Situação Real em Cuba 2:
Papa celebra missa de finados para socialismo Cubano | CST, com informações de Laclasse.info
Nas últimas semanas, Cuba voltou ao centro da discussão política mundial. A visita de Bento XVI demonstrou inteiramente o giro à direita do PC Cubano (PCC) e, ao mesmo tempo, o apoio do Vaticano à restauração do capitalismo na Ilha.
O Papa não escondeu o caráter contra-revolucionário da Igreja e muito menos escamoteou seu passado pessoal ultra-conservador. Dias antes de desembarcar em Santiago de Cuba, ainda em território mexicano, declarou que a “ideologia marxista” já não corresponde “a realidade”.
Os irmãos Castro não criticaram esse discurso porque não defendem o socialismo e há tempos aplicam medidas de restauração do capitalismo. No último congresso do Partido Comunista Cubano foram mais longe e aplicaram um plano de ajuste econômico atacando os direitos sociais que ainda restam aos trabalhadores e ao povo.
A Igreja é o ponto de apoio internacional (e imperialista) que a burocracia governante necessita para seguir com sua política, sobretudo no que compete ao controle das massas. Há um sólido acordo entre o PCC e o Vaticano nesse tema, como o demonstrou a atuação unificada contra os dissidentes que decidiram entregar uma carta ao Papa solicitando liberdades democráticas. Após a ocupação da Igreja de Nossa Senhora da Caridade em Havana, aconteceram várias prisões ordenadas pela Ditadura, tudo com a benção do “Santo” Padre.
Em inúmeros países do nosso continente o fundamentalismo religioso cristão se fortalece. Sua influência política reforça o que há de mais atrasado na consciência de nossa classe e revigora as tendências obscurantistas e homofóbicas da sociedade. Exemplos são o papel da bancada religiosa no congresso nacional brasileiro (setor incorporado no Ministério de Dilma) ou a posição anti-aborto no segundo turno da última disputa presidencial. Mais do que nunca a esquerda não pode baixar a guarda frente a esses setores. No entanto, o PCC fez o oposto. Como parte das negociações secretas com o Vaticano teve que decretar feriado católico na última sexta-feira dia 06 e ainda transmitiu pela TV estatal o sermão do cardeal cubano. Uma medida simbólica do rumo conservador do PCC, pois a burocracia jogou na lata do lixo o caráter laico do Estado.
Diante desses fatos decidimos publicar uma série de artigos que apareceram na página “La Classe.info”, organizada por militantes da esquerda classista venezuelana com os quais mantemos relação. De lá extraímos textos de Pablo Stefanoni, diretor da Edição Boliviana do Le Monde Diplomatique e Roberto Cobas Avivar, economista Cubano atualmente residindo no exterior. A liberdade que tomamos ao publicar os textos desses dois autores de forma alguma pode levar a que sejam responsabilizados ou vinculados a nossas posições. O fizemos unicamente para dar uma visão mais ampla acerca dos últimos acontecimentos.
Mantendo firme o propósito editorial que nos levou a lançar a seção “situação real em Cuba”, respondemos ao Papa que o marxismo revolucionário segue mais vigente do que nunca. O que não corresponde à realidade é o sistema capitalista, com sua crise econômica abatendo-se sobre o mundo todo. Por isso é irracional o caminho capitalista traçado pela burocracia, que contraria todos os ensinamentos da revolução de 1959. Não foi o socialismo que deu errado em Cuba, como propagam os jornais da mídia corporativa após os discursos de Bento XVI. O que não deu certo foi tentar manter a construção socialista nas fronteiras da ilha, impedindo sua extensão na América Central nos anos 1970 e 1980, quando Fidel aconselhava “não fazer de Nicarágua uma nova Cuba” e “não fazer de El Salvador uma nova Nicarágua”. O que não deu certo em Cuba foi o apoio à política externa da burocracia soviética, como, por exemplo, na invasão da Tchecoslováquia pelo exército da URSS em 1968. Ou seja, a burocracia governante se negou a aplicar a política defendida por Che Guevara de “fazer dois, três, muitos Vietnãs”, estender a revolução por toda a América Latina e outros países.