O modelo chileno em crise
| Federico Novofoti – Enviado especial ao Chile
O modelo chileno de Piñera é classificado pelo imperialismo e vários governos como exemplo de “desenvolvimento” e abertura ao mundo na região. No entanto, as lutas estudantis e populares vem o colocando em crise porque é um modelo neoliberal sustentado na repressão para garantir o saque dos recursos naturais e uma crescente exploração dos trabalhadores.
Massivas mobilizações estão pondo Piñera em xeque
Fomos convidados pelos companheiros que participam da ACES (Assembleia Coordenadora dos Estudantes Secundaristas) a conhecer a “segunda revolução pinguina”. Graças a eles participamos de sua assembleia junto com os “voceros” (representantes) de 40 colégios de Santiago. Visitamos as universidades paradas e uma infinidade de colégios ocupados e conhecemos aos estudantes em greve de fome. Em uma primeira vista é evidente que o governo de Piñera atravessa uma verdadeira crise política. Sua popularidade caiu a menos de 30%. Diante do questionamento, optou pela repressão aberta e descarada e tornou ilegal as mobilizações estudantis. Todos os dias, estudantes menores de idade são detidos e agredidos por policiais, como aconteceu com Recaredo Gálvez, presidente da Federação Universitária de Concepción, a quem fraturaram o crânio e o detiveram estando inconsciente.
A luta estudantil começou em maio. Eclodiu após o anúncio do corte de bolsas, como parte de um pacote de medidas para terminar de privatizar e elitizar a educação. A resposta estudantil foi contundente. Mobilizações semanais com mais de 300 mil pessoas, 700 colégios ocupados e 22 universidades paralisadas. Os estudantes reivindicam educação estatal e gratuita, passe escolar gratuito, melhoras nas escolas técnicas e fim do lucro na educação. No Chile não existe a educação gratuita. Só 15% do orçamento da educação é uma contribuição do Estado. Os 85% restantes é pago pelos estudantes e suas famílias, que devem endividar-se com créditos usuários para pagar altas mensalidades em estabelecimentos privados, semi e estaduais. A continuidade da luta obrigou Piñera a dar marcha ré e anunciar o GANE (Grande Acordo Nacional pela Educação). Com esse plano, Piñera prometia uma injeção de 4 bilhões de dólares para bolsas, empréstimos a juros baixos (4%) e outras medidas. Ao mesmo tempo, legalizava o lucro educativo que, apesar de ser ilegal, o governo administra. Um novo rechaço estudantil obrigou o presidente a mudar, no dia 18 de julho, quase todo seu gabinete de ministros, começando por Lavin, da educação.
Piñera mudou seu gabinete porque o conflito estudantil canalizou o descontentamento social geral. As mobilizações são estudantis e populares. Participam professores, trabalhadores, “pobladores” (habitantes das favelas destruídas pelo terremoto), mapuches e outros. 2011 é um ano de ascenso das lutas. No início de Maio foi a luta contra HidroAysén e por uma “Patagonia sem represas”. Todas as sextas se mobilizavam mais de 100 mil pessoas em Santiago contra a construção de uma mega represa na localidade de Aysén (Patagonia) que iria fazer desaparecer parques naturais e comunidades inteiras. O movimento conseguiu frear a obra. No dia 11 de julho foi realizada uma paralisação nacional dos trabalhadores do cobre, que denunciaram a privatização encoberta da Codelco (empresa mixta). 3 mil trabalhadores em La Escondida (Antofagasta, norte) exigem aumento salarial ligado a produtividade e os contratados (terceirizados) de El Teniente (Rancagua, centro) reclamam aumento salarial e renacionalização do cobre, uma indústria que gera 35 bilhões de dólares anuais. As lutas parciais levaram a um questionamento do modelo neoliberal e ao regime que o sustenta. Começa a se reivindicar uma profunda reforma na constituição, instaurada em 1980 por Pinochet. Pela pressão popular, a CUT (Central Unificada dos Trbalhadores) deverá chamar uma paralisação nacional nos dias 24 e 25 de agosto por reforma tributária, saúde e educação para todos, novo código trabalhista, modificações no sistema previdenciário e uma nova constituição.
É necessário nos solidarizarmos com a luta do povo chileno. É preciso que denunciar a brutal repressão aos estudantes e setores em luta. Apoiar suas reivindicações pela estatização, gratuidade e o fim do lucro na educação. E a reclamação dos trabalhadores pela renacionalização do cobre, cujos lucros resolveriam os problemas da educação e sociais da maioria do povo chileno. A CUT deve mobilizar com força nos dias que marcou o movimento de luta, e não apenas fazer tímidas chamadas. Tudo no marco de impulsionar a mobilização para terminar com um governo e um regime sustentado na repressão e na criminalização dos movimentos de luta.
Extraído e traduzido do site: http://uit-ci.org/