Acerca da conferência sobre a Venezuela em Bogotá. Maduro e seu pacote de ajuste serão derrotados com a mobilização operária e popular
Por Partido Socialismo e Liberdade (PSL)
Em 28 de março, o presidente colombiano Gustavo Petro convocou uma conferência internacional sobre o processo político na Venezuela, com o apoio dos governos de Joe Biden e Nicolás Maduro. A nova tentativa de reativar a negociação de cúpula entre o governo autoritário e anti-operário de Maduro e setores da oposição patronal ocorreu ontem, 25 de abril.
A referida conferência contou com a presença de representantes dos governos da Argentina, Barbados, Bolívia, Brasil, Chile, Honduras, México, São Vicente e Granadinas, Turquia, África do Sul, Canadá, Alemanha, Espanha, França, Itália, Noruega, Portugal e Reino Unido, bem como do Alto Representante para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança da União Europeia.
Tal conferência internacional não teve nada a ver com os interesses e necessidades mais prementes do povo trabalhador venezuelano. Nada de bom para o povo venezuelano resultou dela. Ela terminou sem dor nem glória, sem trazer nada de novo ao que já se sabia. Apesar de discutir a situação de um país em que se ganha salários miseráveis, de menos de US$ 6, a questão da renda dos/as trabalhadores/as não fez parte da sua agenda. Nada foi dito sobre a destruição dos serviços públicos, da indústria petrolífera e das empresas de base, que estão no chão, muito menos sobre a monumental corrupção acumulada em duas décadas de chavismo, que explicam a tragédia social que sofremos. Também não foi discutida a situação dos/as trabalhadores/as presos/as por protestar ou enfrentar a corrupção.
Foi um encontro em que governos burgueses e imperialistas e do falso progressismo – muitos dos quais aplicam ajustes contra seus povos – só se ocuparam do que lhes interessa: o processo eleitoral do ano que vem e o restabelecimento das negociações, que vinham se desenvolvendo no México, entre o governo Maduro e a oposição patronal.
A conferência deixou claro que a negociação de cúpula é um beco sem saída para derrotar Maduro, recuperar as liberdades democráticas e melhorar as condições de vida do povo trabalhador venezuelano. A única forma de derrotar o pacote de ajuste capitalista de Maduro é com a luta e mobilização dos trabalhadores, das trabalhadoras e do povo.
Antes mesmo de acontecer, já se sabia para que direção a conferência apontaria. Isso ficou evidente com a visita de Petro aos EUA. Ele chegou lá propondo o fim progressivo das sanções econômicas, conforme o governo Maduro fosse cumprindo o cronograma para as eleições presidenciais. Porém, após reunião com Biden, assumiu a posição do imperialismo ianque e defendeu que as sanções econômicas só deveriam ser suspensas após as eleições presidenciais democráticas. Nós, do Partido Socialismo e Liberdade, repudiamos as sanções, que afetam apenas o povo venezuelano, e exigimos que sejam eliminadas imediatamente.
Isso deixou claro o duplo discurso e o oportunismo de Petro como mediador. E que teria continuidade a política imperialista dos EUA, que defende a manutenção das sanções econômicas e o confisco de recursos do Estado venezuelano – que, como já dissemos, só afetam o povo trabalhador de nosso país. Nesse sentido, depois de inicialmente anunciar a participação de Anthony Blinken, chefe do Departamento de Estado, Joe Biden designou um funcionário de segundo escalão para acompanhar a conferência internacional em Bogotá.
Consequentemente, e em meio às tensões dentro do governo devido ao escândalo de corrupção do setor chavista de Tareck El Aissami, Maduro decidiu voltar atrás e aumentar suas reivindicações para a conferência internacional em Bogotá, incluindo a liberdade de Álex Saab, a suspensão da investigação do Tribunal Penal Internacional e o fim das sanções pessoais e econômicas. Foi por isso que Maduro, que ia viajar, acabou desistindo de ir à capital colombiana para se encontrar com um funcionário de segundo escalão dos Estados Unidos.
Por sua vez, enquanto uma delegação da oposição patronal se reunia com o ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Álvaro Leyva, o líder da Voluntad Popular, Juan Guaidó, decidiu viajar à Colômbia para supostamente participar da conferência internacional em Bogotá, apesar de não ter sido convidado. Já ficou claro que tudo não passou de uma operação previamente organizada para deixar o país e se exilar nos Estados Unidos. Isso demonstra as divisões dentro da oposição patronal e a possível pressão dos governos dos EUA e da Venezuela para desbloquear a nova tentativa de reabrir as negociações entre o governo da carestia e da repressão de Maduro e os partidos da oposição patronal e pró-imperialista.
Nós, do Partido Socialismo e Liberdade, continuamos defendendo que a única forma de derrotar Maduro e seu pacote de ajuste é com a mobilização operária e popular. Não podemos confiar nesses diálogos e negociações entre o governo, os partidos patronais, os países imperialistas e os governantes burgueses. Por isso, o PSL conclama os/as professores/as, que vinham se mobilizando, a retomar a luta nas ruas por um salário igual à cesta básica e em defesa dos contratos coletivos. Convocamos os trabalhadores e as trabalhadoras do setor público, os aposentados e os trabalhadores das empresas privadas a lutarem contra o memorando 2792, contra as Instruções da Onapre, contra o abono salarial e pela liberdade dos/as trabalhadores/as presos/as. Chamamos os moradores das comunidades populares a lutar por melhores serviços públicos, por verbas para erradicar a violência contra a mulher e por um plano operário e popular alternativo ao pacote governamental, na perspectiva de lutar por um governo dos trabalhadores e do povo.
Caracas, 25 de abril de 2023.