Cuba: se fortalece a aliança Igreja-Castro
Ratzinger, conhecido por suas posições reacionárias, foi festejado pelo governo cubano. | Mercedes Petit (El Socialista, Argentina), tradução Felipe Melo
Cuba e a visita do Papa
Joseph Ratzinger, conhecido por suas posições reacionária, foi festejado durante três dias pelo governo cubano. Se fortaleceu a aliança entre a Igreja católica e os irmãos Castro para consolidar o retorno ao capitalismo e a falta de liberdades.
Desde México, para ficar bem “com Deus e o Diabo”, o Papa falou algumas palavras sobre “o fracasso do marxismo”. De aí em diante, tudo foi flores com o regime castrista. Negou-se a reunir com as Damas de Branco ou qualquer outro dissidente, e sua consigna foi: “Cuba e o mundo precisam mudar”. Não despertou o mesmo entusiasmo que seu antecessor em 1998, João Paulo II. Na missa, o povo encheu a Praça da Revolução, mas sem o fervor e majoritariamente levada pela pressão do governo. Fora as reuniões com Raul Castro, teve 30 minutos com Fidel. Obviamente, Ratzinger condenou publicamente o bloqueio econômico por parte dos EUA.
Agora pedem educação religiosa
Na última visita de João Paulo II, se restabeleceu o feriado de Natal e agora a sexta-feira santa. Abstraindo os rumores, o Papa pediu algo muito mais importante e concreto: que os padres possam oferece educação básica e universitária. Este seria um novo passo no crescente papel político e social que a Igreja Católica vem desempenhando há muito tempo em Cuba.O episcopado teve um papel protagônico há dois anos quando negociou com o governo de Raul Castro a liberação de várias dezenas de dissidentes presos por razões políticas. Tanto com instituição, como através das inúmeras paginas de internet e publicações que influencia, a Igreja vem aprovando e encorajando as reformas capitalistas do governo. O eterno duplo discurso do cristianismo conflui com as mentiras do governo cubano sobre a “atualização do socialismo”, fortalecendo-se mutuamente.
Um artigo recente da Juventude Rebelde (Patria e Fé, 17/3/2012) lembrou que no informe central do VI Congresso do ano passado, Raul estimulou “a unidade entre a doutrina e o pensamento revolucionário com relação à fé e os crentes”. Oficialmente já se vem impulsionando a devoção à Virgem da caridade do cobre, “a virgem mambisa”, em uma campanha encabeçada pelo poderoso “historiador de Havana”, Eusebio Leal.
Fidel Castro já disse a Frei Betto em 1985: “Com a Igreja Católica tivemos dificuldades que já foram superadas há anos, todos aqueles problemas que um dia existiram, desapareceram” (Fidel e a religião). Por isso, o editorial oficial do Granma que recebia o Ratzinger destacou “as excelentes e ininterruptas relações entre a Santa Sede e Cuba”.
A conferência de Carlos Saladrigas
Coincidindo com a viagem do Papa, a ilha recebeu outro visitante: Carlos Saladrigas, cubano exilado desde criança em Miami. Este importante empresário encabeça o Vincan Group, estimada em 1998 como a maior empresa hispânica dos EUA. Segundo ele, influenciado por sacerdotes católicos tempos atrás, abandonou seu forte anticastrismo. Ao calor das grandes mudanças na ilha nos últimos 20 anos, vem impulsionando o rechaço ao bloqueio econômico e cobrando que se abram as condições para que o empresariado cubano da “diáspora” possa se somar às reformas capitalistas. Em 30 de Março fez uma conferência aberta pela primeira vez em Havana, no Centro Cultural Padre Félix Varela, convocada pela revista da igreja Espaço Laical. Participaram cerca de uma centena de pessoas diversas como o vigário da igreja católica e ensaísta Carlos Manuel de Céspedes, o acadêmico do PC Cubano Esteban Morales, o conhecido crítico do boletim Socialismo Democrático e Participativo, Pedro Campos, e outros membros do Partido Comunista, o economista opositor Oscar Espinosa Chepe, y a bloguera Yohanni Sánchez, entre outros.
O eixo de sua exposição foi o chamado – ao exílio primeiro lugar – a deixar de lado o confronto com o governo castrista e a apoiar com recursos financeiros e humanos o setor privado que vem crescendo pelas reformas em curso.
Em abril do ano passado visitou Havana e quando foi entrevistado pela revista católica Palabra Nueva disse com satisfação que desde seu Grupo de Estudos Cubanos haviam proposto até o pleno-emprego e a pequena propriedade tais como encaradas por Raul Castro. Saladrigas também reclamava a livre ação do “capital de origem cubano” e o do exterior, “que igual ao capital estrangeiro fluirá até Cuba em grande quantidade atrás de um espaço competitivo” (Palabra Nueva).
O governo do PC cubano nega liberdades políticas e sindicais ao povo, na mesma proporção que segue abrindo espaços a sua sócia na restauração capitalista, a Igreja Católica, quem trás em suas mãos os ricos empresários cubanos de Miami.