiando Dilma que vamos nos postular para essa difícil tarefa. Por isso, no segundo turno sou 50! Voto nulo!