Nota aos dirigentes do PSOL
| CST, 25 de Setembro
O debate sobre o segundo turno em Macapá toma conta do Partido. Várias notas circulam criticando a linha da corrente do senador Randolfe e do atual presidente do Partido, o deputado Ivan Valente. Participamos desse movimento e, junto a outras forças políticas, dirigentes e militantes independentes, combatemos as alianças que descaracterizam o PSOL.
Para contribuir com esse debate socializamos nossa visão sobre o segundo turno da outra capital onde o PSOL está na disputa: Belém do Pará. Em função dos erros políticos cometidos, nossa corrente enviou um texto aos dirigentes do PSOL no dia 25 de setembro. A nota circulou nas listas das direções estaduais e nacionais. De lá pra cá os erros e as alianças com partidos patronais só cresceram. Corretamente, fizemos o debate interno no partido, mas do outro lado a militância psolista do país inteiro foi surpreendida por declarações e coletivas de imprensa com a direita governista ou com a velha direita. A irresponsabilidade de expor nosso aguerrido e admirado partido é imperdoável.
A participação ativa da base pode corrigir o rumo da campanha em Belém e no Amapá, visto que ambas compõem uma só estratégia aplicada pelo grupo majoritário do PSOL. A seguir o texto:
Nota aos dirigentes do PSOL
Aproxima-se a data das eleições onde com certeza o PSOL terá um avanço na sua implantação e crescimento. O marco político e da luta de classes nos apresenta uma situação mais favorável à disputa eleitoral dos socialistas, haja vista as poderosas greves do primeiro semestre e as atuais de bancários e correios. Do ponto de vista político, o julgamento do mensalão somado à crise da economia que Dilma não consegue evitar, mesmo com sucessivos pacotes e “kits de felicidade” para os empresários.
Nas principais capitais o PT está muito mal. E ainda que possa crescer no número de prefeituras nos interiores, seu declínio é inegável, assim como o começo do desgaste de Dilma, que mesmo se jogando nas campanhas de SP e BH não consegue até o momento reverter um quadro eleitoral desfavorável às candidaturas petistas. Na capital paulista a possível derrota será fundamentalmente de Lula, que só pelo fato de correr o risco de não chegar ao segundo turno, já demonstra muita fraqueza. Em POA levará uma surra histórica; em Recife nem Lula consegue reverter o resultado ruim de seu candidato. No RJ se mimetizaram no projeto Paes-Cabral e no Pará ficaram reduzidos à marginalidade eleitoral com menos de 2 % nas pesquisas.
Das capitais onde o PSOL está mais forte eleitoralmente destacam-se Rio de Janeiro, Belém e Macapá, assim como Fortaleza. Na primeira, assistimos a um verdadeiro fenômeno com a candidatura Marcelo Freixo, que tem peso de massas na juventude, na intelectualidade, nos setores médios, universitários e artísticos e começou também a penetrar em amplos setores populares. O Ato do dia 21, quando mesmo sob uma forte chuva cerca de 15 mil pessoas – na sua maioria jovens – juntaram-se no comício do PSOL para escutar Marcelo, pode ter consequências ainda imprevisíveis no terreno eleitoral, abrindo possibilidades de um importante crescimento da candidatura. Em Belém existem possibilidades de vencer no primeiro turno e em Macapá as pesquisas indicam que chegaremos ao segundo turno com possibilidades de vencer.
No entanto, fazemos esta nota com a preocupação de problemas políticos que visualizamos na campanha Edmilson em Belém, que no nosso entender, caso não sejam corrigidos, levam a uma crescente desfiguração do caráter e do perfil do PSOL que irá se refletir inevitavelmente no futuro governo caso cheguemos lá.
Isto não significa que avalizemos o curso da campanha em Macapá, onde já a política de alianças com PPS, PMN, PTC, PV, PRTB sinalizavam o curso que adotaria a campanha, cujos principais candidatos a vereador expressam setores da burguesia local com campanhas milionárias.
Mas achamos especialmente grave Belém, pelo peso político que tem Edmilson e o próprio estado. Não vamos nos deter no erro de ter realizado aliança com o PCdoB, partido governista e corrupto, ou no fato de ter levado Marina – meio tucana e meio lulista – para apoiar Edmilson, fatos sobre os quais nos pronunciamos na oportunidade.
Estes não foram erros de percurso, mas parte de uma concepção que se repete agora. O erro talvez mais grosseiro foi o de ter levado no programa do PSOL imagens do Lula e Dirceu na época de inauguração de obras junto a Edmilson, no seu governo anterior, ficando agora claro que a aliança com o PCdoB tem um profundo significado de capitulação ao projeto petista. Infelizmente, isto foi reivindicado por um dos dirigentes da APS, quando criticado, insistindo que se por ele fosse, continuaria levando Lula nos nossos programas de TV. Temos também informe de recebimento de R$ 400.000 de empresários, quando sabemos fartamente que os empresários não fazem “contribuições” e sim “investimentos” e que exigirão retribuição no futuro. Por outra parte, o fato de Lula ter sido apresentado no programa do partido, abre a possibilidade de que os companheiros da APS (Dissidência) cogitem algum tipo de acordo com o PT caso Edmilson chegue ao governo, o que seria um erro fatal.
Pois sendo um partido agente dos interesses das multinacionais, dos madeireiros, do agronegócio e do sistema financeiro só pode contribuir em fazer retroceder o PSOL para o famoso “modo petista de governar” e governo “para todos” que terminou sendo, como não poderia ser de outra forma, o governo dos ricos e poderosos.
Ao invés de aproveitar o julgamento do mensalão para denunciar o modo corrupto petista de governar, levaram a imagem de Lula no programa do PSOL! Ao invés de aproveitar o discurso de Joaquim Barbosa, que denunciou a compra de votos para aprovar a Reforma da Previdência, nomeando que aqueles que não se curvaram (Babá, Heloísa, Luciana e João Fontes) foram expulsos, levaram a imagem de Lula e do mensaleiro Dirceu, o que confunde a população ao invés de ajudar a superar na consciência do povo a falsa ideologia de ver o PT e Lula como aliados.
Mas os erros se pagam, e este é, no nosso entender, o motivo fundamental do retrocesso nas pesquisas de Edmilson, independente se retrocedeu 2 ou 9%. Pois quando era mais necessário do que nunca polarizar, nossa candidatura adotou uma política de conciliação.
Isso é bem diferente do que a candidatura do PSOL faz no Rio. Marcelo afirma e repete que não queremos dinheiro dos empresários; educa as novas gerações afirmando que quem diz que governará “para todos” mente; polariza com a Fetranspor; denuncia o governo municipal e estadual como cúmplice das milícias; não capitula à popularidade da Copa e das Olimpíadas afirmando que não aceitará as remoções das populações em favor da especulação imobiliária. E ao invés de “namorar” com o PT, sua conduta fez com que setores petistas abandonassem o barco petista para vir apoiar a candidatura do PSOL. E, sobretudo, não cansa de repetir que alianças são programáticas ou não são, pois nos negamos a buscar “aliados” em troca de algum minuto de TV. Pois o que eles tem de tempo de TV nos temos de militância com a moral alta, que leva as bandeiras, os panfletos e a candidatura orgulhosamente sem receber um tostão. E quanto mais polariza Freixo com a candidatura de Paes e sua coligação de 20 partidos, mais cresce nas pesquisas e hoje já chega a 18% no Data Folha.
Achamos que nos poucos dias que faltam estamos ainda em tempo de mudar o rumo. Sair de forma ofensiva polarizando com o projeto tucano no Estado, profundamente entrelaçado com o do PT, pois tem a mesma política econômica – tal como o demonstram as privatizações e o privilégio do capital financeiro – e os une ao mesmo esquema corrupto da compra de votos que devemos denunciar. Sair na ofensiva significa acreditar na força dos trabalhadores, da juventude e do povo, defendendo sem vacilar suas reivindicações e necessidades, enfrentando seus verdadeiros inimigos que estão nos partidos do governo, tanto federal quanto estadual e municipal, sem especular com hipotéticos “aliados” de forma particular os que governam o país.
Mudar o rumo para obter uma vitória classista e socialista!
Corrente Socialista dos Trabalhadores – CST/PSOL
Babá – Silvia Letícia – Dorinaldo Malafaia – Candidatos a Vereador no Rio, Belém e Macapá Silvia Santos – Douglas Diniz – Michel Oliveira e Nancy de Oliveira Galvão – Diretório Nacional do PSOL.
25 de Setembro de 2012