UNASUL aceitou às bases e esqueceu Honduras

| Miguel Lamas

A reunião da Unasul com todos os governos sul americanos, realizada em Bariloche (Argentina) na sexta feira 28 de agosto, para discutir sobre as bases militares norteamericanas na Colômbia, acabou em uma vergonhosa capitulação de todos os governos a Uribe e ao imperialismo. A declaração final, assinada por todos, nem fala das bases ianques e não menciona a Honduras.

Durante sete horas os presidentes latino americanos discursaram. Lula foi quem propôs o centro da declaração que finalmente saiu, ainda que estivesse de mau humor porque se falava muito e ademais o evento era televisado em vivo e direto. Evo reafirmou sua posição de que deveria se acordar uma declaração contra as bases militares. Chávez denunciou os EUA e sua intenção de levar as riquezas do continente. Cristina Kirchner fez de tudo para que a reunião saísse “bem” e chegou ao cumulo quando correu atrás de Uribe quando este não queria sair na foto. O presidente colombiano se deu ao luxo de exigir que tudo fosse televisado e de “explicar” que as bases eram só para combater “o narcotráfico e o terrorismo”.

“Sai com batatas fritas”

Foi a frase de Cristina (um argentinismo equivalente a dizer “sai tudo bem, direito e fácil”) contenta porque foi aprovada a declaração comum por unanimidade. Um dos parágrafos diz: “Reafirmar que a presença de forças militares estrangeiras não pode ameaçar a soberania e integridade de qualquer nação sul americana e em conseqüência a paz e segurança da região”. Como que não pode ameaçar a soberania? Por acaso não foi esta a denuncia que fizeram Chávez, Evo, Correa e até o próprio Lula, que as bases estavam ameaçando a soberania? Cristina afirmou que “As características das bases, de acordo com a leitura do documento do Comando Sul tem a ver mais com guerras convencionais que com luta contra o narcotráfico e o terrorismo”. Mas depois todos assinaram! Ou enlouqueceram ou foram convencidos por Uribe. O resultado real é que assinaram aceitando a presença militar de forças estrangeiras, ou seja: aprovaram as bases! Não só assinaram, mais depois elogiaram o texto. Correia disse que “A reunião foi um êxito rotundo frente ao delicado tema que tínhamos para tratar”. E reafirmou que todo acabou “em muita harmonia”.

E Chávez, em um aparente ataque de amnésia, disse: “Foi um grande passo para a paz”. O Jornal argentino “ La Nación ” agrega: “Especulou-se que a conversa fechada entre Chávez e Lula, antes da cúpula, serviu para aplacar os ânimos”.

Mas se ainda não bastasse, todos se comprometeram a lutar juntos “contra o terrorismo”, conceito que em boca de Uribe e do império, abrange todos os que resistem o capitalismo.

Não chama a atenção que isto aconteça com Lula, Cristina Kirchner ou Bachelet, pela sua permanente política pró imperialista. Com mais razão que também assina Alan Garcia; isso não surpreende. Mas muitos esperavam de Chávez, Evo e Correa outra atitude. Esta capitulação a Uribe e ao império mostra seus limites. São governos de relativa independência, conquistada pela luta revolucionária de seus povos, mas que tem a concepção de coexistir com o imperialismo e suas multinacionais e não de romper com eles.

Honduras ausente

Indigna o que assinaram e também o que “esqueceram”. Honduras nem foi mencionada na declaração. A “luta contra o terrorismo” é uma coisa diferente, para estes presidentes, que lutar contra os golpistas de Honduras. Os governos da UNASUL ignoraram olimpicamente a situação de Honduras, onde o povo continua em luta de resistência há dois meses e os golpistas se sustentam pelo apoio ianque. É verdade que Honduras não pertence à UNASUL, mas é evidente que o acontecido nesse país afeta é constitui uma ameaça para todos os países da América Latina.

Mobilizar por Honduras e contra as bases

Sem dúvida existe indignação em setores populares que vem como Uribe e os golpistas hondurenhos conseguem seus objetivos, quando existe uma força imensa para enfrentá-los.

Por isso é necessário que todos os dirigentes sindicais, sociais, camponeses exijamos de Evo, Chávez e Correa, como dirigentes respeitados por milhões no continente e que tem um discurso antiimperialista, que denunciaram as bases e o golpe em Honduras, que deixem de assinar acordos com Uribe e se coloquem à frente, junto com o governo cubano, de uma poderosa mobilização continental contra as bases na Colômbia e em apoio ao povo hondurenho para que sejam derrocados os golpistas. Um chamado destas lideranças poderia mobilizar milhões frente às embaixadas e consulados ianques exigindo sua saída da América Latina, basta de bases, basta de pactos militares, basta de intervenção no Haiti com tropas latino americanas para reprimir seu povo e defender multinacionais ianques, fora ianques de Guantánamo e ingleses de Malvinas! Fora imperialismo da América Latina! Todas as correntes que nos reivindicamos antiimperialistas devemos nos unir neste objetivo para defender a soberania e a liberdade de nossos povos.

30/08/2009