Um acordo que legitima o golpe e a fraude eleitoral

HONDURAS |

No dia 30 de outubro foi firmado acordo apresentado como uma “solução” e como a “restituição da ordem constitucional”, em Honduras. Com o acordo implementado por Thomas Shannon, Zelaya voltaria à presidência. Mas seu retorno não tem prazo. Está, inclusive, condicionado à vontade do Congresso e do Supremo Tribunal, justamente os que deram o golpe! Entretanto, o acordo “legaliza” as eleições organizadas pelos golpistas para 29 de novembro. Fala-se em “governo conjunto” e se estabelece que não haja Assembleia Constituinte.

Este acordo é uma piada de mau gosto para o mundo e para o povo hondurenho. O presidente Manuel Zelaya ao assinar este acordo converteu-se em cúmplice da manobra imperialista e dos golpistas. Tudo isso em troca de nada concreto. Sua restituição ao poder, exigida pelo povo, agora é apenas uma possibilidade, não uma garantia. O Congresso, que para dar o golpe se reuniu com urgência após o seqüestro e expulsão de Zelaya, para “aceitar a renúncia do presidente”, agora diz que não sabe quando se reunirá.

A restituição de Zelaya fica subordinada à vontade do Congresso dominado pelos empresários, advogados das multinacionais e latifundiários golpistas. Como já falaram, ela poderia não ocorrer ou só ocorrer após as eleições.

Enquanto isso, ambas as partes avalizariam as eleições fraudulentas organizadas pelos golpistas, sendo que os candidatos do Partido Liberal e do Partido Nacional fizeram parte do golpe. No melhor dos casos, Zelaya voltaria para legalizar a armadilha eleitoral.

Infelizmente a direção da Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe de Estado avalizou plenamente o acordo e declarou: “Celebramos como una vitória popular sobre os interesses mesquinhos da oligarquia golpista a próxima restituição do presidente Manuel Zelaya Rosales. Esta vitória foi obtida com mais de quatro meses de luta e sacrifício do povo… Exigimos que os acordos que se assinem na mesa de negociação tenham expediente rápido no Congresso Nacional”,

Uma dura Lição

A maioria do povo hondurenho se opôs ao golpe e centenas de milhares se mobilizaram. O povo fez greves, cortes de estradas e ocupação de bairros populares desafiando a repressão e os toques de recolher. Pagou com 21 mortos, centenas de presos e feridos. Se não conseguiu derrotar os golpistas foi, fundamentalmente, pela política do próprio Zelaya: atrelar as mobilizações a uma negociação que só podia favorecer ao inimigo, fazendo com que ganhasse mais tempo.

Obama disse atuar “pela democracia”, mas, na realidade, sustentou os golpistas. O interesse do imperialismo, da OEA e ,especialmente de Lula, estava centrado em desmontar a mobilização popular mediante a política dos acordos.

Zelaya atuou aceitando esta política imperialista a partir do momento em que concordou com a proposta do presidente da Costa Rica, Oscar Arias, ditada por Hillary Clinton, no mês de julho; o denominado “Pacto de São José” que os golpistas não tinham aceitado no momento. A volta de Zelaya e o refúgio na embaixada brasileira estava dentro da margem do acordo. Em síntese, o pacto agora aprovado foi imposto por Obama e apoiado por Lula.

A verdadeira razão pela qual Zelaya seguiu esta política imperialista é porque se trata de um político tradicional, latifundiário que só propõe algumas reformas, mas de maneira alguma alentou verdadeiramente a mobilização popular por uma mudança de fundo que coloca-se em perigo o capitalismo e o domínio do latifúndio. A direção da Frente de Resistência ao se atrelar a esta política, terminou desmobilizando o povo que começou a esperar que a OEA ou os EUA conseguissem o “acordo”.

A luta continua

A situação ainda é incerta. O povo hondurenho não foi derrotado. Quem se rendeu foi Zelaya. Poderia romper-se o acordo pela negativa do Congresso de restituir Zelaya e pela própria indignação popular diante da fraude. Em qualquer caso, é muito importante que a própria militância combativa chame a Frente da Resistência a continuar a luta contra os golpistas e pela plena restituição de Zelaya, rompendo assim com o acordo imperialista, e para que convoque o boicote eleitoral e mantenha a luta pela Assembléia Constituinte que é uma de suas principais bandeiras.

É muito importante também esclarecer, internacionalmente, o que está acontecendo e manter a solidariedade internacional com a luta do povo hondurenho até a derrota dos golpistas.