Direto do Chile: Brigada Indignada 2º dia – 600 mil nas ruas de Santiago
| Barbara Sinedino e Julia Schimidit
25/08 – 2 dia do Paro Nacional – 600 mil nas ruas
O dia começou novamente com barricadas. Hoje foi o dia do grande ato unificado no centro de Santiago. Mais uma vez a indignação irreverente tomou conta das ruas.
O ato iniciou as nove da manhã com quatro marchas que após quase quatro horas de caminhada se juntaram na praça em frente ao Palácio de La Moneda, a sede do governo. Quando lá chegamos o aparato da repressão estava organizado: camburões, micro-ônibus, cachorros e a cavalaria da policia preparada para agir.
O clima de tensão era muito grande e a própria polícia estava muito assustada com a multidão indignada e mobilizada por educação gratuita e de qualidade, que luta também pela saúde publica e por melhores condições de trabalho. O espírito indignado não se dirigia apenas a reformas nestas áreas, mas a todo politica do governo Piñera. O movimento exige uma reforma constituinte no país.
“Adelante, adelante, obrero y estudiante, atrás, atrás, gobierno incapaz”
Foi muito emocionante estar ali com um número de pessoas que para nós era incontável por nunca termos participado de uma mobilização deste porte. Segundo a CUT ( Central Unitaria de Trabajadores), que convocou a jornada de 48 horas de paralização, haviam mais de 600 mil pessoas no centro de Santiago.
O ato foi acompanhado por helicópteros da polícia que fiscalizavam toda a multidão e estavam prontos para lançar bombas de gás lacrimogênio a qualquer momento. Muitas pessoas levavam e compravam limões (que eram vendidos na marcha, pois amenizam o efeito do gás). O comércio estava todo de portas fechadas. Os poucos funcionários que foram trabalhar se juntaram para observar, boquiabertos, o grande ato que dominava as ruas.
Enquanto os 600 mil estavam nas praças a policia não se atreveu a usar a força. Mas, após a dispersão, houve repressão aos manifestantes que resistiram nas praças.
Os dados apresentados pelo governo contam que nos dois dias de paralização houve 1.394 detidos, 153 policiais lesionados e 53 civis feridos, o que é questionável, uma vez que o aparato repressor é muito discrepante do material dos manifestantes. O governo não abre diálogo com o movimento e as ações de resistência dos manifestantes são formas de defesa contra a violenta repressão da policia, e não “vandalismos descabidos” como afirmam a mídia e o governo.
Em outras cidades, além de grandes manifestações, grupos radicais saquearam, em gestos simbólicos, igrejas, bancos, lojas do Mc Donald´s e escolas privadas.
Essa foi mais uma noite de panelaços e de barricadas nas muitas esquinas de Santiago. A repressão atuou firme e se aproveita de movimentos mais dispersos para atuar com toda força. Infelizmente houve uma fatalidade essa madrugada: um estudante de 16 anos foi assassinado próximo a uma barricada. Enquanto a polícia se isenta da responsabilidade pela morte do jovem Manuel Gutierrez e se recusa a investigar, a família afirma e insiste ter visto a policia realizar três disparos, tendo um deles atingido o peito do menino.
A fatalidade não desanimou o movimento e foi marcada uma nova manifestação, agora contra o assassinato do jovem pelo governo Piñera.
“Podrán cortar todas las flores… Pero no detendrán la Primavera!”
Manuel Gutierrez (1996-2011)
Presente!!!