Eleições na Grécia

Por Miguel Sorans, da revista Correspondência Internacional (UIT – CI) | Tradução Pedro Mara

ND e PASOK formarão governo, mas a crise não muda

O triunfo eleitoral da Nova Democracia (ND) por somente quatro pontos sobre a esquerda representada por Syriza foi festejado pelo FMI, Angela Merkel e Barack Obama. Todos temiam uma possível vitória da esquerda. A ND, aliada À PASOK (social-democratas), poderá formar o governo, mas o resultado não altera nada a respeito da crise social e da derrocada econômica grega, para o qual não tem saída a vista. A alta votação da esquerda mostra que os trabalhadores gregos seguirão lutando contra o ajuste.

Nas eleições legislativas da Grécia a Nova Democracia (ND) ficou em primeiro lugar, um partido patronal e neoliberal, com quase 30% dos votos, elegendo 75 parlamentares, enquanto Syriza conseguiu 26,5% dos votos, com 71 deputados. A lei eleitoral grega permitiu que a ND junte-se com o PASOK, que elegeu 33 parlamentares, para eleger um novo governo, com mais de 120 parlamentares, algo que não tinha sido alcançado na eleição ocorrida em Maio, o que gerou uma crise politica que obrigou uma nova eleição.

O triunfo da ND dá um ar politico de ajuste permanente contra o povo grego, como querem os empresários e a chamada “troika” da União Européia, o Banco Central Europeu e o FMI, somados à Angela Merkel e Obama. Um triunfo eleitoral da chamada “esquerda radical” de Syriza teria sido um grande golpe politico nos planos de ajuste fiscal, mas teve um impacto muito favorável entre os trabalhadores.

Apesar do “voto do medo”, Syriza fez uma grande eleição

O triunfo da ND não mudará a grave situação existente na Grécia. A grande crise econômica capitalista, num país que enfrenta cinco anos de recessão e tem uma taxa de desemprego próxima de 22,6%, se soma à crise politica e ao rechaço de milhões de trabalhadores e do povo grego aos partidos tradicionais e aos planos de ajuste.

A ND conseguiu passar dos 19% obtidos em Maio para os atuais 29%. Entretanto, o PASOK estacionou em 13%. Desta forma conseguiram formar o governo. Mas a realidade é que estes dois partidos, que aplicaram nos últimos anos os ajustes, encolheram de 78% de votos em 2009 para 43% nesta eleição. O PASOK, particularmente, foi o que mais encolheu, caindo de 44% em 2009 para 13% em 2012, uma queda vertical. Ou seja, os trabalhadores e setores populares os têm abandonado. E tiveram esta votação em grande parte à forte campanha que alastrou um “voto de medo” contra a esquerda, utilizando de todos os meios de comunicações imperialistas. O Financial Times, versão alemã, convocou voto diretamente na ND. Apesar disso a esquerda passou de 15% em anos atrás para 26,5%, inclusive tendo mais votos que nas eleições de Maio, quando chegou em 17%.

Syriza, enquanto um setor da centro-esquerda reivindicava governar com empresários e tinham como modelo o governo Chávez, levantou um programa que propunha anular os ajustes acordados com o FMI, entre os quais o rebaixamento salarial e reclamava a auditoria e o fim do pagamento da divida externa, entre outras medidas. Por isso recebeu votos de milhões de trabalhadores, jovens e setores populares, o que indica claramente que milhões giraram politicamente à esquerda, buscando uma saída anti-capitalista. Syriza canalizou o grosso do voto à esquerda, reduzindo votos de outros agrupamentos como o KKE (tradicional partido estalinista), que passou de 8% em Maio para 4,4%, e também à frente da “esquerda radical”, que tem um programa anticapitalista e socialista, que havia obtido 1,2% em Maio e agora baixou para 0,33%.

Por outro lado, o avanço do Amanhecer Dourado, uma formação neonazista manteve 7% de votos, com 18 deputados, o que mostra a polarização social existente em todo o processo revolucionário. São eles que propõem, por exemplo, a expulsão dos imigrantes.

A alegria do FMI, de Merkel e de Obama será efêmera

O triunfo eleitoral da ND não mudará os problemas de fundo que existem na Grécia e na Europa (cuja crise se agudiza na Espanha e Itália). Por isso a alegria de Obama e companhia durará pouco, justamente quando a reunião do G-20, no México, vai ratificar que o capitalismo está em uma crise histórica. Tudo indica que um novo governo, formado pela coalização da ND-PASOK seguirá com os planos de austeridade, pactuado com a Troika (Uniao Européia, Banco Central Europeu e FMI).

A alta votação dada à esquerda indica que os trabalhadores gregos, que já fizeram 17 greves gerais, unidos aos aposentados, aos estudantes e setores populares, seguirão lutando contra o ajuste e cortes, com um sentimento anticapitalista, na perspectiva de mudanças de fundo que a Grécia necessita e de uma nova direção socialista e revolucionária.