A CST e a III Conferência Eleitoral
| Carta da CST e da campanha de Babá
Os delegados e as delegadas a esta Conferência estão conscientes de que nosso partido passa por uma situação muito crítica, o que aumenta nosso desafio. Desde o II Congresso, quando o setor que ficou em minoria ameaçou rachar e paralisou o evento, até hoje, a unidade do partido está por um fio.
O apoio explícito à Marina Silva por parte de dirigentes colocou o PSOL frente à possibilidade de se converter em força auxiliar de um partido e de uma candidatura que sustenta a política econômica de Lula, assim como a de FHC.
Se essa orientação fosse levada até o fim traria uma conseqüência grave: o fim do PSOL como um partido de esquerda, independente, alternativo dos diferentes blocos dominantes e de seus satélites; o fim do PSOL de combate e radical, comprometido com o resgate das lutas históricas e imediatas do povo trabalhador, traídas pelo PT.
Apesar deste quadro, estamos reunidos nesta III Conferência, com os delegados eleitos, para discutir qual será o candidato que representará o Partido na disputa de outubro. Isto é um triunfo gigantesco, pois significa que, no PSOL, há resistência, há reservas políticas e morais. Há um setor de dirigentes, uma maioria na base, a qual não aceita transformar o partido em uma legenda eleitoreira, que não aceita negociar seu programa e seus princípios para tentar obter, a qualquer custo, alguma vaga parlamentar. E os que defendem essa posição estão empenhados em que o partido tenha êxito também nas disputas eleitorais, ponto de apoio para nossa luta cotidiana no movimento social.
Há resistência e a firme decisão de milhares de militantes em manter a independência política e financeira do partido, exigindo que seu Estatuto seja cumprido. Não aceitando doações de empresas como a da multinacional GERDAU, ou da fabricante de armamentos TAURUS. E felizmente há uma maioria que não aceita fraudes para forjar uma pretensa e auto-intitulada “maioria” que não corresponde à realidade atual do partido.
A crise que vive o PSOL não é só de método e de procedimentos. Trata-se de uma crise política, cuja razão é a tentativa de mudar seu caráter, retroceder em seu programa, alterar seu perfil e, até, sua breve história. Com o discurso de não “se isolar num gueto” um setor de dirigentes, na busca desesperada de resultados eleitorais para seus candidatos, decidiu, novamente, apelando a argumentos falsos ou grosseiramente distorcidos, por métodos característicos de nossos inimigos de classe: financiamento do capitalistas (votado na conferência gaúcha), acordos e alianças sem base política e de princípios, como por exemplo, coligar com partidos da base governista, como agora nas negociações com o PMN no Acre. Somos parte dos que querem que o PSOL ocupe o espaço que existe à esquerda no país, porém não venderemos nossa consciência, não mudaremos nossos princípios, não abandonaremos nosso programa para supostamente conseguir isso. Quem seguir a linha de tal transformismo já pode visualizar seu futuro na falência do PT e na degeneração de seus dirigentes.
Mudar o caráter do partido significa afastar o PSOL das lutas e das necessidades do povo trabalhador. Significa enterrar a definição marxista de que sem mobilização e luta do movimento de massas nada será conquistado, substituindo-a por um suposto projeto de “poder” baseado no pragmatismo eleitoral e na mera conquista de mandatos, desconectados de nossa classe.
A fração que foi vanguarda na defesa do apoio à Marina e que lançou Martiniano para manter a defesa dessa política, a fração de Heloísa/MES/MTL, atribui à “conjuntura” suas próprias contradições e impotência. Esquecendo que o dever de um revolucionário é a militância permanente para organizar e mobilizar setores do movimento de massas, em qualquer conjuntura, em torno de suas necessidades imediatas, desenvolvendo suas forças na perspectiva de um projeto de poder para que sejam os trabalhadores e o povo os que decidam e governem, de forma independente da burguesia e de seus partidos por meio de novas instituições.
Com o objetivo de proceder a uma mudança tão brutal, adaptada ao regime e ao Estado burguês, é que precisaram apelar aos métodos tradicionais dos partidos da burguesia: a fraude, o vale tudo, o personalismo e o “caudilhismo” por cima das instâncias e das deliberações coletivas da militância.
Mas, é possível afirmar, apesar da grave crise, que conseguimos dar passos à frente, pois não cedemos às chantagens no Congresso, derrotamos à política de apoio à Marina e ao PV, derrotamos o estado de exceção, impedimos o golpe de março e estamos firmes e unidos para impedir a fraude e outras manobras.
Nesta caminhada, a candidatura de Babá apresentou, por todos os lados, esta visão e nossas propostas para que o PSOL retome seu rumo, seu projeto fundacional: ser uma alternativa de esquerda e de classe frente à traição de Lula e à falsa oposição da direita tradicional. Uma alternativa de poder para o povo trabalhador brasileiro, de ruptura com a ordem estabelecida.
E neste percurso, conforme Babá expressou na reunião do DN de Abril, tivemos a imensa alegria de andar lado a lado com o companheiro Plínio de Arruda Sampaio, também pré-candidato à Presidência e apoiado por uma maioria expressiva de nossa militância.
Ao afirmar que caminhamos lado a lado ressaltamos de forma coerente que temos importantes debates a fazer com Plínio e muitos dos que o apóiam. Temos, sim, divergências, por exemplo, com o Programa Democrático e Popular que reivindicam os companheiros da APS, e com o marco de alianças que sempre defenderam. Mas, é preciso saber reconhecer como revolucionários quais as tarefas inadiáveis em cada momento. Na defesa de nosso partido frente à tentativa de desfiguramento, estivemos junto com Plínio, com quem destacamos dois acordos fundamentais: tanto Babá, quanto Plínio, rejeitaram o apoio à Marina/PV e defenderam a candidatura própria, assim como rejeitaram o método do vale tudo e da fraude para impor sua visão e seu nome ao partido. Ambos defendem a democracia partidária e o respeito as minorias internas.
A CST incessantemente afirmou que essas são questões de vital importância para o futuro partidário. São pontos de partida com os quais, se conseguirmos ser consequentes, se poderá reafirmar o PSOL e ajudá-lo a retomar o rumo, encarando as divergências políticas num marco fraterno, sem chantagens e fracionalismo permanente.
Para fortalecer a unidade, votaremos Plínio Presidente
Para fortalecer esta perspectiva, e reconhecendo hoje nossa votação minoritária, a CST decidiu retirar sua candidatura, materializada no companheiro Babá, agradecendo a toda a militância o apoio e o carinho demonstrado, para chamar à delegação que nos representa a votar na candidatura do companheiro Plínio.
Estamos seguros e confiantes ao dar este passo. Assim, podemos fortalecer a candidatura que é, hoje, majoritária na base do partido, e melhor pode unificá-lo. Assim poderemos fomentar uma campanha eleitoral que apresente o PSOL, suas propostas e candidatos, sem subterfúgios e sem necessidade de pactos e acordos espúrios que só debilitarão a luta por construir uma ferramenta política de classe para os trabalhadores.
Damos este passo para fortalecer uma alternativa unitária. Para junto com Plínio lutar por uma política que denuncie a falsa polarização que pretendem apresentar entre Dilma e Serra e, igualmente, alertar que Marina não é alternativa, mas continuidade. Estamos com Plínio Presidente para apresentar uma opção que não se renda à popularidade do Presidente, que denuncie a gigantesca crise social do Brasil de Lula, como vemos, agora, em Niterói. Para que nosso candidato chame o povo a lutar e se mobilizar em busca de soluções de fundo, que coloque nossa campanha eleitoral a serviço das necessidades do povo brasileiro e não de projetos de poder e prestígio individual.
Ao lado de Plínio desejamos conformar a Frente de Esquerda (PSTU, PCB e os movimento sociais classistas) como nosso único arco de aliança em todo o país; construir uma nova ferramenta de luta para a classe trabalhadora por meio do CONCLAT e fortalecer as lutas populares.
Conjuntamente desejamos rechaçar o dinheiro da patronal nas campanhas do PSOL e garantir que não existam campanhas estadualizadas e nem “dobradinhas” informais com Marina-PV.
Votamos no camarada Plínio para seguir defendendo a CPI da dívida impulsionada pelo PSOL, a auditoria com suspensão do pagamento dos juros e amortizações, canalizado esses recursos para as áreas sociais. Para combater a falsa democracia dos ricos e da corrupção, com seus mensalões e compra de legendas por meio do financiamento privado de campanha. Para conquistar soberania nacional, combatendo o sub-imperialismo das multinacionais e do governo do Lula e reestatizando setores estrategicos de nosso economia.
Corrente Socialista dos Trabalhadores – 10 de Abril de 2010