RENÚNCIA DE RANDOLFE EXPRESSA A FALÊNCIA DA POLÍTICA DE FAZER DO PSOL UMA RODA AUXILIAR DO PT

| CST

Depois de uma semana de diferentes notícias da imprensa dando conta da renúncia de Randolfe à pré-candidatura a Presidente pelo PSOL, e depois de que dirigentes da US respondessem que se tratava unicamente de “versões” da imprensa, o fato foi confirmado. Randolfe Rodrigues não é mais pré-candidato a presidente, de acordo com sua carta, renunciando à tarefa e divulgada amplamente pela mídia.

Depois que sua corrente, a US (Unidade Socialista), cujas referências públicas mais conhecidas são Edmilson Rodrigues, Marinor Brito, Ivan Valente e Luiz Araújo, junto aos seus aliados, empurrassem goela abaixo de mais da metade da militância sua candidatura num congresso questionado na sua lisura democrática, e depois de 6 meses de desastradas declarações, atitudes e fotos, o Senador Randolfe, vendo que não decolava nas pesquisas, preferiu a retirada, escondida sob a suposta defesa dos “cidadãos amapaenses”. Isto, do nosso ponto de vista, é mais uma demonstração dos erros cometidos pela US, que demonstra a falta de condições para dirigir o Partido e menos ainda uma campanha presidencial.

A carta do Senador Randolfe é um ataque ao PSOL

A carta do Senador Randolfe coloca a nu o projeto falido: de acordo com ele a sociedade brasileira estaria dividida entre dois blocos: um “conservador” que estaria avançando e um “progressista” no qual estaria o PSOL junto com o PT, PCdoB, PSB, PTB, enfim, os partidos governistas, sem esclarecer onde estaria o PMDB, que pelo que dá a entender, seria parte do último bloco.

Este é o centro do problema, pois essa análise estalinista, que separa o mundo e as nações em blocos e nega a divisão em classes sociais no capitalismo, é o que justifica sua política de capitulação ao grande capital, o qual está por trás de todos os partidos políticos burgueses, sejam da antiga direita como PSDB ou DEM, ou da nova direita encabeçada pelo PT e todos os partidos que o sustentam.
Mas, para Randolfe, esses seriam os dois “blocos antagônicos”, com a fragilidade do “bloco progressista” por não ter uma liderança à altura, com saudades de um Lula para sê-lo.

Resumindo: Aécio = campo conservador, Dilma = campo progressista, mas sem estar à altura da situação. Campos/Marina = progressista, não conseguindo ser uma terceira via, pois não tem vocação de unidade, requisito “indispensável a uma liderança que possa reunificar o Brasil em crise”.

O que deixa claro que Randolfe quer o PSOL para unificar o Brasil, dividido entre “conservadores e progressistas”, ou seja, quer a colaboração entre as classes! Como diz sua carta “o pêndulo da política nacional estaria indo a direita …cheio de ódio e intolerância” e a esquerda partidária é um obstáculo para aplicar uma política de centro esquerda, de neoliberalismo mas com “verniz socialdemocrata”, alianças amplas e não a Frente de Esquerda votada no Congresso, uma plataforma “renovadora” e uma “amplitude de horizontes” e por isso ele, “coitado”, se viu obrigado a renunciar. E o argumento de que não poderia defender “Não vai ter Copa” por ser incompatível com a realidade, só prova que Randolfe está afastado das massas em luta no país, e que quem é incompatível com a realidade é ele.

“Não vai ter Copa” foi um dos gritos de guerra que encabeçou a rebelião de 2013 e que simboliza a rejeição aos brutais gastos, roubalheira e repressão que existem por trás da Copa. Hoje todas as categorias em greve se insurgem contra a Copa e levam faixas onde dizem: “O prefeito quer fazer a Copa – Os Garis querem fazer as compras” ou “Da Copa, eu abro mão, quero dinheiro pra saúde e educação” entre outras.

Stédile, outrora combativo dirigente do MST afirmou, em janeiro de 2014 , que fazer greves ou rejeitar a Copa seria como fazer greve no Carnaval. Passaram poucas semanas, e em pleno Carnaval os Garis do RJ deflagraram uma fantástica greve enfrentando o governo e a burocracia sindical, colocando o prefeito Eduardo Paes na parede, o qual teve que reconhecer a comissão de base e ceder às reivindicações dos trabalhadores!

A nova realidade aberta com as jornadas de junho questionando os podres poderes derrotou a candidatura de Randolfe, cujas propostas colidem com a realidade, não cabem mais no PSOL e só cabem no PT.

A contradição brutal de Randolfe e, também, da US, é que enquanto o país está convulsionado desde as jornadas de junho de 2013, e não param as greves, atos, mobilizações e ocupações; enquanto o povo, sem medo, se insurge contra o poder e os burocratas sindicais, questionam os três podres poderes da falsa democracia burguesa que não garantem pão, trabalho e liberdade pois preferem se unificar por trás do setor financeiro, das empreiteiras, do agronegócio, das multinacionais e da FIFA numa guerra sem piedade contra os trabalhadores e o povo, Randolfe pretende “unificar o país dividido” dialogar com a centro esquerda, ampliar o leque de alianças, rebaixar o programa do PSOL elevando a democracia burguesa a valor universal para ser mais um vez roda auxiliar do PT. Isto é a demonstração cabal que o projeto da US/Randolfe está na contramão das necessidades e das lutas do povo trabalhador brasileiro que luta por emprego, salário, serviços públicos de qualidade e de teto a exemplo do MTST em SP.

Mas isso já vimos antes. Na campanha de Edmilson à prefeitura de Belém, quando a US levou nada menos que Lula e Dilma, ao programa de TV do Partido; em SP, quando a US limou a candidatura de Wladimir Saffatle para impor Maringoni, defensor de Dirceu e de Dilma; quando nas jornadas de Junho Randolfe foi, à revelia da decisão da Executiva Nacional do Partido, se reunir com Dilma, aparecendo sorridente a seu lado, enquanto o povo enfrentava nas ruas as tropas de choque e a repressão que governos petistas, tucanos ou do PSB, enviaram no intuito de frear as lutas.

É evidente que se abriu no país uma nova correlação de forças mais favorável ao povo, que não para de lutar, e que precisa uma alternativa eleitoral. Dilma, Aécio, Campos e os candidatos do fundamentalismo religioso, NÃO NOS REPRESENTAM, NÃO REPRESENTAM OS ANSEIOS E A NECESSIDADE DO POVO BRASILEIRO.

Nada disso foi discutido na Executiva Nacional, para que as decisões fossem tomadas pelas instâncias partidárias. Tudo se “cozinhava” nos bastidores da questionada maioria da direção, onde aparentemente se resolveu e assim, a maior parte da direção e do partido ficou sabendo pela imprensa que o PSOL não tinha candidato a Presidente da República.

A responsabilidade da Convenção Nacional: votar uma proposta programática e as candidaturas a Presidência e a Vice que respondam às exigências das ruas

Nos dias 21 e 22 de junho, acontecerá a Convenção Nacional para decidir quem será o candidato a Presidente e seu vice, frente à renúncia de Randolfe, o que é positivo, pois sua candidatura representava a velha política estalinista do “mal menor”, da “conciliação de classes”, de mudar a realidade agigantando a antiga direita para justificar o apoio à nova direita, política tão em moda em setores que foram da esquerda brasileira, começando pelo PT e Lula e, infelizmente, na qual também termina caindo Maringoni.

A atual pré-candidata a vice, Luciana Genro, deverá ser eleita como candidata a Presidente. Nossa corrente, a CST, apoia esta proposta e batalhará para que haja uma verdadeira reviravolta na política, que a candidatura se vincule às lutas em curso no país, a uma democratização real das propostas dos nossos porta-vozes. Deve-se ter uma diferenciação imprescindível em relação ao governo e sua candidata Dilma e aliados, aos tucanos e a Campos/Marina e suas falsas alternativas, pois caso algum deles seja eleito, haverá um verdadeiro estelionato eleitoral, pois o que vem pela frente em 2015 é mais ajuste, inflação e arrocho contra os trabalhadores e o povo.

A política de alianças nacional deve impedir que em alguns estados como no AP, onde queremos derrotar o Sarney, ou PE, se consumam alianças fora do arco de classe, com PT, PMN, PCdoB, PMDB etc. Finalmente, caso Dilma chegue ao segundo turno, desde já é necessário que Luciana e o PSOL se comprometam em não apoiar sua candidatura nem de quem a enfrente sejam tucanos ou Campos. E fundamentalmente, que não aceitará doações financeiras das empresas, bancos, empreiteiras, etc.

A Convenção deverá indicar, também, um novo vice, que não poderá ser da US. Devemos propor ao PSTU, ao PCB e aos movimentos da classe trabalhadora e do povo em luta para conformar uma verdadeira Frente de Esquerda Nacional, Social e Política, e que se decida quem deles deverá assumir a vice, em torno de um claro programa alternativo do ponto de vista do povo trabalhador.

Este programa, deve partir do apoio as lutas em curso e sua unificação, à serviço das quais devem se colocar nossas candidaturas; o fim das privatizações e a re-estatização do Maracanã e de todas as estatais privatizadas; a Petrobrás 100 % estatal, o fim do pagamento da dívida publica e sua auditoria, o fim dos privilégios dos políticos, a auditoria nas obras da Copa, das Olimpíadas e das obras do PAC, entre outros pontos. Pois ao contrário da US/Randolfe, não acreditamos que as necessidades básicas do povo como saúde, educação públicas e transporte de qualidade, salário, emprego, terra, liberdade e direitos se conquistarão sem medidas de fundo e nos aliando com aqueles que massacram diariamente nosso povo, pois estamos convencidos que somente haverá uma verdadeira república quando o povo trabalhador esteja no real comando do país.

Denunciaremos a criminalização das lutas sociais e sindicais como a ocorrida recentemente na greve do Metro de SP onde nos juntaremos a campanha pela readmissão dos 42 demitidos pelo governo do PSDB.

Caso o PSTU e o PCB não aceitem a aliança nacional, ficará evidente, fundamentalmente por parte do PSTU, que sua política de alianças é equivocada pois só querem se aliar onde acham que podem se eleger, nesse caso não devemos aceitar nenhuma aliança estadual. Nessa situação, a Convenção deverá escolher um/a companheiro/a que junto à candidatura presidencial expresse as demandas de junho de das atuais greves e lutas pelas quais o povo brasileiro lutou e continua lutando.

Coordenação Nacional da CST/PSOL (Corrente Socialista dos Trabalhadores ) – 17 de Junho de 2014