As novas tarefas da Revolução Egípcia

Declaração UIT-CI 18/02/11 | www.uit-ci.org

A queda do ditador Mubarak foi um imenso triunfo da mobilização revolucionaria do povo egípcio, de seus jovens e dos trabalhadores. Durante 18 dias eles produziram uma insurreição popular marchando e tomando a praça da liberdade no Cairo e se mobilizando em todo o país.
Foram milhões os que festejaram no Egito e em todos os países do mundo esta vitória do povo egípcio.
A classe trabalhadora egípcia irrompeu com toda sua força com uma onda de greves. A luta do povo egípcio continua para impedir que os militares e a oposição burguesa e islâmica abortem o processo revolucionário aberto para conseguir uma verdadeira mudança de fundo político e social.
O Egito mostrou o poderio das massas mobilizadas.
A revolução egípcia deu um grande exemplo para os povos do mundo, como antes havia dado a revolução tunisiana, derrubando outro ditador. No Egito se mostrou que as massas mobilizadas tem um poder para conquistar vitórias que a tempos atrás pareciam impossíveis.
Durante semanas conseguiram derrotar a policia e paralisar um dos maiores exércitos do mundo. Mubarak ordenou que o exército fosse às ruas para impor o toque de recolher que nunca se cumpriu. Os soldados com seus tanques terminaram confraternizando com o povo. Os altos comandos ficaram paralisados e não puderam dar a ordem para reprimir.
O povo mobilizado derrotou também os bandos fascistas de Mubarak que tentaram enfrentar a população concentrada na Praça da Libertação. Jogaram-se para desgastar a mobilização e não conseguiram. Mubarak fez uma última tentativa para se sustentar no poder com um discurso que anunciou que iria seguir no poder e o único que ele conseguiu foi aumentar ainda mais a mobilização. No outro dia, Mubarak fugia do Cairo. Triunfava a revolução. Nos últimos dias foi decisiva a virada da classe trabalhadora para terminar de inclinar a balança. Milhares de trabalhadores declararam greves em todo o país. Até os trabalhadores do Canal de Suez paralisaram seus trabalhos.
A Queda de Mubarak é uma grande derrota política do imperialismo ianque.
Mubarak e seu regime eram peças chave para a política do imperialismo no Oriente Médio, de sustentar o estado sionista de Israel, buscando submeter o povo palestino que resiste de forma heróica. O Egito é o maior país do mundo árabe com 80 milhões de habitantes e junto com a Jordânia, são os únicos países árabes que reconhecem Israel. Tão agente dos ianques era Mubarak, que sustentava um bloqueio na fronteira da Faixa de Gaza, para colaborar com Israel na tentativa de debilitar a luta dos palestinos.
Por isso Obama, o imperialismo europeu e Israel tentaram de todas as formas possíveis que Mubarak se sustentasse no poder e que, como mínimo, não fosse derrubado pelas massas.
Buscaram montar uma “transição” acordada com a oposição burguesa ao regime, com Baradei e a Irmandade Mulçumana. Tudo isso fracassou.
A queda de Mubarak significa outra dura derrota do imperialismo ianque na região e de seu aliado Israel. Desta maneira se agrava a crise política e militar que o imperialismo vive desde a derrota militar sofrida no Iraque com o fracasso da invasão.
O medo de todos os governos do mundo do efeito contagiante da revolução, fez com que não se pronunciassem nem apoiassem abertamente a mobilização do povo egípcio. Os supostos governos “antiimperialistas” como Chávez, Evo Morales, o governo do Irã ou a OLP, todos ficaram calados. Até o Hamas proibiu a marcha dos palestinos da Faixa de Gaza, em solidariedade com o povo egípcio. Logo depois da queda de Mubarak, todos eles saíram a “saudar” o povo egípcio.
Este imenso triunfo do povo egípcio, somado ao da Tunísia, debilita o imperialismo e impacta sobre todos os povos árabes da região que enfrentam a outros regimes ditatoriais e pro – imperialistas. Por isso se multiplicam as mobilizações no Iêmen, Líbia, Argélia, Jordânia, Bahrein e Iraque. Está aberta a possibilidade de novos triunfos revolucionários dos povos árabes. Tudo isso favorece também a causa do povo palestino e aprofunda a debilidade do imperialismo ianque.
Triunfou uma revolução democrática, a luta continua. No Egito triunfou uma revolução democrática, os trabalhadores, a juventude e o povo egípcio derrubaram uma ditadura. O fato de que estejam no governo os militares, não significa que não tenha triunfado uma revolução. Trata-se de um primeiro grande triunfo. A ausência de uma direção revolucionária, por enquanto, tem impedido que a revolução culmine com um poder dos trabalhadores e do povo.
Pela composição militar do novo governo pode-se pensar que nada mudou, que a ditadura continua. Mas de nenhuma maneira é assim.
As massas mobilizadas quebraram a ditadura. O Conselho Supremo mesmo comandando um exército tem um poder muito precário. Os militares, pressionados pela mobilização revolucionaria, tiveram que ceder com algumas das reivindicações democráticas da revolução. Dissolveram o parlamento, suspenderam a Constituição da ditadura, ratificaram que só ficarão 6 meses no poder e que farão as eleições em setembro. Os militares não puderam derrotar a mobilização e, muito menos, puderam dar um golpe contra-revolucionário. As Forças Armadas não tiveram outra saída que tomar o governo, com apoio do imperialismo e da oposição burguesa e islâmica, para evitar que se aprofundasse a revolução com uma possível divisão militar, com um setor dos soldados e suboficiais passando com suas armas a somar-se ao povo.
Desde já o governo militar não pode ser apoiado nem o povo egípcio pode depositar nenhuma confiança neles, como fizeram a Irmandade Mulçumana e o político liberal Baradei. É um governo capitalista pro imperialista e, por tanto, inimigo dos trabalhadores e do povo. Por isso, junto com os anúncios apontados, também ratificaram os pactos militares com o imperialismo e Israel, para dar “tranqüilidade” a estes inimigos do povo.
Os trabalhadores e o povo egípcio têm demonstrado a decisão de seguir mobilizados para impor suas reivindicações democráticas, políticas e sociais.
As novas tarefas da revolução egípcia e a luta pelo poder dos trabalhadores e do povo A contradição da revolução egípcia radica em que enquanto foram as massas, a juventude, com seu Movimento 6 de Abril, os trabalhadores e os setores populares os que derrubaram a Mubarak, no poder estão os militares com o apoio do imperialismo e a oposição burguesa e islâmica.
No Egito triunfou uma poderosa revolução que em seus primeiros momentos conseguiu conquistas democráticas fundamentais, como a liquidação de Mubarak e seu regime ditatorial, e a liberdade de mobilização de organização. No entanto, a revolução segue aberta e as massas aspiram mais, como conseguir empregos, salários dignos, maiores liberdades políticas e sindicais, a soberania nacional, etc. Isto entra em contradição com a política imperialista, com a cúpula do exército e com as direções opositoras burguesas e islâmicas, que sonham em fazem aos maiores esforços para que a revolução não transcenda as reivindicações democráticas e não avance claramente em uma perspectiva operaria e socialista.
O povo egípcio não saiu para reclamar somente liberdades democráticas, senão também contra o desemprego massivo e os salários de fome nas empresas privadas, bancos e empregados públicos. Estes males são produzidos pela dominação das multinacionais associadas à burguesia local e aos corruptos governantes a seu serviço. Para resolver isto é necessário tomar medidas de expropriação das multinacionais e dos bens dos governantes, os militares e suas famílias, que representam a maior parte da burguesia local. Melhor dizendo, é necessário tomar medidas anticapitalistas e socialistas para poder cumprir as reivindicações de justiça social.
Para os socialistas revolucionários, o processo revolucionário deve continuar porque agora, mais do que nunca, está colocado que a tarefas pendentes democráticas, antiimperialista e anticapitalista só podem se resolver positivamente com um governo dos trabalhadores e do povo, do Movimento 6 de abril, dos sindicatos e as organizações populares, dos que se jogaram para derrubar a Mubarak.
O povo se retirou da Praça, mas segue em alerta. Agora saem com toda força os trabalhadores pelas suas reivindicações. É necessário lutar para rejeitar o aumento de 15% decretado por Mubarak exigindo que se outorgue um aumento de emergência generalizado que cubra a cesta básica. Fala-se da fortuna de Mubarak de cerca de 70 bilhões de dólares, há que exigir que se apreenda esta fortuna corrupta e todas a propriedades dos homens do regime, para voltar este dinheiro para as necessidades do povo. Não basta a dissolução do Parlamento, que se dissolvam todos os organismos repressivos, que se prenda e julgue aos assassinos do povo. Fora o estado de emergência! Que se autorize a liberdade de organizar política e sindicalmente aos soldados e aos suboficiais das Forças Armadas. Que sejam reestatizadas todas as empresas que foram privatizadas pela ditadura, sobre o controle e administração dos trabalhadores. O novo governo fala de modificar a constituição, mas o querem fazer de costas para o povo negociando nos bastidores com a oposição burguesa e islâmica. Há que rechaçar tudo isso e reivindicar que se convoque a eleições de uma Assembléia Constituinte Livre e Soberana, onde o povo debata tudo e resolva reorganizar o país a serviço das necessidades dos trabalhadores e do povo.
A classe trabalhadora vai às ruas
Uma das expressões do trunfo revolucionário é a irrupção da classe trabalhadora. Mesmo quando o conselho Supremo proibiu as greves, ninguém obedeceu. As greves se multiplicam até convertessem em uma greve quase geral. Estão na luta os trabalhadores dos ministérios, incluindo o estratégico ministério do petróleo, da Saúde e cultura, ocupando seus lugares de trabalho, reivindicando uma melhora salarial e a saída dos altos funcionários relacionados à corrupção. Estão fazendo paralisações, protestos e ocupações de seus locais de trabalho por melhoria em sua condição de trabalho os têxteis, ferroviários, trabalhadores de telecomunicações, correios, bancários, professores, petroleiros, alumínio, farmacêuticos, trabalhadores do Canal de Suez e até policiais exigem um salário igual aos militares e foram a Praça Tahrir para dizer que se solidarizavam com a revolução. Os funcionários da maior empresa publica têxtil do país, Misr (24.000 empregados), em Mahalá al Kubra, no delta do Nilo, suspenderam sua greve indefinida, mas anunciaram seguir lutando por salários.
A agência oficial de noticias Al-Ahram relatava: “O vice presidente do Sindicato dos Trabalhadores Egípcios, Mastafa Mongry, permanece detido desde segunda-feira (7 de fevereiro) pela manhã por empregados para exigir sua imediata renuncia”. O segundo chefe da corrupta burocracia sindical foi detido pelos seus próprios empregados! Ao mesmo tempo se constituiu uma nova Federação de Sindicatos Independentes.
Mahmud Nassar, líder do Movimento de jovens, afirmou que não suspenderam os protestos até que sejam liberados todos os presos políticos. O Conselho Supremo tenta todos os dias desmontar esta poderosa corrente revolucionária, mas até agora não obteve êxito.
Desenvolver e fortalecer os novos organismos sindicais e populares
As manifestações operárias, juvenis e populares continuam. Este é o caminho para seguir lutando por uma verdadeira mudança de fundo. Por isso também a revolução egípcia põe sobre o tapete a questão da direção política do processo revolucionário.
Frente à ausência de uma direção política revolucionária se corre o risco de que esta grande revolução se congele. Por isso os revolucionários apostamos e incentivamos que as massas passem por cima das direções burguesas e pro imperialistas, construam sua própria ferramenta política revolucionaria e dêem uma perspectiva socialista, como hoje se vive em pequena escala na bacia mineira da cidade de Redeyef, na Tunísia, onde os sindicatos tomaram o controle do governo.
A experiência do processo revolucionário e das lutas operárias dos últimos anos, permitiram avanços organizativos e na consciência política, muito importantes. Como colocam os trabalhadores metalúrgicos de Helwan é necessário, de imediato, desenvolver e fortalecer os comitês operários e populares, verdadeiros organismos de duplo poder existentes, assim como o movimento juvenil 6 de abril, os sindicatos que chamaram as greves, a novo Federação de sindicatos independentes e também propor comitês democráticos de soldados e suboficiais para defender a revolução.
Chamamos a solidariedade com os trabalhadores e a revolução egípcia e de todos os países árabes, exigindo: Fora o imperialismo ianque e europeu dos países árabes e Oriente Médio!
Fora as tropas ianques do Iraque, Afeganistão e de todas suas bases da região! Ruptura de relações com Israel e apoio a luta Palestina! Abaixo as corruptas ditaduras árabes!

Secretariado Internacional da UIT-QI

18 de Fevereiro de 2011